Alguns livros marcam a vida da gente de forma definitiva.
São aqueles que vale a pena ler de novo
e que se levaria para uma ilha deserta junto com seu bem querer, ou que provocaram grande mudanças nas nossas vidas. Amigos mais intelectualizados adoram citar
Guimarães Rosa, Joyce, quanto mais indecifráveis melhor, ou Borges , que tem meu voto, ou ainda aqueles
russos chatos.
Leitor voraz que já fui sou bem mais modesto na minha
seleção, que começa com a Cartilha Sodré,
que me alfabetizou no colégio das freiras em Petrópolis. A lista se completa com mais livros que foram marcantes e indicaria sem
hesitar. Fui impactado, por exemplo, por
Eu Robo, de Isaac Asimov, que apresentou as Três leis da Robótica, quando o
termo ainda era palavrão: 1ª Lei: Um robô não pode ferir
um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.2ª Lei: Um robô deve obedecer
as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais
ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.3ª Lei: Um robô deve proteger
sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a
Primeira e/ou a Segunda Lei.Simples e genial,
não?
Eu, Robo acabou virando filme, estrelado por Will Smith, mas pro meu gosto sem o mesmo deslumbramento
do livro. Na mesma linha o profético 1984 e seu Grande Irmão, de George Orwell,
foi como uma sacudida no guri que o leu cerca de 15 anos antes da data que
acabou não se consumando com o previra o autor.
Depois, já na faculdade, tive
acesso a um dos livros que mais gosto de referir, Macaco Nu, de Desmond Morris,
um ensaio antropológico que nos leva a entender um pouco mais sobre o estágio
atual da civilização e do comportamento humano. Para esse entendimento, uma frase da obra basta : " (...)apesar de se ter
tornado tão erudito, o Homo Sapiens não deixou de ser um macaco pelado.”
É o macaco pelado em toda a sua magnitude e pequenez que
aparece na última obra literária que recomendaria e que me chegou as mãos, anos
atrás, pela indicação da amiga Lena Ruduit: A Guerra das Imaginações, de Doc
Comparato. A sinopse clássica dá conta de que a obra trata de “Assasinatos, maldições e prazeres criando a
obra de arte mais importante do milênio - essa é em essência a trama inovadora
deste livro. Por volta do ano 1500, estranhos e inusitados fatos ligaram uma
disputa pelo poder no Vaticano ao descobrimento de uma terra paradisíaca”.
Mas
A Guerra das Imaginações é mais do que isso. Comparato parece antecipar os
escândalos que agora atormentam a Santa Sé e que teriam provocado a renuncia de
Bento XVI. Com a experiência de autor de
telenovelas, ele mistura ações aparentemente desconexas que acabam se juntando
para formar um mosaico daqueles anos entre os séculos XV e XVI Isso revela
porque os portugueses aparecem com destaque no livro, em vários cantos do mundo, não medindo esforços
para obter os preciosos mapas que garantiriam uma navegação mais segura. Com os
tais mapas, mais o domínio da navegação pelas estrelas e as rápidas caravelas,
o pequeno país ibérico conquistou grandes quantidades de terras além mar,
incluindo o nosso Brasil – que o livro sugere ser o paraíso na terra pelo menos
na compreensão dos navegadores que retornavam do Novo Mundo. Uma leitura
fascinante, que recomendo.
Ah, bons tempos em que me dedicava mais à leitura e menos ao
Facebook.
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