segunda-feira, 12 de setembro de 2022

A relevância do saca-rolhas

*Publicado nesta data em coletiva.net

Fui me meter a falar sobre uma das minhas bebidas preferidas, na coluna intitulada Princípios para a Escolha do Vinho (Princípios para a escolha do vinho - Coletiva.net - Tá todo mundo aqui.), e acabei provocando reações inesperadas.  Um companheiro de outras jornadas disse ter gostado muito do texto, mas me acusou de ser conservador nos meus gostos, talvez porque tenha excluído das  mesas que frequento os vinhos rosê e os suaves. Como me apresentei como enófilo, aquele que gosta de vinhos, minhas preferências, menos baseadas na degustação e mais nas embalagens do produto, muita gente interagiu. Houve quem assumisse minhas referências para  a aquisição e o consumo da bebida e também quem defendesse o abominável vinho em caixinha.

A mais surpreendente intervenção foi da jornalista Ângela Baldino, moça de gostos refinados, grandes conhecimentos vinícolas e ampla inserção social. Pois a categorizada profissional propôs um desafio prosaico: qual o melhor saca-rolhas? Confesso que este equipamento periférico nunca fez parte das minhas preocupações prioritárias, se bem que deveria pela quantidade de rolhas que extrai pela metade, sem contar as que esfarelaram para o interior das garrafa pelo manejo inadequado do utensílio.

A proposta da Ângela tem sua relevância. Afinal, o ritual enofílico começa no enfrentamento entre o saca-rolhas e aquela cortiça que veda as garradas. Um bom vinho, merece um eficiente saca-rolhas.

Já tive de variados tipos, do clássico com dois bracinhos e abridor de garrafas, ao elétrico sem fio. Um caso a parte é o do tipo coelho, com duas hastes que sugerem as orelhas do animal. Este saca-rolhas exige especial habilidade no uso e um tutorial para o encaixe correto na rolha.  O que ganhei de presente durou pouco, ao quebrar uma das orelhas/hastes e me livrar dos vexames nas tentativas de fazê-lo funcionar. Hoje me basta um simplesinho de dois estágios, que ainda possui abridor de garrafas e um mini canivete.

Há quem diga que o saca-rolhas é um símbolo fálico, porque é imbrochável (ou será imbroxável?) e pela ação de penetrar na rolha, que lembra rola, um dos nomes populares do órgão sexual feminino. Mas acho que isso é coisa de quem só pensa naquilo.

Bobagens a parte, cada vez que faço um esforço para abrir uma garrafa de vinho lembro do meu pai que, na falta do utensilio em tempos idos, conseguia extrair a rolha batendo o vasilhame contra a parede, com um pano ou uma toalha no fundo.. O interior do sapato também funcionava nessa operação. Porém, não recomendo repeti-la porque o resultado pode ser desastroso para quem não herdou a destreza do coronel Dastro, que é o meu caso.

Para concluir, já que estamos tratando desses assuntos vinícolas com bom humor, e atendendo a pauta proposta pela Ângela Baldino,  vou tentar reproduzir  em texto um card que recebi de um colaborador:

Três senhorinhas estão a mesa, entornando um tinto, quando uma delas, já inebriada pela bebida, proclama:

- A VERDADE está no vinho!

- Sim, mas não sabemos em que garrafa. Então vamos abrir mais esta! – completa outra parceira, com o saca-rolhas à mão e rolha já extraída.

Nestes tempos conturbados, felicidade é isso: um saca-rolhas em ação.

 

 

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