segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Hora da saudade


* Publicada nesta data no Coletiva,net.

Semana passada neste nobre espaço proporcionado pela  Coletiva.net indaguei de que forma determinadas ações viralizavam nas  redes. Usei como exemplo a #10yearchallenge.   A questão permanece sendo um mistério para mim.

Sucede,  porém, que num momento de ociosidade, que, como se sabe, é a mãe  de todas as bobagens, fiz uma provocação no Facebook, apelando para o saudosismo: “Sou do tempo...em  que protetor  solar era conhecido por  bronzeador!”.

Gente, a resposta foi imediata e gerou uma avalanche de  comentários, acrescentando outras lembranças, todas elas  positivas para quem postava, acredito eu. Dei repique com mais  postagens de minhas recordações,  na mesma linha (“Sou do tempo  em que tela grande era Cinemascope”, “... que churrasco era temperado com salmoura”, “...que Biotônico Fontoura era distribuído nos  colégios, junto  com o Almanaque”),  e aí virou uma brincadeira saudável  e de saudades. 

Como minha índole provocativa é  mais  forte que minha veia harmoniosa, fiz duas provocações que renderam. Numa delas insinuei que “era do tempo em que o Fernando Albrecht era estagiário” e o consagrado colunista da  página 3 do Jornal do Comércio aderiu à brincadeira, que rendeu 38  comentários e  95 likes. O José Luis Previdi, intriguento como ele só,  colocou lenha  na fogueira, perguntando “quem era o coroinha do Padre Chagas”, se o Albrecht  ou eu? Os bandalhos da rede adoraram.

Aí resolvi apelar e postei que “era do tempo em que a Globo apoiava os presidentes da República”, que mexeu com o  pessoal apreciador e incentivador de  polêmicas na rede. Falar  mal da Globo sempre dá Ibope, à direita, à esquerda e ao centro.

Mas o que gerou mais participações foi a postagem “sou do tempo das balas  Embaré  e do drops Dulcora”. O pessoal se puxou e trouxe para o presente  suas doces lembranças, da bala Azedinha à gasosa, da quebra-queixo às balas do Brocoió, do Torrão Gaúcho, o bastão de leite e o pirulito chupeta às balas  Mocinho e o chiclete Ploc.  Não faltaram derivações para a Grapette e  seu inesquecível slogam “quem bebe Grapette repete”, tanto assim que é repetido  até  hoje, e desencavaram até a Cirilinha, um refrigerante produzido em Santa Maria. 

No total, foram mais de mil participações nas diversas postagens.

Diante do que considero um fenômeno, minha tese é  de que o  presente está tão chato e  o futuro tão incerto que as pessoas preferem resgatar o passado, onde teriam sido mais felizes, sem as agruras de agora e a preocupação com o amanhã. E ocorre assim apesar de   todas as inovações e comodidades do mundo moderno que, em princípio, deveriam proporcionar  mais qualidade de vida e mais felicidade a todos nós, mas que cobram um alto preço em estresse e desencanto pelo que deixam de entregar. É um paradoxo.

Também é verdade que, nas antigas, era limitada a oferta de produtos, daí que ficava mais fácil fixar  e guardar na  lembrança as poucas marcas que disputavam o mercado, diferente de hoje, quando somos bombardeados por inúmeros  e  variados apelos consumistas.

Vou consultar as psicólogas da família -  são cinco! -  em busca  de respostas mais conclusivas para a questão proposta. Ou então apelarei para o pensamento de Zygmunt Bauman, segundo o  qual vivemos tempos líquidos, tudo  é efêmero e a vida se transformou numa  experiência rápida e sem profundidade, como expressou, com talentosa clareza, nas suas obras Vida Liquida, Amor  Liquido  e Modernidade Liquida.

Autoindulgente que sou, peço sinceras desculpas – está na moda pedir desculpas -  por misturar Facebook, balas Embaré, Biotômico Fontoura e outras prosaicas lembranças  com o avançado pensamento do Bauman.  Mas é que temos para o momento e a forma  que  encontrei para marcar o Dia da Saudade,  que se comemora em 30 de janeiro. Sim, existe o Dia da Saudade, faz parte do calendário oficial de datas do Brasil, mas poucas pessoas sabem ou lembram disso  e a celebração quase ficou na saudade.


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