terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Modismos gaúchos

*Publicado em Coletiva.net em 11/02/2025

O gaúcho em geral e o porto-alegrense em especial adoram um modismo.  Talvez para compensar o nosso provincianismo atávico, adotamos qualquer novidade que vem de fora e se for no segmento da gastronomia, mais ainda.

Lembro até hoje de conhecidos que residiam em Caxias do Sul e formavam caravanas à Porto Alegre só para saborear um McDonald qualquer, quando a rede aqui instalou sua primeira unidade. Quase romperam relações comigo quando revelei que havia frequentado, numa viagem aos EUA,  lojas do MacDonald cuja higiene deixava a desejar e uma outra em que chovia dentro e as goteiras eram recepcionadas por prosaicos baldes, como nas chuvaradas tupiniquins.  

Nem preciso voltar muito no tempo para outro exemplo. Há uns cinco anos, a rede Starbucks instalou num shopping sua primeira loja na Capital e flagrei, em passagem pelo local, uma fila de boas proporções à espera do atendimento. O principal produto é o café, que pode ser encontrado no mesmo shopping em outras locais, tão ou mais saborosos que o da empresa dos EUA e certamente mais baratos. Mas a fila era no café com a grife americana. Vale destacar que o anúncio da instalação da Starbucks ocorreu no Paço Municipal, com a presença do prefeito, secretários e imprensa. Foi, portanto, um autêntico evento, do qual fui testemunha ocular e auditiva. 

Já vivemos a febre das pizzarias, que ainda resistem entre os jovens e as famílias mais numerosas devido aos rodízios abundantes a preços acessíveis e suas abomináveis pizzas doces. Vivi para ver a onda dos sushis e temakes, que conseguiram repartir cardápios com pouco respeitáveis churrascarias. Sim, esse crime de lesa gauchismo existiu, com direito a letreiros anunciando a “atração” gastronômica. 

Agora o espaço novidadeiro é ocupado pelas hamburguerias e mais os bistrôs e as cafeterias que servem até café, sem contar o tal açaí na tigela. Qualquer porta de garagem vira bistrô.   Enquanto isso, minguam as churrascarias, que devem ficar mais proibitivas pelo preço da carne lá nas alturas. 

Para não me acusarem de excesso de rabugice contra as invencionices culinárias, chamo a atenção para a nova onda: as baber shops, que pululam pela cidade, substituindo o bom e tradicional barbeiro de fim de linha. Já nem falo da inflação de farmácias, comandada pelas duas principais redes, mas aí penso que o caso tem mais a ver com a vocação brasileira para a hipocondria do com as necessidades de saúde da população.

Veio também a onda dos atacarejos, incluindo a invasão de redes de outros estados, todas berrando suas ofertas na TV.  Deve ser tendência de mercado, dirão os especialistas. Porém, não dá para esquecer a  receptividade cada vez maior aos importados  Halloween, que levo livre porque fazem a alegria da criançada, e ao Dia de São Patrício, que abomino por causa da sua intragável cerveja verde. A propósito, me recuso a comprar em loja que anuncia liquidação como “sale”.

Só o que me consola é que observo uma tímida, mas crescente disseminação pela cidade dos botecos, com seus chopps bem tirados, seus acepipes fritos e ambiente barulhento, mas acolhedor, mesmo que o atendimento seja um tanto distraído, como em uns e outros que frequento.


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