*Publicada nesta data em coletiva.net
O título pode induzir
de que se trata de mais um manifesto pelos ideais democráticos e pela
integridade do processo eleitoral. Já adianto que não é nada disso. A mensagem
aqui destacada é a principal que um candidato
às eleições deve passar: a de que quer ganhar. Vale especialmente para os
candidatos aos pleitos majoritários. Essa
atitude parece ser irrelevante, mas garanto,
com a experiência acumulada
de quem já conviveu com
postulantes ao poder sequiosos da vitória e outros nem tanto, que os primeiro form mais bem sucedidos.
O poder abre um leque
de vantagens e oportunidades, – “o poder
é afrodisíaco”, dizia San Thiago Dantas -, mas traz também não poucos
dissabores. No Executivo, o dono da
caneta tem que tomar decisões a todo o momento, fazer escolhas com as quais nem
sempre concorda, acolher as demandas dos aliados no toma lá, dá cá, enfrentar
os opositores querendo seu fígado e seu
cargo, atender à mídia sedenta de um escândalo, responder ao
Tribunal de Contas, ao Ministério Público e ao mais atento controle social, a
opinião publica É uma batalha diária, pouco gratificante se for analisada
racionalmente. Nesse contexto, quem não
faz força para ganhar a disputa
eleitoral é porque não tem vocação para o poder – sim, eles existem; ou porque se considera inapto para o cargo e
suas exigências, pequeno para a grandeza dos desafios que terá pela frente –
sim, estes também existem. Sei de casos
de candidatos que se sabotaram na campanha para não terem que enfrentar a
dureza do mandato governamental.
Penso que não é este o
caso do ex-presidente Lula, mas desconfio que ele não está colocando na
campanha a energia de quem quer voltar a ser o principal mandatário do país.
Lula parece enfastiado, sem saco para a correria de uma campanha presidencial e
sinaliza isso em vários episódios, a começar pela pouca disposição para os
contatos com a militância e por emitir opiniões que deixam os outros lideres petistas
alarmados. Chamou a atenção,
especialmente, a ausência dele na
Convenção que homologou sua candidatura.
A alegação é de que estaria num evento de pré-campanha. Não existe nenhum evento de pré-campanha mais
importante do que a convenção partidária, momento de afirmação da candidatura e
das alianças e de mobilização dos apoiadores. Foi frustrante para quem esperava
uma grande celebração. Enquanto isso, a
convenção do principal adversário lotava
um Maracanãzinho cheio de entusiasmo.
Tento imaginar o que se
passa pela cabeça do candidato petista. Ele já viveu em duas oportunidades
todas as emoções do mandato presidencial, para o bem e para o mal. Já deu sua
cota de sacrifício e até sua liberdade em função do desempenho no cargo. Lula quer mais é curtir sua Janja, considerar
que já cumpriu sua missão e que tem o direito de se dispensar de novas batalhas. Assim também se livra dos xingamentos e das
pesadas acusações que virão durante a campanha.
Esse aparente
desinteresse de Lula talvez explique porque, embora lidere e ainda seja
considerado o favorito, esteja estacionado nas pesquisas, quando se esperava
uma avalanche de adesões, diante de tantas sandices de Bolsonaro. A atitude do candidato acaba contaminando a
estrutura em todos os níveis.
Já o atual presidente,
embalado por números positivos na economia, se joga na luta pela reeleição com garra,
motociatas e muitos benefícios
para os despossuídos, na certeza de que, se for defenestrado do poder, a
vida vai ficar difícil para ele e para a escadinha de filhos. Quem sabe é isso
que esteja faltando ao Lula: um objetivo de sobrevivência.
Oficialmente, a
campanha política começa amanhã e tudo pode mudar, jogando essas observações
para a seção dos equívocos de um
analista precipitado. Por enquanto, só resta apelar para o clichê: reina grande
expectativa.
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