domingo, 12 de agosto de 2018

Saudades das fotos antigas




Hoje qualquer um vira fotógrafo, inclusive em atividades profissionais e não apenas nas selfies do cotidiano.  Basta um celular mais ou menos equipado e clic: está feito o registro para a  posteridade. Claro que o que  distingue o amador  do profissional não é  o equipamento e sim  o olhar de quem busca o instantâneo. Mas ai já  é outra conversa.
O que eu queria mesmo tratar é  da abissal diferença entre o acervo de fotos de hoje, com a incrível facilidade para obtê-las e, pelo menos no meu caso, e os escassos registros fotográficos do passado, um passado não muito distante, coisa de 30, 40, 50 anos atrás. 
Tenho enormes dificuldades para encontrar fotos  minhas da infância. A mais distante no tempo é aquela em que, com pouco  mais de  1 ano,  apareço com minha irmã Rosa, a seguinte em relação a mim na escadinha de oito  irmãos.  Parecemos duas menininhas  por causa do meu cabelo comprido (seria uma  promessa, o que até hoje é um mistério pra mim), o que foi motivo de muito bullyng familiar e me traumatizou durante anos como figurante de fotos. 
O trauma foi alimentado por outras duas fotos. Uma foi aquela tradicional dos tempos escolares, com o quadro negro ao fundo e o globo na mesa onde o aluno ficava. Na foto fatídica, no primeiro ano do colégio  Santa Inês, no  bairro Petrópolis  apareço todo pimpão com uma boneca na mesa, adereço para as fotos das meninas, e não o porquinho dos meninos. A freira esqueceu a boneca na mesa, justo na minha foto.  Vocês podem imaginar o que sofri na família  por causa daquela boneca invasora. Acho que foi naquele episódio que começou o meu ateísmo, reforçado por outro fato ocorrido em ambiente religioso.  Por motivo que desconheço, fui o único garoto dos que faziam a primeira comunhão na Igreja São Sebastião (também no bairro Petrópolis) que não tinha registro fotográfico do momento. Mas dona Thelia, minha despachada mãe, não se conformou com a omissão e no domingo seguinte contratou um profissional para uma foto exclusiva de seu filhinho no batistério, enfatiotado  como convinha e segurando a vela da primeira comunhão.
Mais  tarde. herdei parte do álbum de fotografia que o meu pai, o mítico coronel Dastro, cuidava e abastecia diligentemente. O detalhe é que o velho legendava as fotos,  talvez para recordar seu tempo de revisor do Diário de Notícias que desempenhava para reforçar os parcos ganhos de brigadiano.  Era a  forma de expressar  seu orgulho pela ninhada  de filhos ou para conectar com a realidade da  época, como aquela tradicional foto colorida artificialmente, em que aparecem os filhos mais  jovens,  devidamente  legendados: “Cinco  sorrisos francos. Eles não tem contas a pagar”.
Que saudades dos tempos em que as fotos eram tão raras e tão preciosas! Que saudade das legendas do meu pai!

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