*Publicado nesta data em coletiva.net
O mundo digital nos
transformou em refém das senhas. Por alto, calculo que dependo de mais de 20
senhas para terminais bancários, cartões de créditos, aplicativos diversos,
redes sociais, sites de compras, etc, etc, etc. Haja memória para tudo isso.
Conheço pessoas que anotam suas senhas em papéis, que guardam na carteira ou
numa pasta no computador , o que é um convite para quebrar a segurança que a
senha exige. Alguns se consideram mais espertos e criam a senha para acessar as
senhas e aí se complicam mais ainda.
Interessante as outras
artimanhas que observo para criar e preservar senhas. Tem gente que escolhe a
data do casamento e com o tempo acaba esquecendo as duas. Ocorre com os homens
especialmente. Outros preferem a data de nascimento ou o nome de um dos filhos
e criam um mal estar entre os rebentos preteridos, que se acham menos amados
pelos seus progenitores, porque sabem como as senhas são importantes nas nossas
vidas. Sei de moças que preferem usar como senhas os nomes dos seus pets ou, as
mais sofisticadas, optam pela raça do
bichinho, tipo Chowchow, Schnauzer
ou Pinscher. Fácil de memorizar, dificil
de digitar. Tem a turma dos apelidos
familiares. No meu caso seria Cabeça, mas não tentem porque não uso tal senha,
Essas soluções vão na contramão do que recomendam os especialistas,
porque significam vulnerabilidade. Vale o mesmo para aqueles que usam seqüências
de números. O tempo que um hacker pode descobrir sua senha pode ser de alguns
segundos ou milhões de anos. Senhas tradicionais com poucos caracteres seriam
quebradas quase instantaneamente, enquanto aquelas com símbolos, letras e
números dariam mais trabalho aos cybercriminosos. Se bem que também dificultam a memorização
pelo usuário, ou seja, “se ficar o bicho pega, se correr o bicho come”.
Para atenuar um pouco essa aflição e para mostrar que
senhas não tem utilidade apenas nas modernidades do mundo digital, relembro a
historia – verdadeira – ocorrida com um amigo.
Sucede que no final da primeira transa
com uma nova parceira, naquele momento de relaxante aconchego, o prezado amigo
foi surpreendido com uma exigência dela, cláusula pétrea para
continuarem a relação, que, aliás, agora já dura 5 anos:
- Preciso saber de duas ou três pessoas
a quem possa telefonar caso te aconteça um piripaque aqui no motel. Sabe
como é, a gente excedeu...
Faltou esclarecer que ele era bem mais
velho do que ela e ao dizer que excederam estava implícito um elogio ao
desempenho dele numa quadra da vida em que a natureza conspira e baixa,
por assim dizer, as vontades e as expectativas. Mesmo assim o
pedido dela era insólito, constrangedor para dizer o mínimo, e capaz de
perturbar a elogiada performance do nosso amigo. Contrariado com o
pragmatismo da moça, ele acabou nomeando dois parentes e um colega de
serviço, garantindo que eram gente da maior confiança, que saberiam como agir e
preservariam a reputação dela e a memória dele.
- Outra coisa, caso aconteça o pior,
avisa ao pessoal que, quando eu ligar, a senha será ‘o Sol apagou’, não
esquece, ‘o Sol apagou’...
Mais do que uma senha, a menção
ao astro rei foi recebida como uma homenagem, mesmo em se tratando de uma
situação limite, e deixou nosso amigo reconfortado, cheio de
vaidade e ai mesmo é que excedeu, atuando com brilho cada vez maior, como se
sua energia fosse inesgotável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário