A diminuição do preconceito contra os gays de todos os matizes deve muito às novelas da TV. Não há um dramalhão sequer que não tenha sua porção gay e o detalhe é que todos pertencem à banda boa da trama, são leais e felizes, diferente do machão típico, ao qual é destinado sempre o papel de mau caráter. Pode ser uma leitura simplista dos roteiros televisivos, mas a verdade é que esses papéis não são designados ao acaso. Na origem e na condução da história está o autor e não é segredo para ninguém que boa parte dos nossos novelistas são gays, daí que não pegaria bem desqualificar os seus iguais com papéis menos nobres.
Semana passada, por exemplo, o SBT exibiu o primeiro beijo entre mulheres em novelas, que foi saudado como um avanço nesse processo. No caso, a ficção esta bem atrasada em relação à realidade, basta circular pela Cidade Baixa...
O que se observa agora é um sutil movimento para transformar os gays das novelas em personagens menos caricatos, sem tantos trejeitos. Começam a aparecer homossexuais que enganam como heteros, mas que assumem que estão fora do armário há tempos. Isso quanto ao, digamos, naipe masculino. Quanto às lésbicas, que passavam ao largo da caricatura, parece estar ocorrendo um movimento inverso, com o aparecimento de personagens mais masculinizadas. Talvez seja só impressão minha, sei lá. Também pode ser só impressão minha mas tenho visto muitas cenas de brigas entre mulheres nas novelas – é um tal de puxa cabelo, unhada pra cá e prá lá e agarrões como se fossem moleques de rua. Não sei aonde querem chegar os nossos novelistas trazendo as mulheres para um patamar menos civilizado.
Isso me incomoda, ao contrário da exposição maior das chamadas relações homoafetivas, pois convivo bem com a diversidade. Só não peçam para me desculpar por ser hetero. É importante ser claro nessa hora, incompreensões e radicalismos - de todas as partes - fora.
Um exemplo de como tratar o tema com leveza, bom humor e sem preconceito é a série Macho Man, que a Globo exibe às sextas-feiras. Na modesta opinião do ViaDutra , Macho Man é – disparada – a melhor série da nova safra da Globo. Os textos são do casal Fernanda Young e Alexandre Machado, o mesmo de Os Normais, e a história gira em torno do cabeleireiro Zuzu ( Nelson na vida "real”), que leva uma pancada na cabeça, deixa de ser gay e passa a gostar do sexo oposto. Na nova “ fase”, Zuzu, numa magistral interpretação do ator e diretor Jorge Fernando, compartilha suas angustias e dúvidas com Valéria, sua assistente no salão de cabeleireiros, papel que Marisa Orth desempenha em grande estilo, fazendo o gênero ex-gorda que não consegue despertar a atenção dos homens. Todo o elenco, formado por coadjuvantes não muito conhecidos, tem uma performance de primeira, mas as rápidas transposições de Jorge Fernando durante os diálogos – de gay para hétero e vice versa – fazem os melhores momentos da série.
A questão central que está posta na divertida comédia é, na real, uma afronta a um tabu consolidado na sociedade: não existiria a figura do ex-gay, uma vez que a opção pela homosexualidade seria um caminho sem volta. O mote é interessante, mas reina grande expectativa sobre como os autores desatarão esse nó. Enquanto isso, divirta-se, sem preconceitos, com Macho Man.
Nenhum comentário:
Postar um comentário