sexta-feira, 2 de julho de 2010

Boca santa!

Que que eu tinha que escrever que só temia a Holanda nesta Copa? Não deu outra: fomos solenemente encaçapados. Adeus, hexa. Agora o País inteiro vai se dedicar a outro esporte preferido dos brasileiros: apontar culpados pela eliminação. Foi o mau humor do Dunga que contagiou a seleção? Foi o destempero do Felipe Melo? Foi o pífio desempenho do Kaká? Ou foi a afonia do agourento Galvão Bueno que deu azar?

Neste momento, pelo menos 180 milhões de brasileiros discutem a questão. E certamente existem pelo menos 180 milhões de teses, vale dizer, 180 milhões de culpados. No local onde assisti ao jogo, meus parceiros culparam uma manta amarela que ganhei de brinde e usei pela primeira vez. Quase fui linchado por causa da inocente mantinha, quando na verdade, o meu sentimento foi de que o azar emanou das pipocas e amendoins, acepipes que substituíram o pão de queijo da vitoriosa jornada contra o Chile.

Humildemente me atrevo a teorizar que no jogo contra a Holanda o vilão brasileiro foi o condicionamento. O time estava muito condicionado à vitória, aos escores de vantagem e foi só o adversário equilibrar o jogo com aquele gol espírita, que a nossa seleção se desestabilizou. Não havia experiência anterior na Copa de enfrentamento de igual para igual. E o Brasil sucumbiu mais por seu mérito – a fixação em estar em vantagem – do que pelos seus defeitos. É o meu pitaco, minha contribuição ao grande debate nacional do momento. A ironia em tudo isso é que o setor mais qualificado e elogiado do time brasileiro, a defesa, falhou nos dois gols dos holandeses. Julio César, Lúcio e Juan, especialmente os três, não mereciam esse triste desfecho.

A verdade é que investimos uma enorme energia na torcida pela seleção, mesmo que o time de Dunga não fosse de entusiasmar. Agora precisamos administrar a ressaca. Ou como diria o mestre Drummond, na memorável crônica "Perder, Ganhar, Viver", após a eliminação brasileira na Copa de 82, em circunstâncias muito semelhantes: “A Copa do Mundo de 82 acabou para nós, mas o mundo não acabou. Nem o Brasil, com suas dores e bens. E há um lindo sol lá fora, o sol de nós todos. E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano já está na segunda metade?”

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