segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Quase convites a um semi-aposentado


*Publicado nesta data em Coletiva.net

Cheguei  a uma fase na vida em que praticamente todos  os  dias recebo intimações  do tipo “precisamos almoçar qualquer hora dessas”,  ou então “temos que tomar um café”, interpelações próprias  a que fica  submetido um semi-aposentado como eu. Os quase convites partem de ex-companheiros  na mesma condição e necessitados de companhia, passa pelos que tem projetos para mostrar e buscam opiniões favoráveis ou uma forcinha junto a alguma instância e chegam até daqueles que  me tiram para guru e estes existem mesmo, não é balaca minha. Todos  merecem minha maior consideração e uma resposta padrão:

- Me convoca. Marca o dia, a hora e o lugar que me apresento.

E fico aguardando ansioso para  que a convocação se confirme, o que dificilmente acontece, diferente das minhas prazerosas confrarias, que ocorrem com a regularidade de um relógio suíço.

É diferente também lá fora e lembro o ocorrido com um companheiro das antigas, momentaneamente exiliado nos Estados  Unidos, que  convidou um novo amigo americano para um “aparece lá em casa”. No dia seguinte, o amigo se apresentou acompanhado da mulher, para pasmo do dono da casa que precisou providenciar comes e  bebes  às pressas.  A lição que o brasileiro aprendeu é que nos  países tidos  como civilizados a cordialidade é pra valer.

Aqui ainda estamos  naquela do brasileiro cordial da boca pra fora. Ele  se manifesta  em todo o seu potencial nas despedidas dos encontros fortuitos. O quase convite reforça os laços de amizade,  é demonstração de intimidade e de reconhecimento entre os  convivas, mesmo que o ágape não se realize.

A classe politica sabe disso e usa e abusa dos cafés da manhã, almoços e jantares quando busca apoio para determinadas questões mais sensíveis ou polêmicas.  Os  conquistadores amorosos também investem nos prazeres da mesa que propiciam as suas parceiras para chegarem aos  prazeres da cama.  Aí já é pragmatismo explicito.

A verdade é que os convites que eu gostaria de receber, sem desfazer das convocações sinceras e que se consumam, são para aquele emprego maravilhoso, ganhando bem e com poucas responsabilidades; ou de um editor generoso disposto a bancar os livros que sazonalmente tento emplacar ou, melhor ainda, daquela caldável que se insinuou mas não dá mais sinal de vida.  Mas  também nestes  casos a efetividade deixa a desejar. Assim, só me resta apelar:  toca, telefone, toca.


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