* Publicado nesta data em coletiva.net
Depois de muitas batalhas
eleitorais, atuando na cobertura pela mídia ou nas estruturas de campanha,
desta vez estou fora de qualquer processo. Mas até pelo meu envolvimento em
campanhas anteriores, sou fixado nos conteúdos e na forma como são expressos pelas
candidaturas, constituindo-se nas peças de campanha. Vai daí que não resisto em sustentar duas ou
três teses, todas eles sem qualquer base científica, mas baseadas em situações
reais, a saber:
Jingle não ganha eleição
Não conheço um eleitor sequer que
tenha decidido seu voto por ouvir o jingle deste ou daquele candidato. Jingle,
com suas rimas ricas ou pobres e seus refrões chicletes, é uma assinatura
musical e serve apenas para animar a militância. Chamo a atenção de produções
até hoje lembradas, mas de campanhas
fracassadas. Exemplos não faltam: o jingle de Paulo Odone, candidato à prefeito
de Porto Alegre em 1996 pelo então PMDB ( “Porto Alegre é Paulo Odone/Porto
Alegre somos nós/ Nossa força, nossa voz”, com bela interpretação de Elaine Geissler);
o jingle de Aldo Pinto, na campanha ao Piratini, em 1986 (“Eu vou de Aldo/ Eu
Vou de Aldo/ Eu vou de Aldo pra governador”, composto por Hermes Aquino).
Resultado das urnas: Odone ficou em quinto lugar e Raul Pont venceu a eleição
no primeiro turno; e Aldo Pinto amargou a derrota para Pedro Simon. Quem lembra
das musiquinhas do Pont e do Simon? Mas o caso mais emblemático é o “Lula
lá - Sem Medo de Ser Feliz “ que embalou
três campanhas derrotadas de Lula e se mantém vivo até hoje, enquanto ninguém
lembra os jingles dos vencedores de 1989 (Collor) e 94 e 98 (FHC). E tem outro
caso célebre, o do jingle usado pelo candidato José Maria Eymael desde 1985 ,
(“Ei,Ei, Eymael/Um democrata cristão”). tão primário que virou um clássico, só
que não ajuda o candidato a sair do traço nas pesquisas eleitorais. A
propósito, que safra ruim a de jingles deste ano!
Bom de debate não é garantia
de vitória
Se debate decidisse eleição,
Dilma não teria sido eleita e muito menos reeleita, tal a atuação
constrangedora dela nos enfrentamentos de 2010 e 14. Em 18, Bolsonaro não participou de um debate
sequer e acabou levando a faixa presidencial. Claro que houve um tempo, nas
primeiras eleições após a redemocratização, em
que os debates eram balizadores para a decisão do voto, mas ficaram tão
banalizados, tão engessados e tão previsíveis, que viraram uma chatice. Mesmo antes,
candidatos bom de debates, como Brizola e Ciro, não repetiam nas urnas o
desempenho na mídia. O debate agora só terá alguma influência nas urnas e ainda
assim negativamente, se o candidato cometer um erro de uma dimensão inaceitável, algo que mexa, digamos, com
a moral e os bons costumes. Ou, então,
que ocorra novamente como em Lula x Collor na Globo em 98, quando, além do
pífio desempenho nas discussões, o petista foi soterrado por uma edição
manipulada do debate nas edições dos telejornais do dia seguinte, ampliando a
má performance dele.
Plano de governo pode ser tiro
no pé
De novo, não conheço um eleitor
sequer que tenha decidido seu voto com base nos planos de governo de
candidaturas majoritárias. A apresentação do plano é uma exigência legal, junto
com o registro da chapa, mas é apenas pra Tribunal Eleitoral ver e depois
esquecido. Acho mesmo que nem os candidatos se dispõem a ler. Quem lê, com certeza, são os adversários, para flagrar equívocos e omissões e usar na
propaganda eleitoral. Antes que esse
dispositivo legal vigorasse, participei de elaboração de um plano de governo,
por sinal muito bem estruturado, mas que
demorou a ser aprovado pela coligação. Até que uma semana antes do pleito uma
colunista cobrou a existência das propostas, que, afinal, foram publicadas às
pressas no site da candidatura. Isso,
porém, não prejudicou a chapa, que não precisou do tal plano para ser eleita.
Lembro de outro caso em uma recente eleição presidencial: o capítulo que
tratava de pesca tinha mais do que o
dobro de espaço do dedicado à saúde, educação e infraestrutura. As propostas
eram tão irrelevantes que ainda bem que o candidato desse plano não se elegeu.
De resto, esta é uma campanha das
mesmices, sobretudo nos recados dos candidatos aos legislativos.
Aí o esclarecido eleitor, ávido
por uma orientação segura para definir seu voto, vai questionar: o quê, afinal,
pode ajudar na sua escolha, ou influenciar decisivamente nas urnas? Como sou
apenas um raso observador de cenários, transfiro a indagação para os
especialistas. Voltaremos.
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