segunda-feira, 3 de junho de 2024

De volta ao túnel do tempo

* Publicado nesta data em coletiva.net

Quem assina textos com regularidade, como é o meu caso em coletiva.net, surpreende-se, às vezes, com a reação de seus poucos mas fiéis leitores. Aquele texto denso, cheio de ideias inovadoras, com adjetivos e advérbios na medida, em que a gente coloca todas as fichas em termos de repercussão, acaba nos frustrando. Nenhuma interação é o resultado. Já a coluna despretensiosa, sem qualquer argumento que preste, acaba repercutindo muito mais, num misto de alegrias e decepção para o autor. Só que o problema não é a avaliação do leitor, mas a expectativa equivocada do autor.

Agora mesmo publiquei a crônica No túnel do tempo (https://coletiva.net/colunas/no-tunel-do-tempo,441703.jhtml), revelando que gostaria de voltar à época de Cristo e verificar até que ponto os evangelhos do Novo Testamento contaram a verdade sobre a vida e a obra do pregador líder dos apóstolos. Era para ser um texto com tratamento leve, sem qualquer motivação religiosa. Pelo menos essa foi a ideia do autor.  A repercussão ficou acima da esperada, teve até comentário elogioso do prestigiado escritor Liberato Vieira da Cunha.  Cometi, porém, uma incorreção e fui advertido em outro comentário. Coloquei os quatro evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João no primeiro time de apóstolos de Cristo. O leitor Carlos Roberto de Andrade Torres radicalizou ao afirmar que os quatro não eram apóstolos e que talvez os nomes nem fossem esses. A intervenção do caro leitor contém uma meia verdade, se considerarmos que os evangelistas realmente existiram. Tive formação cristã, estudei em colégios religiosos e deveria saber que apenas Mateus e João eram apóstolos, enquanto Lucas e Marcos eram discípulos dos apóstolos, ou seja, não eram integrantes da confraria original de pregadores. Mas acho que não fui um aluno muito aplicado nas aulas de Religião, pois deveria saber também, pelos relatos bíblicos, que os apóstolos foram testemunhas da pregação e dos milagres atribuídos a Cristo, enquanto os discípulos escreveram os seus evangelhos a partir de relatos de terceiros. Lucas, por exemplo, teria se valido das conversas com o convertido Paulo de Tarso, que era uma espécie de mentor dele.

A mais alegórica  e recente celebração aos quatro evangelistas, concluída em 2023, encontra-se na imponente  Basílica da Sagrada  Família, em Barcelona. Na concepção de Antonio Gaudi, são quatro torres, orientadas para os pontos cardeais: Lucas para o Norte, Mateus ao Sul, Marcos ao Oeste e João ao Leste. Internamente na basílica, os evangelistas estão representados como a tradição cristã os simboliza: João como águia, Lucas como touro, Marcos como leão e Mateus por um homem.

Claro que todos esses ensinamentos sobre a importância dos evangelistas para a fé católica não vieram das aulas de Religião nos colégios Santa Inês e Rosário, nem das pregações do padre Alfredo na Paróquia de São Sebastião, do bairro Petrópolis.  A internet está aí para ajudar os maus alunos e os cristãos desgarrados, com a vantagem de não se equivocar nas informações. Por fim, agradeço à interação do atento leitor que garantiu assunto para, pelo menos, mais uma coluna.

 

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