Adalbertinho entrou em profunda depressão porque sua musa desaparecera sem deixar vestígios.. A vida já não tinha mais sentido para ele, nada mais interessava, a não ser descobrir o que acontecera com Alexia e imaginar que era questão de tempo reencontrá-la. Por isso, vagava como um zumbi nos locais em que tinha certeza de estivera com ela. Quase andrajoso como o motoboy que tanto execrara, circulava com o olhar fixo pelo supermercado sob a presença vigilante do Naldo, pela parada de ônibus onde avistava as outras moças que atendiam nas caixas, nas proximidades da casa na vila, mas só a família do Carlão aparecia no pátio, no restaurante onde brindaram com espumante antes dela capitular. Alexia, porém, não se materializava.
A ausência dela doía fisicamente e mais ainda quando
lembrava da noite da conquista, a desinibição da moça, a entrega total com ela
no comando. Impossível aquela intimidade toda ter sido apenas um sonho. Já
sonhara antes com a moça, mas dessa vez tinha sido diferente, ela dividira a cama
com ele, tinha certeza.
Nas andanças, já erráticas, em busca de uma Alexia
que se perdera no tempo, acabou deparando com o letreiro que parecia atrai-lo:
Tattoo Shop. Uma porta antiga se abria para uma sala pouco mais do que
minúscula, adornada por ilustrações de
tatuagens. A um canto ganhava destaque um vaso com o que parecia conter um pé
de maconha, já taludo. O cheio da erva infestava o ambiente.
Com certeza, aquele não era o melhor espaço para ele
perpetuar uma lembrança de Alexia, mas havia algo que o seduzia ali. Talvez
encontrasse na bagunça do recinto, pouco
iluminado e cheirando a cannabis, a solução para o mistério do desaparecimento
da sua amada. Então decidiu: ´precisava
tatuar a palavra Rapaki, a paixão dos
gregos, da mesma forma como aparecia em
Alexia e na mãe Suellen, no caso dele
acima dos mamilos. Tinha a sensação de que fora guiado por uma força, da qual não podia resistir,
primeiro para aquela região, que nunca frequentara, e depois para este cubículo
infecto.. Acreditava que havia um
desígnio a ser cumprido. Eis que surge de trás de um biombo um cabeludo, que
lembrava Bob Marley, de óculos de sol na penumbra e acompanhado de um alongado
cigarro de maconha.
- O que quê o bródi tá procurando?
- Rapaki, quero tatuar Rapaki,- respondeu o
professor, quase entorpecido pela névoa maconheira.
- Mas que coisa interessante: o bródi aí é a
terceira gente que pede essa tatuagem. Uma mulher e uma garota muito bonitas,
acho que mãe e filha, pediram a mesma coisa, tempos atrás.
Por efeito das baforadas do tatuador e pela
revelação que acabara de ouvir, o professor ficou um tanto nauseado e
visivelmente abalado, precisando ser amparado pelo Bob Marley fake.
- Corta!, gritou o diretor de cena. ”Ficou ótimo. Pode
copiar.”
(Inspirado
no final de Dor e Gloria, de Pedro Almodóvar)
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