* Publicado em coletiva.net em 28/09/2020
Três histórias inspiradas em fatos reais
1.Os
piscineiros
Aos 16 anos, Guita teve um sonho perturbador. Sonhou
que conseguira construir na casa da praia
uma piscina de águas azuis e quem fizera a obra foram dois rapagões, que trabalhavam só de
bermuda, sem camisa, tostados pelo sol litorâneo. A imaginação da moçoila
viajou nas relações com os dois operários.
Vinte anos depois, com Guita ainda em boa forma apesar
da passagem do calendário, o sonho poderia se concretizar. A piscina
encomendada estava pronta e fora construída por dois rapazes, como imaginara no
sonho. Só que...
- Olha, eram uns guris de bom porte, mas quando
abriam a boca faltavam dentes e do que diziam nada se aproveitava, além dos detalhes
da construção. Assim ficou difícil ser feliz.
E Guita voltou a sonhar, porque era bem mais
prazeroso do que a realidade obreira.
2.
Diálogo impertinente
Na rede social:
- Oi.
- Olá.
- Tudo bem?
- Tudo.
- Me chama no meu Zap, (...)
- Pra quê?
- Lá vou te apresentar meu trabalho. Vamos ver se vc
se interessa.
- Que tipo de trabalho?
- Eu vendo
vídeos e fotos minhas. Sensuais...
- Não tenho interesse.
- Na vdd eu queria sair disso. Queria um
companheiro.
- Minha faixa etária não combina com a tua.
- E daí? Eu não quero um novinho, que só quer sexo.
Quero um homem maduro, responsável.
- Conheço um local onde tem um monte. Ali onde jogam
dama na Praça da Alfândega.
- Vc é muito
mau educado, ridículo, grosso.
3.
O vaidoso
O consagrado escritor, tão talentoso quanto vaidoso,
encontra em meio a praça o amigo incauto e depois da saudação inicial, passa a
orgulhar-se dos seus feitos literários.
- Meu último livro vai ser traduzido em mais três
países. Agora já são cinco versões no exterior. Não é pouca coisa para um
escritor da província. O romance foi muito bem recebido pela crítica e até já
tenho propostas para que vire filme ou minissérie. Olha, acho que mais uma vez acertei a mão. A história é realmente
interessante, mais do que isso, instigante. Os livros anteriores também tiverem
ótima aceitação de público e de crítica, inclusive o de poesias, com meus
sonetos preferidos. Penso que chegou
a hora de pleitear uma vaga na Academia
Brasileira de Letras. Não me tomes por vaidoso, mas acho que já mereço ser um
imortal!
A conversa seguiu unilateral por mais um tempo, até
que o nosso personagem se deu conta de que estava diante do que deveria ser um
interlocutor. Aí fez uma pausa e
disparou:
-Bah, já falei demais. Gostaria de te ouvir também.
Então, me diz: o que achas da minha obra. Seja sincero.
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