* Publicado nesta data em coletiva.net
Parece implicância comigo. É só entrar numa fila e ela
para de andar ou passa a se mover mais lentamente. Se trocar para a do lado vai
acontecer a mesma coisa e aí a fila que abandonei ganha agilidade de corrida de
100 metros rasos. No supermercado a
demora é porque a mocinha da caixa se
atrapalha com o troco e chama o supervisor ou o preço do produto na gôndola não
corresponde ao do sistema e aí o supervisor tem que intervir de novo ou, ainda,
a senhorinha não consegue encontrar a carteira e o cartão na bolsa, enquanto
troca amabilidades com os circunstantes. E a fila para.
E isso acontece
sempre quando está chegando a minha vez. Que sina, logo comigo que tenho sido
tão gentil, deixando passar à frente quem tem poucas mercadorias, especialmente
se forem moças de fino trato ou veteranos como eu.
No pedágio é a mesma coisa. De longe verifico qual a
menor fila, mas é só adentrar nela que o andamento fica devagar, quase parando,
enquanto ao lado as fileiras de carros parecem corridas de Fórmula 1.
O mais inacreditável são as filas que se formam para o
pagamento de compras nas melhores casas do ramo. Deve haver algum propósito que
não alcanço para as dificuldades impostas aos consumidores na hora de
transferir dinheiro para o caixa do estabelecimento comercial.
Já dá pra notar que tenho ojeriza às filas, diferente
de muitos cidadãos da mesma faixa etária que acordam cedo para desfrutarem de mais tempo da companhia de seus iguais nas
fileiras e lá, num ritual que se repete
diariamente, socializarem suas vidas e
seus problemas de saúde. Se forem senhoras de mais idade no recinto a conversa
vai girar também sobre os netos – “umas gracinhas” – e maledicências sobre os
genros ou noras que “não fazem as coisas como no nosso tempo”. Por isso, o pessoal da chamada terceira idade
odeia feriado porque não tem filas disponíveis.
Nas filas das sessões de autógrafos – e tenho
frequentado muitas ultimamente – procuro chegar cedo para ser um dos primeiros
a confraternizar, tirar retrato com o autor e já libero a posição para quem vem
em seguida. Se na minha frente a
conversa entre autor e futuro leitor começa a se espichar. não hesito em
recomendar “menos conversa e mais autógrafos”. Pode parecer grosseria da minha
parte e me defendo afirmando que é uma forma de respeitar quem está na espera
Um avanço na minha terapia anti filas foi a criação do
pix associado aos aplicativos bancários. Assim me livrei das esperas para ser
atendido nos bancos, que agradecem a minha ausência e, se possível, a de
todos os outros correntistas que ainda comparecem às agências onerando as operações destes templos
financeiros.
De fato, sou um impaciente e ansioso raiz, Até
pesquisei para saber se havia alguma fobia já identificada nesse caso, mas o
máximo que encontrei foi a filofobia, medo de se apaixonar. A palavra vem do
grego “filos”, que significa amar ou ser amado, nada a ver com filas. A propósito,
um dos sinônimos de fila é “bicha”, que prefiro
não usar para não ser acusado de homofobia. E já que não existe ou não foi definida
essa fobia, tomo a liberdade de inventar a filafobia. Não quero créditos pela invenção, apenas distância
das fileiras humanas e motorizadas que se formam por qualquer motivo.
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