Sábado a tarde é sagrado: a Santa e eu vamos ao
supermercado fazer o rancho. É a forma
de zelar pelo meu parco e duramente conquistado dinheiro e também de frequentar
as gôndolas de cervejas, vinhos e carnes a cata dos melhores preços, que nem
sempre estão nos produtos de qualidade inferior.
Nas andanças
pelos corredores também sou dado a apreciar
aqueles tipos femininos, cada vez mais escassos, envergando um bonito jeans e
de salto alto, a passear com seus
carrinho cheio de especiarias. Agora até fiquei mais comedido nesse olhar
diferenciado porque tempos atrás um marido mais atento me deu um flagra:
- E aí, gostou do que está vendo?, questionou com
voz forte e olhar firme.
Não perdi a compostura, mas como sou de paz e o
maridão era do tipo “fortão de academia”, deixei por isso mesmo, apenas acrescentando:
- Que isso? Não é o que tu está pensando...
E me fui, como no célebre causo aquele, nem tão
rápido que parecesse fuga e nem tão devagar que parecesse provocação. Quero crer que foi um incidente sem maior
importância na minha trajetória de frequentador de supermercados. Já passei por
situações piores. Outro dia fui
desacompanhado ao super com a listinha de compras que, além do básico, continha
aquela infinidade de produtos para limpeza, que consomem boa parte dos meus
ganhos. E sofri muito para encontrar o que constava na lista.
É inacreditável o que a indústria produz e o
comércio nos induz a comprar. Coisas como detergente para louça, com glicerina,
aromas de côco, menta e avelã; limpador
de uso geral para banheiros, sem cloro, mas com X 14(?!), aromas de lavanda, floral,
crisântemos e até o neutro; limpador com
brilho para multipisos, “nova fragrância e perfume suave de longa duração”; lava-louça em pastilhas, “o primeiro em
pastilhas”, para “máquinas de lavar-louça”, conforme escrito na embalagem ;
limpa vidros, “limpa, desengordura e dá brilho”, com Ayrton Senna de garoto
propaganda !; sabão em pó com cápsulas de perfume, aroma de hortênsias e flores
brancas; amaciante de roupas, também com
cápsulas, “novo, mais perfume por muito mais tempo” e por aí vai . Menos mal que
a Clorofina sempre reconheço e não preciso pedir ajuda aos rapazes que estão
repondo os produtos.
Mas vexame maior passei outro dia no setor de frutas
e hortaliças. Na listinha da Santa dizia
“legumes” e instintivamente coloquei no carrinho brócolis e couve-flor, mas
fiquei em duvida se brócolis e couve-flor não seriam verduras (brócolis é verde,
não?!), já que frutas tinha certeza de
que não eram. Discretamente perguntei a uma
moça que circulava por ali, apontando para as compras:
- Legumes é isso aqui?
Diante da assertiva da moça, que me poupou de um
risinho irônico, sai mais tranquilo, mas com a certeza de que não sou o único homem
que passa essas desventuras no supermercado.
Vejo nisso um nicho de empreendedorismo: quem se habilita a oferecer seus serviços como
personal customer aos senhores que vão ao supermercado com listinhas na mão?
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