segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Mensagem aos brasileiros e brasileiras

*Publicada nesta data em coletiva.net

O título pode induzir de que se trata de mais um manifesto pelos ideais democráticos e pela integridade do processo eleitoral. Já adianto que não é nada disso. A mensagem aqui destacada é  a principal que um candidato às eleições deve passar: a de que quer ganhar. Vale especialmente para os candidatos aos pleitos majoritários.  Essa atitude parece ser irrelevante, mas garanto,  com a experiência acumulada  de  quem já conviveu com postulantes ao poder sequiosos da vitória e outros nem tanto,  que os primeiro form mais bem sucedidos.

O poder abre um leque de vantagens e oportunidades,  – “o poder é afrodisíaco”, dizia San Thiago Dantas -, mas traz também não poucos dissabores. No Executivo,  o dono da caneta tem que tomar decisões a todo o momento, fazer escolhas com as quais nem sempre concorda, acolher as demandas dos aliados no toma lá, dá cá, enfrentar os opositores querendo seu fígado e seu  cargo,  atender  à mídia sedenta de um escândalo, responder ao Tribunal de Contas, ao Ministério Público e ao mais atento controle social, a opinião publica É uma batalha diária, pouco gratificante se for analisada racionalmente.  Nesse contexto, quem não faz força para  ganhar a disputa eleitoral é porque não tem vocação para o poder – sim, eles existem;  ou porque se considera inapto para o cargo e suas exigências, pequeno para a grandeza dos desafios que terá pela frente – sim, estes também existem.  Sei de casos de candidatos que se sabotaram na campanha para não terem que enfrentar a dureza do mandato governamental.

Penso que não é este o caso do ex-presidente Lula, mas desconfio que ele não está colocando na campanha a energia de quem quer voltar a ser o principal mandatário do país. Lula parece enfastiado, sem saco para a correria de uma campanha presidencial e sinaliza isso em vários episódios, a começar pela pouca disposição para os contatos com a militância e por emitir opiniões  que deixam os outros lideres petistas alarmados.  Chamou a atenção, especialmente,  a ausência dele na Convenção  que homologou sua candidatura. A alegação é de que estaria num evento de pré-campanha.  Não existe nenhum evento de pré-campanha mais importante do que a convenção partidária, momento de afirmação da candidatura e das alianças e de mobilização dos apoiadores. Foi frustrante para quem esperava uma grande celebração.  Enquanto isso, a convenção  do principal adversário lotava um  Maracanãzinho cheio de entusiasmo.

Tento imaginar o que se passa pela cabeça do candidato petista. Ele já viveu em duas oportunidades todas as emoções do mandato presidencial, para o bem e para o mal. Já deu sua cota de sacrifício e até sua liberdade em função do desempenho no cargo.  Lula quer mais é curtir sua Janja, considerar que já cumpriu sua missão e que tem o direito de se   dispensar de novas batalhas.  Assim também se livra dos xingamentos e das pesadas acusações que virão durante a campanha.

Esse aparente desinteresse de Lula talvez explique porque, embora lidere e ainda seja considerado o favorito, esteja estacionado nas pesquisas, quando se esperava uma avalanche de adesões, diante de tantas sandices de Bolsonaro.  A atitude do candidato acaba contaminando a estrutura em todos os níveis.

Já o atual presidente, embalado por números positivos na economia, se joga  na luta pela reeleição com garra, motociatas  e muitos  benefícios  para os despossuídos, na certeza de que, se for defenestrado do poder, a vida vai ficar difícil para ele e para a escadinha de filhos. Quem sabe é isso que esteja faltando ao Lula: um objetivo de sobrevivência.

Oficialmente, a campanha política começa amanhã e tudo pode mudar, jogando essas observações para a  seção dos equívocos de um analista precipitado. Por enquanto, só resta apelar para o clichê: reina grande expectativa.

 

 

 

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