* Publicado em coletiva.net em 27/05/2024
Permitam-me desviar o foco dos desdobramentos do
desastre climático que ainda castiga Porto Alegre e grande parte do Estado, para
tratar de um tema mais leve. Sucede que a
querida e competente editora Mari Bertolucci me enviou um questionário e entre as
perguntas a serem respondidas para a revista digital Ba, apareceu uma
inesperada: se pudesse participar de algum momento histórico, qual seria? Hoje pediria
para voltar a maio de 1941 e conferir como Porto Alegre reagiu à grande
enchente que assolou a cidade naquele ano, mas sem hesitar, respondi anteriormente
que gostaria de ser levado no túnel do tempo para a época em que Cristo pregava
na Judéia e na Galileia.
É preciso esclarecer que não me moveu nenhum
sentimento religioso, mas a curiosidade jornalística para registrar o que
realmente ocorreu naquele período e o destino do pregador que foi considerado
filho de Deus e, com suas lições e seu posterior sacrifício, legou à humanidade
uma corrente de fé que resiste há mais de dois mil anos.
Na incursão àquele tempo, buscaria respostas para
várias indagações que persistem até hoje: Cristo realmente ressuscitou? E
depois, como foi a ascensão ao Céu, se de fato ocorreu? Como se organizaram os apóstolos após a
partidas dele? O que fizeram com o traíra do Judas? E o que aconteceu com as
Marias, a Nossa Senhora, e a Maria
Madalena? Claro que se pudesse arrancaria um depoimento exclusivo de Cristo,
talvez ao final da Última Ceia, antes que os legionários o levassem para
julgamento e crucificação. Aproveitaria para tentar saber se seria possível prever
e prevenir todas as tragédias que a humanidade enfrentaria no futuro, entre
elas as que vivenciamos agora.
É bem verdade que o Novo Testamento nos legou uma
grande reportagem sobre a vida de Cristo, suas pregações e principais feitos. Sempre
tive muita curiosidade, por exemplo, sobre a qualidade do vinho que resultou da
água, no milagre das Bodas de Canaã. É bem verdade também que os quatro
evangelistas – Mateus, Marcos, Lucas e João – não eram isentos, pois faziam
parte do seleto grupo de apóstolos que seguiam o líder por toda a parte. Aliás,
evangelista significa “aquele que proclama boas novas”, ou seja, relata apenas notícias
positivas, como se fosse um competente assessor de imprensa nos dias atuais.
Na volta do passado, se o túnel do tempo não falhasse
como ocorria no seriado com esse título dos anos 1960, aproveitaria para
faturar prestígio e grana, vendendo a história para os canais de streaming produzirem,
pelo menos, uma minissérie. Seria
entrevistado pelo Bial, Porchat me indagaria “Que história é essa?”, Boninho me
convidaria para o BBB, os principais partidos disputariam meu passe para concorrer,
quiçá, até a um cargo majoritário, o Vaticano me convocaria para avaliar
milagres de santos em potencial e sairia mundo afora palestrando sobre o instigante
tema ‘Eu falei com Cristo na Última Ceia”. O cachê seria em dólar ou euros.
Vou encerrar por aqui antes que me acusem de
sacrilégio e a ira divina me transporte para a era dos dinossauros e me
mantenha lá até a chegada daquele meteoro. Ou, o que é pior, mande mais chuva
para o Continente de São Pedro.
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