* Publicado nesta data em Coletiva.net
No Brasil, a assertiva do
velho Marx de que a história se repete, a primeira vez como tragédia e a
segunda como farsa, não é bem assim. Aqui se repete como tragédia,
drama, comedia e, sobretudo, como farsa.
E como se repete, repete, repete!
Invoco Marx a propósito
da interferência repetitiva dos motoristas na vida brasileira, especialmente no
período da redemocratização. Valeria
certamente um estudo acadêmico mais
aprofundado sobre estes profissionais
e a influência deles no curso da história. Não falo dos
caminhoneiros que derrubaram a
economia com a paralisação em maio –
foram protagonistas também, apesar do
desserviço prestado -, mas dos
motoristas que tem a responsabilidade do leva e traz das autoridades.
Um caso
notório é do ex-motorista de Fernando Collor, Eriberto França,
que denunciou pagamentos indevidos ao então
presidente e isso foi decisivo no processo que resultou no impeachment.
Só que a realidade, às vezes, é cruel, tanto assim que
Eriberto, conhecido como “ o motorista que derrubou Collor”, amargou o
desemprego por um bom tempo, enquanto o ex-presidente voltou ao Senado e às
maracutaias, e tem sido citado com assiduidade na Lava Jato.
Não é motorista, mas mesmo assim merece o registro pelas
atitudes que tomou, o caseiro Francenildo Costa em meio ao escândalo
do Mensalão. Ele denunciou os contatos de Antonio Palocci, então ministro da
Fazenda de Lula, com lobistas desejosos de “negociar” com o governo
, teve seu sigilo bancário quebrado, o que acabou servindo para
tornar insustentável a permanência do denunciado no cargo.
Francenildo também enfrentou o desemprego, mas,
se serve de consolo, Palocci, diferente de Collor, foi encarcerado, se bem
que acabou beneficiado agora, depois da delação premiada, com prisão domiciliar.
Mais recentemente, denúncias de dois
motoristas complicam a posse como ministra do Trabalho da deputada Cristiane
Brasil, que descumpriu a legislação trabalhista na relação com os
profissionais. A deputada violou uma regra básica: os motoristas, que tudo
ouvem e a tudo assistem, são cargos de confiança por excelência e como tal
devem ser tratados.
E ganha as manchetes agora a suspeita envolvendo o
motorista de Flávio Bolsonaro, filho do presidente eleito. O sujeito, morador
de uma casa modesta na periferia do Rio, movimentou mais de R$ 1,2 milhão na
sua conta bancária, conforme revelação do atento COAF. Um cheque de R$ 24 mil
para a futura primeira dama aproximou
ainda mais Jair Bolsonaro do imbróglio. Até agora as explicações dos
envolvidos revelam um tanto de
amadorismo e outro tanto de desfaçatez.
O principal personagem – o motora – até domingo ainda não
tinha aparecido para se explicar.
Dependendo dos desdobramentos, o episódio pode ter como inédito efeito
na política brasileira uma fragilidade do governo antes mesmo de assumir. E nem dá pra culpar o motorista, que
parece ser mero intermediário nessa malsucedida operação.
Por fim, poderia falar também do papel desempenhado por
ex-mulheres, ex-namoradas e ex-amantes nos grandes escândalos nacionais, mas aí
é outra história, que também se repete, repete, repete.
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