* Publicado nesta data em coletiva.net
Toco é uma gíria jornalística
exclusiva do Rio Grande do Sul. Pelo menos não encontrei qualquer
citação em outros estados, a não ser com sentido diferente do que utilizamos. Aqui,
Toco (em caixa alta inicial porque se trata de uma instituição) representa uma
benesse materializada em presentes ou convites para jantares e almoços das
fontes em troca de tratamento positivo nas matérias. O toco deles (em caixa
baixa porque é um mero substantivo) é
usado com acepção de rasteira ou constrangimento à fonte ou desta ao jornalista, quase com o
sentido de golpe baixo.
A verdade é que já não se
pratica Toco como antigamente, quando o período de fim de ano era celebrado com
mimos de grande valor. Hoje, até panetone está rareando. O jornalismo se
profissionalizou - o Toco era herança de um tempo em que a profissão era um
bico, subemprego e os modestos ganhos complementados com pixulés por fora. Desconheço porque a pratica foi denominada Toco,
talvez porque seja coisa pequena, uma
rebarba qualquer.
A chamada grande imprensa
implantou normas rígidas em relação
à questão, vedando o Toco de qualquer natureza para seus
´profissionais. Outras empresas, menos estruturadas,
fazem vistas grossas ou até estimulam a
prática, permitindo o PF (por fora) já que
não podem pagar salários mais dignos
E tem o Toco empresarial,
conhecido como Pauta 500. Vou ficar devendo, também neste caso, o que o 500 tem
a ver com a matéria de interesse da fonte e
do veículo e merecedora de
tratamento especial na edição. Talvez o Fernando Albrecht, por antiguidade,
saiba informar. A verdade é que a Pauta 500 está disseminada, em forma de
matérias e programas direcionados para determinado produto, serviço ou empresa,
às vezes transmitidos diretamente da própria empresa com as inevitáveis
entrevistas dos dirigentes delas.
O mais novo formato de Pauta 500, verdadeiro Toco
institucionalizado, atende pelo nome de branded content, traduzido por “conteúdo
de marca”. É quando determinada marca
passa a ser associada com informação ou
entretenimento e publicado dessa forma, iludindo o respeitável público. A
maioria dos veículos montou estruturas
para atender a essa demanda de publicidade mascarada de jornalismo. A “inovação” atingiu tal
proporção que dias atrás flagraram até o Pedro Bial fazendo entrevistas
vendidas no seu programa da Globo, no
caso para a Ambev e a Natura.
Então, vamos deixar
de hipocrisia e parar de tratar como
escândalo episódios como o que envolveu recentemente o ex-âncora do Jornal
Hoje, da Rede Globo. Donny de Nucci, estrela ascendente no jornalismo da emissora,
foi obrigado a se demitir após a
revelação de que faturou R$ 7 milhões fazendo assessoria e vídeos de
treinamento para uma subsidiária do Bradesco. O trabalho foi interno, realizado
por meio da empresa do jornalista, mas
De Nucci teria violado o código de ética da firma, especialmente por não
comunicar à instâncias superiores as suas atividades extra-Globo. A
partir do caso, a Globo decidiu fazer um pente fino entre os seus profissionais
e reforçar seu código de conduta. Consta que gente de peso como a apresentadora do Jornal Nacional, Renata Vasconcellos,
também estava emprestando seu prestígio para faturar algo mais no mercado.
Como na peça
shakespereana é “muito barulho por nada”.
Na verdade, as empresas detestam concorrência, ainda mais de seus funcionários
quando eles tem acesso a ganhos de eventuais patrocinadores, considerado um
desvio inconveniente das verbas que
deveriam ir para os planos de comercialização dos veículos. É tudo
business! Às favas, os códigos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário