domingo, 18 de julho de 2021

Varig, Varig, Varig

A Varig  é  a queridinha da hora na mídia por conta da lembrança do leilão que culminou com o fim da companhia há 15 anos. São lembranças pontuadas por  detalhes do charme e da excelência na prestação de serviços que caracterizaram a voadora, aqui nascida  como Viação Aérea Rio-Grandense. Além da má administração nos anos finais da sua existência, agravadas por fatores externos, como o congelamento das tarifas áreas, a companhia foi vítima de um verdadeiro golpe arquitetado pelo  ex-todo poderoso ministro José Dirceu para privilegiar  a TAM, que herdou as melhores  rotas da pioneira empresa aérea brasileira.  Na verdade, as matérias jornalísticas que agora exaltam o histórico da  Varig e seu legado de saudade nos usuários deixados à  orfandade, pouca referência fazem a todas as iniciativas governamentais anteriores de beneficiamento da Varig em detrimento das outras competidoras.

A Varig acabou provando do próprio veneno e como nos casos em que foi beneficiada, acabou vítima do mesmo processo de sufoco da concorrência. A Panair do Brasil, por exemplo, teve suas operações abruptamente encerradas pelo governo militar em 1965. A companhia era muito ligada ao governo anterior, diferente da Varig, que apoiara o novo regime implantado em 1964.  Adivinhem quem passou a operar os rentáveis destinos internacionais da Panair? Varig, Varig, Varig, claro.

A Savag  (S.A. Viação Aérea Gaúcha)  teve o mesmo fim quando começou a incomodar a Varig nos voos regionais na Região Sul.  A excessiva competição levou as autoridades, pressionadas pela concorrente politicamente mais poderosa, a retirar muitas linhas da Savag, que acabou absorvida pela Cruzeiro do Sul, em 1966. Mais tarde, em 1975,  a própria Cruzeiro foi adquirida pela Fundação Ruben Berta, mantenedora da Varig, passando a atuar em consórcio, até ser totalmente absorvida pela companhia parceira, em 2001.

O orgulho dos gaúchos com a empresa aqui nascida, mas que já tinha transferido sua sede para São Paulo, era motivo de maledicências no centro do País, vale dizer Rio e São Paulo.  Uma recorrente brincadeira maldosa afirmava que “filho de gaúcho nasce cavalo ou avião da Varig”.  Já o humorista José Vasconcellos em seus shows desdobrava a sigla  Varig como  “Vários Alemães Iludindo os Gaúchos”, referência à origem germânica do fundador da empresa, Otto Meyer, e dos primeiros sócios.

Essa ligação com a Alemanha – a Varig origina-se da companhia área alemã Condor Sindikat – aparece de forma comprometedora no livro Os Meninos do Brasil, de Ira Levin, que mais tarde virou filme, retratando a tentativa do carniceiro nazista Josef Mengele de criar o 4º Reich na América do Sul, com base especialmente no Brasil. A folhas tantas, a Varig aparece como participante da conspiração, como facilitadora das idas e vindas dos nazistas.

A obra de Levin é ficcional  e, mesmo Mengele tendo vivido aqui, não há provas concretas de que a história contada no livro seja lastreada na realidade e, por conseguinte, nada autoriza  envolver a Varig com uma conspiração inexistente.

Apesar de tudo, dos malfeitos em relação as concorrentes, dos envolvimentos com os poderosos de plantão, das brincadeiras marotas, do seu uso indevido na ficção, é preciso reconhecer que a trajetória da Varig nos seus melhores momentos foi tão soberba, de tanta excelência, especialmente quando cotejada com os serviços hoje oferecidos pelas companhias áreas, que está mais do que justificado o orgulho dos gaúchos com a “estrela brasileira no céu azul!”.

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