Houve um tempo, quando só pensava naquilo, em que achava que prevaricar tinha a ver com práticas sexuais exóticas e intensas. Imaginava algo parecido sobre defenestrar, que seria tipo perder a virgindade. Ah, tempos de mente pervertida! Hoje se sabe, graças à CPI da Covid, que prevaricação significa um crime funcional, praticado por servidor contra a Administração Pública para satisfazer interesse pessoal. É bem verdade que pode ser também praticar adultério, daí porque permite a interpretação maliciosamente erótica. Já defenestrar é atirar algo ou alguém pela janela, a fenestra latina.
Sei lá, preferiria que
as duas palavras correspondessem à acepção original, que eu dava a elas no dicionário da adolescência.
Mesmo que equivocados, eram significados bem mais nobre e mais prazerosos que os verdadeiros, ligados à corrupção e a
crimes.
Sinto-me lisonjeado em
verificar que Luiz Fernando Veríssimo já teve as mesmas dúvidas, como admitiu na crônica Defenestração.
“Certas palavras tem o significado errado. (...) Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto
defenestração”, escreveu o mestre Veríssimo e neste caso e em outros que ele
exemplifica, assino embaixo reverente.
É que de um tempo para cá, essas palavras compridas de significado
dúbio voltaram invadir meu vocabulário.
Vai um exemplo: procrastinação que
cheguei a pensar tratar-se de sinônimo de prevaricação, ambas com uma
sonoridade lubrica, que sustentaria o significado chegado à libertinagem
juvenil. Muita sonoridade desperdiçada
para definir o atraso em realizar certa tarefa. Pior, procrastinação é prima
irmã da vagabundagem e da enrolação.
Outro exemplo: encapelado, termo que uso eventualmente para
descrever a movimentação mais agitada das ondas do Guaíba, já foi confundida
com escalpelamento, que é o ato de arrancar os cabelos do cabeça do sujeito,
como víamos nos filmes de índios x
soldados no faroeste americano. Um horror esse engodo.
Engodo, palavra que,
aliás, pode ser uma isca para atrair animais ou parte da terra levada por uma
correnteza ou, ainda, o comportamento repleto de falsidade, que é o significado
mais usual. Bem que engodo poderia ser
uma peça de motor, parente do virabrequim ou uma ferramenta como o rebolo,
aqueles discos para afiar brocas. Bah, assim estou procrastinando o final deste
texto. Hora de me defenestrar dele antes que me
acusem de prevaricação.
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