segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Sempre as segundas e não me deixem só

* Coluna de estreia no Coletiva.net

Um novo contato com a Márcia Christofoli confirmou-se, como já havia denunciado em artigo anterior, como uma cobrança impositiva: “Olha aqui, é a Márcia, tô  te ligando pra comunicar que a partir  de agora contamos com tua participação semanal às segundas-feiras no Coletiva. Não aceito recusas. Quando vais mandar a primeira coluna?”

Não foi bem assim, mas não me tirem a possibilidade de dar dramaticidade  ao contato. E claro que ela  foi propositiva,  convincente, sem pausa sequer para um  respiro.

E aqui estou,  com um duplo, talvez  triplo, desafio: substituir o Ernani Ssó, sem ter a erudição e o talento dele, dividir as segundas-feiras com a mestra  Cris de Luca e escrever um texto minimamente atraente no dia internacional do azedume . Peço licença aos outros colunistas – Marino, Fraga, Roger, Paiva, Marcia, Grazielle, Elis, José Antonio, assim, já  afetando intimidade - , que honram este espaço nos dias menos rabugentos  e vou me achegando.   Sou de paz, normalmente bem humorado e só as vezes ligeiramente provocativo.

Gostaria mesmo de ser inspirado  como a Fernanda Yuong e o maridão Alexandre Machado que, entre outros  sucessos televisivos,  fizeram da segunda-feira um divertido personagem  no seriado Odeio Segundas, exibido no GNT entre 2015 e  2016.  A própria Fernanda interpretava a Segunda-feira, costurando com sua narração a  trama situada  em um ambiente corporativo.  Marisa Orth liderava o elenco e cada episódio se passava - é obvio - em uma segunda-feira, dia em que – é claro -  coisas atípicas ocorrem,  causando – por certo - mal entendidos e  confusões no escritório, afinal é Segunda-feira, com direito a caixa alta inicial neste caso.

  que durou pouco  o divertimento e  o seriado foi descontinuado. A Segunda-feira não se permite.  Patinho feio dos dias, dia da consciência pesada pelas esbornias do fim de semana,  dia mundial do início das dietas mal sucedidas, da milésima tentativa de parar  de fumar, de vencer a preguiça e voltar à academia, de retomar aqueles projetos sempre adiados, enfim,   dia do recomeço,  que  é sempre tão penoso. É o dia consagrado à lua,  por isso o monday inglês, o lunes espanhol ou o lunedi italiano. Aqui  preferimos a versão do latim litúrgico e sua secunda feria, o quê, ainda assim, não compensa a reverencia ao menos   expressivo dos astros, um reles satélite,  na comparação com o sol  do domingo e os grandes planetas  que batizam os gloriosos outros dias da semana. A Sexta-feira, por exemplo, é um exibimento só com essa mania de “Sextou!”. Ninguém proclama “Segundou!”.

Assim é difícil ser feliz, mas eu vou tentar. Com muitas histórias da mesa ao lado, crônicas do cotidiano e da nostalgia,  e minhas versões sobre os fatos, observador dos cenários que sou.

Aceito críticas, mas prefiro elogios, ainda mais nas segundas-feiras. Só não me deixem só.


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