*Publicado nesta data em coletiva.net
Nas idas aos supermercados
sou atraído por alguma força superior para as gôndolas das cervejas e dos vinhos,
normalmente lindeiras. Sempre que o orçamento permite me entrego ao impulso
consumista e carrego um e outro produto de graduação alcoólica, junto com os gêneros de primeira necessidade.
Na verdade, não resisto a infinidade de ofertas à disposição, eu que sou do tempo
da limitação de produtos, em que cerveja era Brahma Chopp, refrigerante era
Pepsi e vinho era o da garrafão, produzido com uva Isabel.
Devemos aos
descendentes das principais correntes migratórias para o Rio Grande do Sul o
legado dos dois produtos que hoje me levam os trocados nos mercados: dos
italianos, o vinho e dos alemães, a cerveja. Mais do que comprador, sou um
apreciador devotado de ambos, consumindo
com a moderação apregoada nos anúncios.. Um tinto vai bem nos meses mais frios,
como agora, e nos mais quentes viro cervejeiro, com espaço também para os
vinhos brancos e os espumantes,
É nos dias mais
quentes, entre um gole e outro, que relembro dos tempos em que Brahma era
sinônimo de cerveja. Os mais antigos contam que o centroavante colorado Claudiomiro,
bom de artilharia, mas atrapalhado no vernáculo, agradeceu às “brahminhas da Polar” que recebeu de uma
emissora por ter sido escolhido o craque do jogo. Acredito, porém, que isso não
passa de lenda urbana.
A expansão da Brahma como
principal produto da Ambev acabou incorporando à empresa uma série de rivais no
mercado, a começar pela fusão com a Antarctica,
concorrente de peso e tradicional representante paulista na
produção cervejeira. O Rio Grande do Sul, que se orgulhava de sua diversificada
ofertas de cervejas, com marcas representativas de cada região, foi um dos alvos da sanha expansionista
da Antarctica e depois da Ambev. Apelo aos
de boa memória para ajudar a lembrar as marcas aqui produzidas, a maioria agora
sob a bandeira ambeviana: a Polar, da cidade de Estrela, que originalmente era
a Casco Escuros e hoje é o carro chefe do marketing cervejeiro da multinacional
para os gaúchos; a Serramalte, originária de Getúlio Vargas que ainda resiste nas
gôndolas dos supermercados, assim como a Original, criada em Ponta Grossa-PR,
mas desconheço o que foi feito da Pérola, fabricada em Caxias do Sul até os
anos 90 pela cervejaria Leonardelli. e da Polka, de Feliz.
Os mais antigos lembram
a Cervejaria Continental (fusão das firmas Bopp, Sassen e Ritter), na Cristovão Colombo, em Porto
Alegre, que depois foi adquirida pela Brahma. Foi lá, nas cubas instaladas
naqueles porões, onde saboreei , numa recepção da empresa, o chope mais cremoso de toda a minha jornada
dedicada ao deus Baco. Hoje, os belos prédios em estilo eclético e sua
monumental chaminé integram o Shopping Total.
A vocação cervejeira
dos gaúchos foi retomada com a Dado Bier, seguida de outras marcas consideradas
de excelência como a Coruja e a Tupiniquim,
das que conheço por consumir. Essa tradição cervejeira herdada dos imigrantes
alemães fez proliferarem as chamadas cervejas artesanais, levando o RS ao pódio
na segunda posição, com 258 cervejarias, perdendo apenas para São Paulo com
285. Porto Alegre, com 40 produtores está entre os municípios brasileiros com maior
numero de cervejarias. O informe é do Anuário da Cerveja de 2020, o mais
recente divulgado.
Bem antes da Dado Bier
e seguidores, acredito que meu pai, o mítico Coronel Dastro (faria 107 anos no
último dia 28), na época tenente da BM, foi um pioneiro na produção de cervejas
artesanais. Lá pelos anos 1950 se aventurou a produzir cervejas em casa. Depois de o liquido engarrafado, os vasilhames
eram deixados sob as camas da filharada, oito no total. A escolha dos
depósitos, suponho, era porque os locais
ficavam mais frescos (a modernidade do refrigerador ainda não tinha chegado aos
Dutras). O problema é que volta e meia éramos despertados na madrugada pelo
barulho de tampas das garrafas que não resistiam à fermentação e estouravam.
O quarto ficava tomado com o forte cheiro da bebida. Acho que vem daí minha
afeição à cerveja. A vocação de cervejeiro passou de avô pra neta, pois tempos
atrás minha filha Mariana montou uma microcervejaria no apartamento e produziu
algumas garrafas de uma cerveja muito gasosa, mas nada desprezível. Só que a
experiência durou pouco e logo voltamos às bebidas industrializadas.
Com o anúncio de que
preço do precioso liquido vai aumentar nas gôndolas dos supermercados, fico
pensando se não vale uma nova investida familiar nesse segmento. Além do charme natural de ser produtor de uma
bebida de grande aceitação, sinônimo de boa convivência, uma cerveja de marca própria vai
evitar a disputa, pau a pau, com o seu antagônico, o leite, para saber qual
deles onera mais o bolso deste pobre
consumidor. Quem sabe uma pilsen leve
chamada Caldável ou uma ceva mais encorpada, uma Lager ou Ipa com ViaDutra no rótulo? Aceito sócios financiadores no negócio e já
antecipo o brinde: prost!
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