segunda-feira, 29 de julho de 2024

Sou um filafóbico

 * Publicado nesta data em coletiva.net

Parece implicância comigo. É só entrar numa fila e ela para de andar ou passa a se mover mais lentamente. Se trocar para a do lado vai acontecer a mesma coisa e aí a fila que abandonei ganha agilidade de corrida de 100 metros rasos.  No supermercado a demora é porque a mocinha da caixa  se atrapalha com o troco e chama o supervisor ou o preço do produto na gôndola não corresponde ao do sistema e aí o supervisor tem que intervir de novo ou, ainda, a senhorinha não consegue encontrar a carteira e o cartão na bolsa, enquanto troca amabilidades com os circunstantes. E a fila para.

 E isso acontece sempre quando está chegando a minha vez. Que sina, logo comigo que tenho sido tão gentil, deixando passar à frente quem tem poucas mercadorias, especialmente se forem moças de fino trato ou veteranos como eu.

No pedágio é a mesma coisa. De longe verifico qual a menor fila, mas é só adentrar nela que o andamento fica devagar, quase parando, enquanto ao lado as fileiras de carros parecem corridas de Fórmula 1.

O mais inacreditável são as filas que se formam para o pagamento de compras nas melhores casas do ramo. Deve haver algum propósito que não alcanço para as dificuldades impostas aos consumidores na hora de transferir dinheiro para o caixa do estabelecimento comercial.

Já dá pra notar que tenho ojeriza às filas, diferente de muitos cidadãos da mesma faixa etária que acordam cedo para desfrutarem de  mais tempo da companhia de seus iguais nas fileiras  e lá, num ritual que se repete diariamente,  socializarem suas vidas e seus problemas de saúde. Se forem senhoras de mais idade no recinto a conversa vai girar também sobre os netos – “umas gracinhas” – e maledicências sobre os genros ou noras que “não fazem as coisas como no nosso tempo”.  Por isso, o pessoal da chamada terceira idade odeia feriado porque não tem filas disponíveis.

Nas filas das sessões de autógrafos – e tenho frequentado muitas ultimamente – procuro chegar cedo para ser um dos primeiros a confraternizar, tirar retrato com o autor e já libero a posição para quem vem em  seguida. Se na minha frente a conversa entre autor e futuro leitor começa a se espichar. não hesito em recomendar “menos conversa e mais autógrafos”. Pode parecer grosseria da minha parte e me defendo afirmando que é uma forma de respeitar quem está na espera

Um avanço na minha terapia anti filas foi a criação do pix associado aos aplicativos bancários. Assim me livrei das esperas para ser atendido nos bancos, que agradecem a minha ausência e, se possível,  a  de todos os outros correntistas que ainda comparecem às  agências onerando as operações destes templos financeiros.

De fato, sou um impaciente e ansioso raiz, Até pesquisei para saber se havia alguma fobia já identificada nesse caso, mas o máximo que encontrei foi a filofobia, medo de se apaixonar. A palavra vem do grego “filos”, que significa amar ou ser amado, nada a ver com filas. A propósito, um dos sinônimos de fila é  “bicha”, que prefiro não usar para não ser acusado de homofobia. E já que não existe ou não foi definida essa fobia, tomo a liberdade de inventar a filafobia.  Não quero créditos pela invenção, apenas distância das fileiras humanas e motorizadas que se formam por qualquer motivo.

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