A Varig é a queridinha da hora na mídia por conta da lembrança do leilão que culminou com o fim da companhia há 15 anos. São lembranças pontuadas por detalhes do charme e da excelência na prestação de serviços que caracterizaram a voadora, aqui nascida como Viação Aérea Rio-Grandense. Além da má administração nos anos finais da sua existência, agravadas por fatores externos, como o congelamento das tarifas áreas, a companhia foi vítima de um verdadeiro golpe arquitetado pelo ex-todo poderoso ministro José Dirceu para privilegiar a TAM, que herdou as melhores rotas da pioneira empresa aérea brasileira. Na verdade, as matérias jornalísticas que agora exaltam o histórico da Varig e seu legado de saudade nos usuários deixados à orfandade, pouca referência fazem a todas as iniciativas governamentais anteriores de beneficiamento da Varig em detrimento das outras competidoras.
A Varig acabou
provando do próprio veneno e como nos casos em que foi beneficiada, acabou
vítima do mesmo processo de sufoco da concorrência. A Panair do Brasil, por
exemplo, teve suas operações abruptamente encerradas pelo governo militar em
1965. A companhia era muito ligada ao governo anterior, diferente da Varig, que
apoiara o novo regime implantado em 1964.
Adivinhem quem passou a operar os rentáveis destinos internacionais da
Panair? Varig, Varig, Varig, claro.
A Savag (S.A. Viação Aérea Gaúcha) teve o mesmo fim quando começou a incomodar a
Varig nos voos regionais na Região Sul.
A excessiva competição levou as autoridades, pressionadas pela
concorrente politicamente mais poderosa, a retirar muitas linhas da Savag, que
acabou absorvida pela Cruzeiro do Sul, em 1966. Mais tarde, em 1975, a própria Cruzeiro foi adquirida pela Fundação
Ruben Berta, mantenedora da Varig, passando a atuar em consórcio, até ser
totalmente absorvida pela companhia parceira, em 2001.
O orgulho dos gaúchos com a empresa aqui nascida, mas que já tinha
transferido sua sede para São Paulo, era motivo de maledicências no centro do
País, vale dizer Rio e São Paulo. Uma
recorrente brincadeira maldosa afirmava que “filho de gaúcho nasce cavalo ou
avião da Varig”. Já o humorista José
Vasconcellos em seus shows desdobrava a sigla
Varig como “Vários Alemães
Iludindo os Gaúchos”, referência à origem germânica do fundador da empresa, Otto
Meyer, e dos primeiros sócios.
Essa ligação com
a Alemanha – a Varig origina-se da companhia área alemã Condor Sindikat –
aparece de forma comprometedora no livro Os Meninos do Brasil, de Ira Levin,
que mais tarde virou filme, retratando a tentativa do carniceiro nazista Josef
Mengele de criar o 4º Reich na América do Sul, com base especialmente no
Brasil. A folhas tantas, a Varig aparece como participante da conspiração, como
facilitadora das idas e vindas dos nazistas.
A obra de Levin
é ficcional e, mesmo Mengele tendo
vivido aqui, não há provas concretas de que a história contada no livro seja
lastreada na realidade e, por conseguinte, nada autoriza envolver a Varig com uma conspiração
inexistente.
Apesar de tudo,
dos malfeitos em relação as concorrentes, dos envolvimentos com os poderosos de
plantão, das brincadeiras marotas, do seu uso indevido na ficção, é preciso
reconhecer que a trajetória da Varig nos seus melhores momentos foi tão
soberba, de tanta excelência, especialmente quando cotejada com os serviços
hoje oferecidos pelas companhias áreas, que está mais do que justificado o
orgulho dos gaúchos com a “estrela brasileira no céu azul!”.
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