Outro ditado muito usado era um tanto
apelativo na sua formulação, o que não nos surpreendia devido a origem
carcamana da nossa mãe: “Quem muito se abaixa o c...se lhe aparece”, assim
mesmo, com o pronome colocado de forma saliente. Era o jeito dela nos ensinar que humildade
demais expressa menos virtude do que expõe defeitos.
Orgulhosa da sua prole era dada a exageros (
“não tenho filhos feios”, repetia sempre) e quando aparecia uma pretendente que não correspondia
a seus padrões estéticos declarava enfática: "Quem ama o feio bonito lhe
parece”, agora com o pronome mais bem situado. Não sei se as circunstâncias eram essas mesmo,
mas bem que correspondem ao estilo thelistico, como o apelidamos.
Confesso agora que neste momento
desempenho o papel de filho indigno, uma pessoa abjeta mesmo, ao usar a saudosa
dona Thelia para tergiversar sobre o momento politico atual, o que nada tem a ver com o histórico e o legado
de uma grande dama.
Assim, resgato o "Quem ama o feio, bonito lhe parece". É isso. A devoção
causada pelo amor leva a veneração, que distorce a realidade, transforma o feio
em bonito, realimenta a adoração e pode virar uma obsessão. Na vida e na ficção.
O filme O Amor é Cego retrata bem esse
processo. O personagem de Jack Black, sob efeito de hipnose, se apaixona por
Rosemary ( Gwyneth Paltrow ), uma mulher obesa que é vista por ele como se
fosse uma verdadeira deusa. Um dia, porém, o efeito da hipnose passa e é
preciso encarar a realidade.Esse encontro com a realidade, o fim do encantamento, é um momento dramático para os que o enfrentam, embora muitos prefiram se manter alienados ainda, dando sobrevida à falsidade.
Imagino que seja isso o que está
acontecendo agora com a militância de certo campo partidário da esquerda cujas
principais lideranças deixaram de ser belos exemplos de patronos de novos
tempos para se transformarem em obesos representantes do que existe de mais
sujo no âmbito dos poderes. Para muitos, acabou o mito, mas alguns ainda
acreditam que sua crença está acima do bem e do mal. Acho
que estou sendo bastante claro e não é preciso alongar mais a questão.
"Quanto maior a obsessão, maior a
frustração". Por certo essa seria a frase clichê da dona Thelia para o caso.
Para não ser injusto permito me reproduzir
uma postagem no Facebook da minha amiga Andrea Back, que tem a ver com o que foi exposto e que assino embaixo:
Aqui, onde corrupção é um projeto coletivo,
pluripartidário e histórico (talvez a única política pública com
continuidade...) seria gentileza do lado oposto - seja de qual lado você está
vendo a situação - dar o mérito de tanta roubalheira e canalhice a uma legenda,
um líder. Fato: alguns tiveram mais talento na pilhagem.... Mas acredito q o
caminho para finalmente reverter esta lógica é o trabalho e a autonomia das
instituições, para que seja feito o serviço Completo.
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