sábado, 10 de julho de 2010

Paul, Larissa e uma tese machista

Paul, personagem da Copa 2010


Há algo de errado no reino do futebol. A constatação decorre da supremacia na mídia de personagens extra campo em detrimento dos craques que tem sido maltratados pela Jabulani na Copa da África. A própria Jabulani foi erigida em personagem da Copa pelas ciladas que pregou nos jogadores, enquanto a Vuvuzela ganhou espaço nobre na galeria de ícones pela sua estridente chatice.

Mas a grande celebridade desta Copa, mais do que o holandês Robben ou o espanhol Xavi, foi o polvo Paul. Debaixo d’agua , provocado a escolher a seleção vencedora a cada jogo, o estranho bicho tem acertado todas. Para a decisão, apostou na Espanha. O polvo profeta vive na Alemanha e provavelmente nunca visitará a África do Sul, apesar da súbita celeridade, assim como aquela moça paraguaia que, desde Assunção, conseguiu generosos espaços na mídia graças as suas formas insinuantes e à promessa de se desnudar em praça pública caso a seleção do seu país chegasse ao título mundial. Como os valentes paraguaios ficaram no meio do caminho tivemos que nos contentar apenas com um ensaio sensual da Larissa Riquelme. O bispo Lugo já está de olho.

E tem ainda as musas da reportagem que incendiariam a imaginação dos rapazes na África, a maioria na secura de mais de um mês. Falam maravilhas de uma morenaça costa-ricense e uma não menos atraente italiana teria sido responsável pela falha do zagueiro da seleção,seu namorado, mais preocupado com a presença da moça atrás do gol do que com os atacantes adversários. A Ótima Bernardes é fichinha perto desse time de jornalistas estrangeiras.

Foi-se o tempo em que as copas eram referenciadas por jogadores destaque, como a Copa de Pelé , de Garrincha, ou de Cruiff e Beckembauer, de Maradona e Platini, de Romário e Ronaldo, ou ainda, a Copa de Zidane. A ameaça que paira sobre todos os que gostam de futebol é que 2010 seja lembrada como a Copa do molusco Paul.

A verdade é que mesmo os treinadores ganharam mais destaque que os jogadores, tanto assim que tem direito a uma câmera exclusiva durante as partidas. É o caso de Maradona, porque é Maradona, de Dunga por seu figurino, do alemão Joahim Löw por sua elegância (embora tenha perdido pontos ao ser flagrado degustando uma meleca), do espanhol Del Bosque por sua sisudez, pra citar os mais visados.

O que antes era uma cobertura jornalística focada principalmente no futebol, hoje está mais para o conteúdo das revistas Contigo e Caras. Estão faltando craques para pautar a mídia ou ampliou-se a abrangência do material produzido, com um viés de frivolidade?

Claro que tenho uma tese a respeito. E uma tese provocativa. O crescente interesse das mulheres pelo mundo do futebol, inclusive na reportagem esportiva, é que determinou essa guinada. Nesse contexto, os esquemas táticos, a luta travada em campo, a tensão inerente à disputa, a jogada coletiva ou o virtuosismo do craque, a celebração da vitória e a indignação pela derrota, valores do universo masculino do futebol, foram acrescidos de outros nem tão esportivos – as coxas dos jogadores, os tórax bem delineados pelas camisetas justas, o estilo dos penteados, as barbas que se ficam bem em uns e não em outros, as sobrancelhas depiladas e outros detalhes estéticos que só as mulheres percebem. Foram instituídas listas dos mais bonitos e nem os austeros árbitros escaparam.

O belo ressurge no futebol, mas com outro olhar e expresso de outra forma que não a virilidade machista. Daí para a frivolidade foi um passo.

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