domingo, 16 de março de 2014

ViaDutra da bondade

Um irmão mais velho, quando jovem, ansiava ganhar uma bolada na loteria – na época só existiam a Federal e a Estadual – para poder realizar um desejo: desfeitear todos os seus desafetos.  Seriam eles a mãe de uma moça que pretendia namorar e mandava contra a relação, o dono do boteco que  lhe negava crédito,  o velho ranzinza de um sobrado na avenida,  o pai chatésimo de um amigo, enfim, pessoas que mereceriam uns desaforos do jovem que havia enricado e se sentia dono do mundo.

Já um outro companheiro de minhas lidas radiofônicas tinha desejos e planos semelhantes, mas apelaria para a escatologia: iria defecar na porta do gabinete do autoritário diretor da emissora, com um bilhete assumindo a autoria.  E dava risadas quando revelava seu plano, o safado.  Esse negócio de defecar como forma de desagravo não chegava a ser novidade na época, lá pela década de 70 do século passado,  já que o talentoso ponteiro Éder ficou de fora de um Gre-Nal  por ter feito sujeira no sapato de Telê Santana, o competente mas exigente técnico que voltou a fazer do Grêmio um time vitorioso.
Pois eu, na minha infinita generosidade, usaria a grana ganha pelo efeito da sorte para brindar amigos e desafetos.  Uma ação que batizaria como ViaDutra da Bondade!  Os amigos receberiam mais  e seria uma prova de afeto e reconhecimento.  Os outros menos e como tapa de luva diante de alguma insolência, quem sabe uma arrogância em tempo passado.  Não gastaria meu rico dinheirinho com vinditas estéreis.  Porém, como nunca fui bafejado pela sorte – e olha que faço uma fezinha com regularidade – acredito que não é pelo ganho na jogatina que poderei   mostrar o quanto bondoso sou.  Porém, não custa sonhar.

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