* Publicado nesta data em coletiva.net
Sou obsessivo pela
didatismo nas informações jornalísticas. É o mínimo que se espera de quem vai informar
o distinto público, para que ele não
precise recorrer ao Google ou à
Wikipedia. Assim, rogo para que em 2020 haja mais interpretação, esclarecimento
e explicação sobre os dados despejados aos leitores, ouvintes e
telespectadores.
Peço encarecidamente, por
exemplo, que expliquem com riqueza de detalhes o sobe e desce da bolsa de
valores e o que significa aquela pontuação que parece ter grande impacto nas
nossas vidas. Ah, não esqueçam o tal Índice Nasdaq,
Solicito a gentileza de,
junto com a cotação do dólar e do euro, seja cotado também o dólar turismo para quem
vai viajar e não é muito afeito a essas questões. Isso evitará que o viajante xingue a moça do câmbio, acusando-a de vender as
moedas estrangeiras acima da tabela
anunciada.
Aos repórteres de política
peço para decuparem, com a profundidade necessária para os menos entendidos, aquela parafernália de processos legislativos,
as medidas provisórias da vida, os projetos-de-lei complementares ou não, as
emendas daqui e dali, e outros entes menos votados. E mais: expliquem porque as
pautas dos parlamentos trancam, como se estivessem constipadas, e porque
os legisladores se revezam com aquela discurseira toda, que ninguém presta
atenção, quando o resultado do que vai ser votado já é conhecido?
Que me respondam, com
presteza, como ocorrem tantos e tão sucessivos casos de corrupção
no país, apesar da existência de uma penca de órgãos e estruturas de
controle como tribunais de contas, Ministério
Público, Receita Federal, Coaf, PF, controladorias,
corregedorias, ouvidorias e outros ias?
Expliquem, por
deferência, o que é o tal de “vínculo”, termo que sempre acompanha as
informações sobre o pagamento dos salários, atrasados ou não, dos servidores
públicos. Aproveitem para investigar e dar retorno à audiência se algum
sindicato pagou de fato as multas por não cumprimento das decisões judiciais sobre as greves.
Às editorias esportivas
sugiro especularem menos sobre contratações e responderem a duas questões que
angustiam nossos torcedores: por que, atualmente, os jogadores, com preparação
cada vez mais científica, se lesionam tanto? E por que demoraram tanto para se
recuperar?
Ao pessoal do internetês lembro
que nem todos somos nativos digitais, da geração de pessoas que cresceu na era
digital. Quando forem usar a terminologia do meio, partam do princípio que
estão falando pra analfabetos na temática, entre os quais me incluo junto com a
maioria.
Aos repórteres que
informam sobre o movimento de passageiros nos feriadões vale explicar que as
empresas abrem “horários extras” para
atender a demanda, que não é o mesmo que colocar “ônibus extras”, como se tivessem um estoque de
coletivos só para essas situações. Ah,
mas é só um detalhe, direis. Que nada,
deus e o diabo moram nos detalhes. Aliás, quando os especialistas em transporte
público vão esclarecer que o peso maior das tarifas recai
sobre os patrões e não sobre os trabalhadores, que contribuem com apenas 6% do
vale transporte? Diante dos aumentos, podem se compadecer dos trabalhadores mas
revelem quem paga realmente a conta.
Um pedido especial aos
repórteres da Globo em Londres:
expliquem, por favor, o que
significam aqueles ritos na Câmara dos Comuns, aquele senta-levanta de parlamentares, uns gritos de apoio e vaias
discordantes, ferindo gravemente o que imaginamos como fleuma britânica. Aproveitem
para explicar porque é chamada de Câmara dos Comuns e o que
representa aquele baixinho, de gravatas espalhafatosas, gritando “order,
order” e que parece ser o chefe da
turba.
Por aqui, poderiam me esclarecer quem é e o que
faz aquela moça que senta ao lado do presidente do STF nas sessões plenárias. Gostaria de ter acesso a um perfil
dela. Será que dá um caldo? Falando sério, se não for pedir demais, verifiquem
por que as obras de prédios dos órgãos de Justiça nunca param por falta de
recursos e cada vez se multiplicam mais,
enquanto as obras públicas dos governos em todos os níveis se arrastam muito além dos prazos previstos.
Desculpem pela
encheção de saco, mas como dizia aquele personagem de um antigo programa humorístico: Eu só
queria entender. Enfim, pela clareza das informações, roguemos com
fervor.
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