2013 já
vai tarde, 2014 está logo ali e como sempre faço nesse período antecipo meus
pedidos ao novíssimo ano e assumo os compromissos de contrapartida para
equilibrar a relação.
Em tese,
mas só em tese por enquanto, não quero paz, mas as provocações que constroem e
não as que desqualificam. Quero emoções novas e desafios que eu mesmo me
imponha. Quero um pouco de desarmonia, que não é sinônimo de conflito, mas uma
forma de mostrar outros matizes e semitons onde pode estar contida a verdade verdadeira.
Sigo
reiterando o apelo feito em anos anteriores: encarecidamente, livrai-me dos chatos; vale repetir, livrai-me
dos chatos. E reforço os outros pleitos: mantenha longe de mim também os
mordedores em geral, os picaretas de todos os matizes e os pedintes de favores
que não estão ao meu alcance. Se possível, afaste os hipocondríacos, com suas
doenças e seus remédios para todos os males. Quero distância igualmente dos
baixo astrais, dos angustiados, dos obsessivos porque tenho medo de contrair
uma deprê. E mais, se não for abuso, suplico: mande para longe os duvidosos de
caráter, os falcatruas, os descompromissados e os sugadores de energia. Coloque
em fuga, por especial gentileza, os arrogantes, os prepotentes, os invejosos e
todos da mesma laia.
Repito
igualmente outros pedidos, porque não dá
para postergar. Apelo para o teu anunciado espírito harmonioso para
reaproximar-me dos que ofendi e se apartaram, e dai-me o dom da tolerância para
aceitar e receber os que se desgarraram. Faça pousar em mim a deusa da
paciência e que venham juntas as amazonas altivas da fé e da esperança. Com
isso, serei fortaleza que não se dobra, terei coragem para enfrentar as
adversidades e energia para novos desafios, mas que sejam bem menores e menos
intensos do que os do já decrépito 2013.
No
repeteco, salve-me das filas, as dos bancos e dos supermercados, e todas as
outras onde corra o risco de ser interpelado por desconhecidos que me tiram
para confessionário e interrompem minhas ruminações. Não admita, por compaixão,
que a guria bonita me pergunte a idade antes de distribuir a senha, se a
maldita fila for inevitável. Guarde uma boa vaga de Idoso pra mim nos
supermercados. Abusando da compaixão,
não permita que as bonitinhas me chamem de tio e muito menos de vô, chamado que
reservo apenas para a Maria Clara e a Rafaela.
E tem
mais uma listinha facilzinha e repetida, meu imberbe 2014. Não deixe faltar uma
boa carne na minha mesa, saladas variadas, cerveja gelada, um vinho encorpado
para as noites de inverno e um espumante para acompanhar o gosto feminino. E se
não for pedir muito, que eu reencontre aquele doce de abóbora, de comer
ajoelhado e o pudim que justifica nossa ida frequente aquele restaurante. Ah, e aquela berinjela, a carne
de panela com batatas e uma caixa de Bis só pra mim. Pode ser de Ferrero Rocher
também. Se não for contraditório,
aproxime de mim essas tentações. E que sempre possa dividir a boa mesa com
companhias agradáveis, brindando os bons momentos da vida que não são muito e
até por isso precisam ser valorizados. Conceda-me, de vez em quando, jogar um
pouco de conversa fora, curtir mais a minha gente, vagabundear sem culpa,
experimentar o novo e, por que não?, me entregar a alguma extravagância. E dá
uma forcinha e inspire os médicos para que receitem menos remédios e exijam
menos exames.
Em
contrapartida, Novíssimo Ano, prometo continuar sem fumar , me exercitar com
regularidade, comer menos fritura e beber moderadamente, cometer menos
infrações no trânsito, voltar a ler e fuçar menos na internet, ouvir mais e
falar menos, enrolar menos nas aulinhas, respeitar mais e debochar menos, lembrar o
aniversário de casamento e outras datas importantes e não desejar a mulher do
próximo, nem a do distante, porque os outros pecados não os cometo. A não ser
que um pouco de rabugice seja pecado, dos veniais, mas até isso pretendo
corrigir. Nesses termos peço sua compreensão e deferimento, jovem e
bem-aventurado Novo Ano.
Gênio! Saboreei cada palavra!
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