segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Eleição além dos jingles

* Publicado nesta data em coletiva.net

Depois de muitas batalhas eleitorais, atuando na cobertura pela mídia ou nas estruturas de campanha, desta vez estou fora de qualquer processo. Mas até pelo meu envolvimento em campanhas anteriores, sou fixado nos conteúdos e na forma como são expressos pelas candidaturas, constituindo-se nas peças de campanha.  Vai daí que não resisto em sustentar duas ou três teses, todas eles sem qualquer base científica, mas baseadas em situações reais, a saber: 

Jingle não ganha eleição

Não conheço um eleitor sequer que tenha decidido seu voto por ouvir o jingle deste ou daquele candidato. Jingle, com suas rimas ricas ou pobres e seus refrões chicletes, é uma assinatura musical e serve apenas para animar a militância. Chamo a atenção de produções até hoje lembradas, mas  de campanhas fracassadas. Exemplos não faltam: o jingle de Paulo Odone, candidato à prefeito de Porto Alegre em 1996 pelo então PMDB ( “Porto Alegre é Paulo Odone/Porto Alegre somos nós/ Nossa força, nossa voz”, com bela interpretação de Elaine Geissler); o jingle de Aldo Pinto, na campanha ao Piratini, em 1986 (“Eu vou de Aldo/ Eu Vou de Aldo/ Eu vou de Aldo pra governador”, composto por Hermes Aquino). Resultado das urnas: Odone ficou em quinto lugar e Raul Pont venceu a eleição no primeiro turno; e Aldo Pinto amargou a derrota para Pedro Simon. Quem lembra das musiquinhas do Pont e do Simon? Mas o caso mais emblemático é o “Lula lá  - Sem Medo de Ser Feliz “ que embalou três campanhas derrotadas de Lula e se mantém vivo até hoje, enquanto ninguém lembra os jingles dos vencedores de 1989 (Collor) e 94 e 98 (FHC). E tem outro caso célebre, o do jingle usado pelo candidato José Maria Eymael desde 1985 , (“Ei,Ei, Eymael/Um democrata cristão”). tão primário que virou um clássico, só que não ajuda o candidato a sair do traço nas pesquisas eleitorais. A propósito, que safra ruim a de jingles deste ano!

Bom de debate não é garantia de vitória

Se debate decidisse eleição, Dilma não teria sido eleita e muito menos reeleita, tal a atuação constrangedora dela nos enfrentamentos de 2010 e 14.  Em 18, Bolsonaro não participou de um debate sequer e acabou levando a faixa presidencial. Claro que houve um tempo, nas primeiras eleições após a redemocratização, em  que os debates eram balizadores para a decisão do voto, mas ficaram tão banalizados, tão engessados e tão previsíveis, que viraram uma chatice. Mesmo antes, candidatos bom de debates, como Brizola e Ciro, não repetiam nas urnas o desempenho na mídia. O debate agora só terá alguma influência nas urnas e ainda assim negativamente, se o candidato cometer um erro de uma dimensão  inaceitável, algo que mexa, digamos, com a  moral e os bons costumes. Ou, então, que ocorra novamente como em Lula x Collor na Globo em 98, quando, além do pífio desempenho nas discussões, o petista foi soterrado por uma edição manipulada do debate nas edições dos telejornais do dia seguinte, ampliando a má performance dele.

Plano de governo pode ser tiro no pé

De novo, não conheço um eleitor sequer que tenha decidido seu voto com base nos planos de governo de candidaturas majoritárias. A apresentação do plano é uma exigência legal, junto com o registro da chapa, mas é apenas pra Tribunal Eleitoral ver e depois esquecido. Acho mesmo que nem os candidatos se dispõem a ler.  Quem lê, com certeza, são os adversários,  para flagrar equívocos e omissões e usar na propaganda eleitoral.  Antes que esse dispositivo legal vigorasse, participei de elaboração de um plano de governo, por sinal muito bem estruturado,  mas que demorou a ser aprovado pela coligação. Até que uma semana antes do pleito uma colunista cobrou a existência das propostas, que, afinal, foram publicadas às pressas no site da candidatura.  Isso, porém, não prejudicou a chapa, que não precisou do tal plano para ser eleita. Lembro de outro caso em uma recente eleição presidencial: o capítulo que tratava de pesca  tinha mais do que o dobro de espaço do dedicado à saúde, educação e infraestrutura. As propostas eram tão irrelevantes que ainda bem que o candidato desse plano não se elegeu.

De resto, esta é uma campanha das mesmices, sobretudo nos recados dos candidatos aos legislativos.  

Aí o esclarecido eleitor, ávido por uma orientação segura para definir seu voto, vai questionar: o quê, afinal, pode ajudar na sua escolha, ou influenciar decisivamente nas urnas? Como sou apenas um raso observador de cenários, transfiro a indagação para os especialistas.  Voltaremos.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário