sábado, 8 de junho de 2013

Os interruptores

Encontrei outro dia um antigo companheiro daquelas tantas confrarias que um dia frequentei. Por razões que desconheço, e já referi essa situação aqui, meus confrades de outrora me tiram para confessionário e com o parceiro desse encontro não foi diferente. Depois da sessão de cinismo inicial, em que cada um jurou que o outro estava em grande forma ("Me dá tua receita pra não envelhecer", insisti, como sempre faço), o  ex-confrade abriu um largo sorriso e com um jeito ligeiramente blasé, disparou:

- Estou de namorada nova e a moça é uma máquina, uma máquina, repetiu.
Ao invés de celebrar a conquista do velho companheiro de tantas batalhas etilicogastronômicas, confesso que fiquei com inveja. Ainda bem que ele não percebeu o meu sentimento perverso, porque logo em seguida desandou a falar em tom queixoso:

- O problema é que na hora do bem-bom tenho sido sistematicamente interrompido por telefonemas de colegas nesta praga que é o celular.

Homem de responsabilidade na firma em que atua profissionalmente, o parceiro não resiste, e no terceiro toque já está atendendo o celular, independente do estágio em que esteja da saliência.

- Sabe como é, pode ser alguma coisa urgente, justifica ele.

Mas completa, pesaroso: “O problema é que a retomada é tão mais difícil....”

Aí fiquei com remorso por causa da inveja anterior. O parceiro estava sendo vítima de uma nova categoria: Os interruptores, agentes de uma forma de bulling sexual, também conhecidos como “os empatadores”.
Na real, são pessoas do bem, mas incluídos na categoria que mais cresce no mundo moderno: os Sem noção.

- O campeão em interrupções é o chefe do jurídico, que me liga sempre quando já consegui engrenar. Acho que como ele não pratica mais agora esta atrapalhando a transa dos outros.

O ranking dos maiores interruptores inclui o vice-presidente, o diretor de marketing e meia duzia de  colegas do mesmo nível, incluindo aquela moça mais expansiva também do marketing.

 A nova namorada estranha a insistência com que ele é procurado, mas tem sido pacenciosa mesmo com as interrupções.  "Mas até quando?", angustia-se ele.

Foi nessa fase da conversa que me comovi e assumi uma atitude solidária com o amigo. Deveria haver uma punição severa para os interruptores. Algo como assistir na primeira fila ao show de Michel Teló ou participar da Dança dos Famosos com a Suzana Vieira ou ser obrigado a torcer para o Ibis.  Interrupção já, aos interruptores.



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