segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Toco, Pauta 500 e passaralho

* Publicada nesta data em coletiva.net

Na  coluna da semana passada   confessei minha ignorância quanto a relação  da palavra toco com a prática, que  já foi bastante disseminada no meio jornalístico, de presentear repórteres e editores com mimos ou mesmo algum por  fora em dinheiro. Continuo sem ter resposta a esse grave enigma que, aliás, é exclusivo da imprensa gaudéria. A denominação, não a prática, porque lá fora atende por outros nomes, como jabá ou jabaculê.

 A outra  indagação na mesma coluna foi sobre a relação do termo Pauta 500 com aquela pauta obrigatória que é de interesse da empresa e vai merecer tratamento especial na edição. O professor  Flávio Porcello, meu bom amigo  e parceiro de outras jornadas,  lançou luzes sobre a dúvida: o 500 era o ramal - de um andar superior -  em importante empresa jornalística da capital de todos os gaúchos, de onde  partiam os pedidos de Pauta 500. Ele mesmo foi premiado com ligações do referido ramal.

A verdade é que o termo se espalhou, tanto assim que  sou testemunha de observar o número 500, de bom tamanho e escrito com caneta verde,  no papel das pautas de repórteres da empresa concorrente. Os profissionais torciam o nariz para a imposição,  mas não escapavam da  versão jornalística do ” manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Sobre o Toco, lembro o que ocorria numa emissora de rádio, das tantas em que trabalhei, em que o programa do meio da tarde ganhou da equipe o apelido de Hora da Serraria tal a  quantidade de recados, elogios,  congratulações no ar, que resultariam em tocos mais tarde para o apresentador.

            Como estou fora  do mercado não tenho elementos  para avaliar o atual estágio nos meios de comunicação do Toco e da Pauta  500. Nem vou me investir de corregedor da mídia. Já tem gente de montão, à esquerda e à direita,  fazendo isso. O que me preocupa mesmo é os efeitos daquele  outro termo dos bastidores do jornalismo,  o passaralho,  que tem sobrevoado redações em todo o país, decepando profissionais qualificados,  encolhendo o mercado de trabalho e  fragilizando o papel da mídia como expressão da sociedade. Não há Pauta 500 que salve dessa verdadeira epidemia. Xô, passaralho.



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