domingo, 2 de junho de 2013
Expresso da Alegria
Sei lá, acho que estou ficando velho e nostálgico, quase melancólico. Foi o que me ocorreu ao ver a foto postada no Face pelo jornalista e amigo Caco Belmonte, onde aparece o time de futsal da Rádio Guaíba, nos idos da década de 70, posando antes de um torneio da Associação de Cronistas, a ACEG. Ali aparecem o Belmonte, pai do Caco e do Roberto - os dois mascotes da foto -, o falecido Lupi Martins, grande conquistador, e seu irmão Lasier, ainda com cabelos, e agachados este blogueiro na sua versão grunge, o craque Clóvis Rezende e o meu compadre Edegar Schmidt. As camisas eram em verde e branco para ninguém nos acusar de gremismo ou coloradismo.
Vou ser bem sincero: este time era muito ruim, apenas o Belmonte, com seu chute potente e o Clóvis com seus dribles infernais (até perder a bola e armar os contra-ataques...), jogavam alguma coisa. Mas foi o embrião de uma afamada equipe montada pela determinação do Érico Sauer, o Expresso da Alegria, que se apresentou em mais de 100 cidades gaúchas às sextas-feiras e eventualmente aos sábados.
Funcionava assim: a prefeitura interiorana ou uma entidade assistencial fazia o convite, concordando em pagar as despesas de deslocamento em micro ônibus e se ressarcia no evento beneficente em que se transformavam os jogos com equipes locais. A Guaíba era um canhão na época e a presença do Expresso lotava ginásios por todo o interior. A exigência dos promotores era sempre pela presença do Lauro Quadros, que não jogava nada, mas enchia os ginásios, dava autógrafos e entrevistas como nunca e posava para fotos com madrinhas de festas, autoridades e gurizada em geral. Jogo sem Lauro era duro de explicar e certa vez em uma vinícola de Garibaldi fomos vaiados do começo ao fim e ainda levamos um balaio de gols. Nessa ocasiões só o que nos salvava era a sessão de piadas contadas pelo Clóvis Rezende após as churrascadas e jantares que nos ofereciam.
Históricas gloriosas aconteceram nas excursões do Expresso. Certa vez fomos a Santa Rosa e como a distância era grande exigimos avião para o deslocamento e foi num Navajo que seguimos até lá, jogamos num sabado à tarde e retornamos antes do anoitecer, com ameaça de muita chuva. O Lauro Quadros ficou verde e os outros mortais não escondiam a apreensão, menos o Érico, que na terceira dose de Campari, não estava nem ai para as ameaçadoras cumulus nimbus que nos acompanharam de Santa Rosa à Porto Alegre. Em outra ocasião, inauguramos o ginásio municipal de Nova Prata sob um frio de zero grau e a equipe ainda não tinha abrigos. Quase morremos de frio e os abrigos foram providenciados para os jogos seguintes. Em Osório, jogamos num velho ginásio que tinha um degrau na quadra e levamos um saco de gols do adversário comandado pelos irmãos Benfica.
O Erico era um figuraço. Plantão de estúdio dos bons, com seu sotaque de alemão do Vale do Taquari, valia uma enciclopédia pelos histórias e gafes que protagonizou, especialmente no período em que bebia todas - depois virou abstêmio. Zagueirão do Estrela em tempos idos, no Expresso atuava como goleiro, depois técnico e sempre como cartola.
No auge do Expresso, o técnico passou a ser o Agomar Martins, que recém havia abandonado a arbitragem e era uma atração extra no interior. O time base na época era formado pelo Pedro Boleiro, que também era o motorista do micro que nos conduzia, o falecido Zé Krebs , chefe da técnica da Guaíba, este que vos fala, Clóvis Rezende e ou Laerte de Francheschi e ou Lauro Quadros. Também participavam o Flávio Martins, eventualmente o Belmonte e quando o adversário era muito forte convocávamos o Adauri Silveira (hoje na Ampla Eventos), que era jovem e jogava muito.
Em varias incursões levávamos nossas mulheres e até filhos, como o Lauro que se fazia acompanhar da Laurinha, com seus oito ou nove anos e que era a nossa pequena princesa. Como se vê, era uma indiada família. Melhor que o jogo era a confraternização após. Grandes churrascadas, muitas homenagens e dependendo do local, ótimos mimos para os visitantes.
Minha despedida do Expresso foi em 1983 num jogo em Taquari onde reinava o promotor Cláudio Britto, presente no ginásio do jogo. Ao final, recebi todo o uniforme, ainda suado, como lembrança, e confesso que fiquei engasgado. Nunca mais viveria aquela alegria do Expresso, com o perdão do trocadilho, e o carinho, mostrados de forma direta e espontânea, pelos ouvintes da Guaíba. Mas até hoje guardo aquela camisa verde que será peça fundamental no futuro Memorial Flávio Dutra.
* Em memoria aos que nos deixaram tão cedo.
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Por essas e outras é que não me arrependo de não jogar nada...
ResponderExcluirDoces lembranças, uma época inesquecível. Era uma grande família. Lembro de ter ido a quase todas as partidas, o meu pai ( Érico Sauer)era um verdadeiro organizador e o mestre de cerimônias. Quando estava em quadra tinha um potente chute de direita. As piadas do Clóvis eram ótimas, mas sempre as mesmas(he,he). Quando chegávamos nas cidades era uma grande festa com foguetório e carreatas. Os ginásios sempre lotavam.Volta e meia a esposa do Lauro, do Clóvis e do Krebs também iam. Uma verdadeira família. Um grande abraço Flávio, do amigo Sandro Sauer.
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