domingo, 12 de maio de 2013

A guerra das imaginações e outras obras primas

Alguns livros marcam a vida da gente de forma definitiva. São  aqueles que vale a pena ler de novo e que se levaria para uma ilha deserta junto com seu bem querer, ou que provocaram grande mudanças nas nossas vidas.  Amigos mais intelectualizados adoram citar Guimarães Rosa, Joyce, quanto mais indecifráveis melhor, ou  Borges , que tem meu voto, ou ainda aqueles russos chatos.

Leitor  voraz que já fui sou bem mais modesto na minha seleção,  que começa com a Cartilha Sodré, que me alfabetizou no colégio das freiras em Petrópolis.  A lista se completa com mais  livros que foram marcantes e indicaria sem hesitar.  Fui impactado, por exemplo, por Eu Robo, de Isaac Asimov, que apresentou as Três leis da Robótica, quando o termo ainda era palavrão: 1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e/ou a Segunda Lei.Simples e genial, não?
 
Eu, Robo acabou virando filme, estrelado por Will Smith,  mas pro meu gosto sem o mesmo deslumbramento do livro. Na mesma linha o profético 1984 e seu Grande Irmão, de George Orwell, foi como uma sacudida no guri que o leu cerca de 15 anos antes da data que acabou não se consumando com o previra o autor.
 
Depois, já na faculdade, tive acesso a um dos livros que mais gosto de referir, Macaco Nu, de Desmond Morris, um ensaio antropológico que nos leva a entender um pouco mais sobre o estágio atual da civilização e do comportamento humano. Para esse entendimento, uma frase da obra basta : " (...)apesar de se ter tornado tão erudito, o Homo Sapiens não deixou de ser um macaco pelado.”

É o macaco pelado em toda a sua magnitude e pequenez que aparece na última obra literária que recomendaria e que me chegou as mãos, anos atrás, pela indicação da amiga Lena Ruduit: A Guerra das Imaginações, de Doc Comparato. A sinopse clássica dá conta de que a obra trata de  “Assasinatos, maldições e prazeres criando a obra de arte mais importante do milênio - essa é em essência a trama inovadora deste livro. Por volta do ano 1500, estranhos e inusitados fatos ligaram uma disputa pelo poder no Vaticano ao descobrimento de uma terra paradisíaca”.

Mas A Guerra das Imaginações é mais do que isso. Comparato parece antecipar os escândalos que agora atormentam a Santa Sé e que teriam provocado a renuncia de Bento XVI.  Com a experiência de autor de telenovelas, ele mistura ações aparentemente desconexas que acabam se juntando para formar um mosaico daqueles anos entre os séculos XV e XVI Isso  revela porque os portugueses aparecem com destaque no livro,  em vários cantos do mundo, não medindo esforços para obter os preciosos mapas que garantiriam uma navegação mais segura. Com os tais mapas, mais o domínio da navegação pelas estrelas e as rápidas caravelas, o pequeno país ibérico conquistou grandes quantidades de terras além mar, incluindo o nosso Brasil – que o livro sugere ser o paraíso na terra pelo menos na compreensão dos navegadores que retornavam do Novo Mundo. Uma leitura fascinante, que recomendo.

Ah, bons tempos em que me dedicava mais à leitura e menos ao Facebook.

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