Conheço gente que tem fixação em assuntos mortuários. O caso mais notório é o do Paulo Sant’Anna, que está fazendo seu necrológico em etapas e deixando o legado de suas crenças e valores, afetos e desafetos, em colunas seriadas. A bem da verdade, essa obsessão do Sant’Anna não é de hoje. Na antiga redação de esportes da Zero Hora, o pessoal folgava com ele - que não perdia enterro e fazia questão de pegar na alça dos caixões, sempre na primeira e mais nobre posição -, antecipando que ele encontraria uma forma de segurar a de seu próprio ataúde. Reprovável esse humor negro!
Outro amigo, das relações do Sant’Anna e minha, só me liga para dar notícia ruim, de conhecidos ou nem tantos que se foram deste vale de lágrimas. Toca o celular e lá vem ele com a notícia impactante, sem qualquer preparação prévia:
- Morreu o fulano! Preciso saber se tu pretendes ir ao enterro.
É assim, de supetão. Com o tempo cheguei a conclusão que o tal parceiro me liga não para que me solidarize com os familiares do defunto, mas para gozar da minha carona. Pior é quando ele fica sabendo do falecimento após o enterro. O sujeito se martiriza.
- Fiquei sabendo da morte do fulano pelo jornal, que coisa! Por acaso, vais à missa de 7º Dia?
Esse amigo, mais um grupo de jornalistas bandalhos, participava de uma tal de Confraria da Caveira Preta, que se reunia mensalmente, entre iguarias gastronômicas e muitas cervejas, para conferir a lista feita no início do ano dos que apostavam que seriam chamados para outra dimensão, durante o período. Cada confrade tinha direito a 10 votos e quem acertasse o maior número de vítimas não pagava o jantar de fim de ano. Valia incluir desafetos, gente tida pela bola sete e personalidades em geral. Os indicados não podiam ser repetidos nas diferentes listas. De tanto ser votado, o Sant’Anna decidiu participar também da confraria e ganhou imunidade, pelo menos naquela congregação.
Pelo que soube, a confraria se desfez depois da morte de seu patrono, o queridíssimo Evaldo Gonçalves.
Outro caso sobre o mesmo tema me foi contado por uma dileta amiga. Um tio da moça fez um estranho pedido à família, antecipando o post-mortem: queria ser cremado e que um tantinho das cinzas fosse colocado numa caixa de fósforos e depositado em um canto discreto da Abadia de Westminster, na Inglaterra:
- Assim vocês poderão se orgulhar de ter um parente com seus restos mortais repousando junto a reis e rainhas, justificava o cidadão.
De minha parte, tenho apenas uma preocupação, já repassada a amigos e parentes: no meu velório, que demore em chegar, fiquem atentos às mulheres de óculos escuros. Se for desconhecida da maioria, aí mora o perigo. Intervenham. Não quero vexames na minha despedida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário