sábado, 29 de junho de 2024

REFLEXÕES EM TEMPO DE FESTAS JUNINAS

1.Falar em quadrilha nesta época tem assustado muita gente à esquerda, à direita e ao centro. Calma, gente, é quadrilha de festa junina.

1.1.Mas chama a atenção a proliferação das quadrilhas no Nordeste...

2.Afinal, Vini Jr foi sênior ontem na seleção, nos EUA.

3.Por aqui,  nos dias de jogos da dupla Grenal cresce a procura de Rivotril nas farmácias.

4.Meu temor é que a dupla Grenal se comporte como aqueles vinhos de rótulos famosos, mas de safra ruim.

5.A grande vantagem do VAR sobre os árbitros é que não tem mãe.

6.Pergunta que não quer calar: por que as meninas do futebol não trocam camisetas em campo com as adversárias?

7.Daqui a pouco teremos mais sites de apostas do que farmácias São Joao e Panvel juntas.

8.Da série Sou do Tempo: em que a concorrência entre farmácias era Panitz x Velgos.

8.1.Que se uniram para criar a Panvel.

9. Nos EUA, o que vai eleger Trump é a caduquice de Biden.

10.O clima no RS é para os fortes, aliás, os muito fortes.

11.Provérbio alemão em causa própria: “As árvores mais antigas dão os frutos mais doces”.

11.1..Em compensação, a terceira idade é mais sofrida no inverno

12.Impressionante o que os robozinhos das redes sociais sabem a meu respeito. O que recebo de ofertas de vinhos!

13.Redes sociais, quantas defesas hipócritas nas tuas postagens; quantos comentários raivosos; quanta bobagem sem noção.

13.1.Mas o pior mesmo das postagens nas redes sociais é esperar um comentário denso, forte, consistente e receber só um kkkk...

14.O que aparece de demagogo e oportunista durante as crises, Esse psoal não é fácil e já não engana mais.

15. Pra concluir, gosta do “friozinho gostoso”? Pode ficar com a minha parte. 

 

 

segunda-feira, 24 de junho de 2024

REFLEXÕES DE VOLTA EM EDIÇÃO COM MUITOS REPETECOS

1.Não entendi porque recebi hoje de amigos colorados mensagens de “boa segunda”.

2.Próxima mãe de todas as batalhas: Estragos provocados pelo El Nino x Estragos provocados pela La Nina.

3.Pandemia, Estiagem, Dengue, Enchentes... Daqui a pouco empatamos com as sete pragas do Egito.

4.Ditado modificado: “Depois da tempestade, vem as promessas governamentais”

5.O “Fora (alguém)” é uma manifestação democrática ou golpista, dependendo do lado que a propaga.

6.Anotem e confiram: Cada vez que afrouxa a legislação para facilitar obras e compras, facilita também a corrupção.

7.A vacina mais eficaz contra a corrupção é votar bem.

8. O que seria da crônica diária sem Bolsonaro, Lula, os filhos dos PRs, , os boquirrotos do STF, o JN...? Morreríamos de tédio.

9.Quer passar por intelectual? Inclua Resiliência e Empatia no seu vocabulário.

10.Quer passar por ativista? Inclua Fascismo ou Fascista em qualquer observação sobre fatos ou pessoas.

11.Ouvido na bancada ao lado: Virgem na política não se utiliza de rachadinha.

12.Da série dúvida cruel: É depiladinha, raspadinha ou rachadinha? Ou dá na mesma?

13.Na Alemanha, os times que conseguem resultados na base da sorte é porque nasceram com a Bundesliga pra lua.

14. Falar nisso, o vagalume é um inseto que só brilha por causa da bunda, Conheço muita gente que também é assim. (da postagem alheia)

15.Da série O Passado me Condena: Meu primeiro porre foi com Biotônico Fontoura.

16.Mas eu gostava mesmo era do Almanaque do Biotônico, cheio de joguinhos e charadas.

17.Já pizzas são uma aula de geometria: são assadas redondas, embaladas em caixas quadradas e servidas em triângulos.

18.A única coisa boa do frio é o vinho, de preferência tinto.

19.Quer passar por intelectual? Inclua Resiliência e Empatia no seu vocabulário.

20.Quer passar por ativista? Inclua Fascismo ou Fascista em qualquer observação sobre fatos ou pessoas.

21.Sabem o que o Facebook tem de melhor? É ótimo para felicitar aniversariantes e para os aniversariantes agradecerem.

22. Mercham da casa: na coluna de hoje em Coletiva.net, “A reinvenção do rádio”. Não perda.

A reinvenção do rádio

*Publicado nesta data em Coletiva.net

O rádio, que se previa morrer com o advento da TV, é a mídia que mais tem revelado capacidade para se reinventar. As mudanças recentes começaram com  o fim da onda média, OM ou AM, que popularizaram o rádio e garantiam a localização das emissoras no dial. Outro dia percorri o AM de ponta a ponta e consegui ouvir, em meio a chiadeira, três emissoras de baixa potência e programação religiosa.  A Guaíba, que ainda resistia nos 720, também acaba de suspender suas transmissões em onda média. Mesmo o dial do FM vai perdendo status para as captações via Internet.

O mais recente anúncio da Rádio Gaúcha, com justos louvores à cobertura da enchente, ignora completamente na ilustração da peça gráfica aquilo que conhecíamos por receptor de rádio, o radinho portátil na maioria dos casos, optando por uma tela de computador. Na tela aparecem três comunicadores da casa e aí está outra revolução ligada ao rádio: a transmissão com imagens, que virou obrigatória nas emissoras jornalísticas, sobrecarregando os profissionais na ponta, mas proporcionando uma prestação de serviços extra, muitas vezes mais ágil do que a das TVs, que teriam a responsabilidade primária de gerar imagens dos locais reportados.

Esse processo de casar as imagens dos estúdios ou das reportagens nas ruas com a programação ao vivo começou com a Jovem Pan em 2007, quando foi dado um passo decisivo para a consagração da emissora como veículo multiplataforma. Com a criação da Jovem Pan Online, o que era só áudio passou a ter imagens, permitindo aos, até então apenas ouvintes, assistirem à programação na Internet. Deu tão certo que a estratégia logo foi imitada pelas concorrentes paulistas e hoje está disseminada entre as emissoras de conteúdos jornalísticos em todo o país.

Outro processo irreversível que está impactando a radiofonia é o dos podcasts. Extensão e desdobramento das programações, atrações com variedade de temas, acessíveis a qualquer tempo, os podcasts, segundo estimativa do relatório Global Podcast Listener Forecast possuem mais de 39 milhões de brasileiros como ouvintes. A previsão é de que cheguem a 52,4 milhões de ouvintes no próximo ano. Com esse crescimento significativo no país, os podcasts passam a se desapegar do rádio tradicional e consolidam-se como um meio de comunicação importante e versátil.

Também sobressaindo-se do rádio convencional, com transmissores, antenas e dependentes de concessão e regulações do governo, as rádios web já são uma realidade presente em todo o mundo. Para começar, mudou radicalmente a forma de captar as transmissões e o fenômeno no Brasil tem muito a ver com o fato de possuirmos hoje mais dispositivos digitais do que habitantes. São cerca de 450 milhões em uso, entre notebooks, tablets, smarthphones e computadores. Em consequência dessa revolução tecnológica, que não é exclusividade brasileira, surgiu e cresceu a migração da radiodifusão para a Internet (streaming). Nesse contexto, surgiram também as emissoras 100% Web, com funcionamento apenas pela internet. Hoje, qualquer cidade, comunidade, grupo social ou empresa pode ter seu serviço de rádio.

A consolidação das rádios web pode ser medido pelo que já se constata nas transmissões de futebol no competitivo mercado gaúcho. Em recente rodada de fim de semana do Brasileirão, as chamadas jornadas esportivas identificadas com esse ou aquele clube, se impuseram em audiência sobre as rádios tradicionais. A rádio do colorado Baldasso manteve a liderança, muito à frente das concorrentes, e a jornada do gremista Alex Bagé assumiu a segunda posição, que era da poderosa Rádio Gaúcha, enquanto as outras emissoras que transmitem futebol ficam bem atrás na preferência dos ouvintes vermelhos ou azuis,

Em síntese, o rádio sempre soube se adaptar às inovações tecnológicas ofertadas a cada tempo, bem como às mudanças sociais decorrentes da Internet e pela convergência das mídias, proporcionando, assim, novas alternativas de produção, veiculação e consumo permitidas pelas redes sociais e plataformas digitais.

Entretanto, para além das soluções tecnológicas e formatos, o que continua agregando valor, credibilidade e opção pela audiência, é o conteúdo qualificado e/ou bem direcionado dos veículos jornalísticos em geral e do rádio em particular, como ficou mais evidente na cobertura, ágil e abrangente, da tragédia climática que assolou o RS recentemente.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

O papa é pop?

*Publicado nesta data em Coletiva.net

De incensado por todos, o papa Francisco passou a ser contestado por muitos. As criticas crescem,, inclusive, no seio da Igreja e por matérias de fé, indo de encontro a  chamada infalibilidade papal.  Este é um dos dogmas do catolicismo, promulgado por Pio IX no Concílio Vaticano I, em 1870.  Nesses casos, o papa seria amparado pelo Espírito Santo.

Será que é inspiração do Espírito Santo a contestação a Francisco, sobretudo quando defende a participação dos gays na Igreja? “Eles são filhos de Deus”, justifica o papa, que permitiu até que os padres abençoassem casais do mesmo sexo, gerando uma forte reação da ala mais conservadora da Igreja. Certamente não foi o Espírito Santo que orientou Francisco quando pediu, em encontro com os bispos italianos, que não aceitem padres abertamente gays. “Já existe bichice demais nos seminários”, falou Francisco.  O papa é pop, mas nem tanto,  por isso o Vaticano se apressou em apresentar as desculpas papais pela linguagem homofóbica utilizada.  Na semana passada, ele reincidiu e, numa reunião fechada com padres, afirmou que “existe um ar de bichice no Vaticano”.

Os episódios permitem duas constatações: Francisco usou uma linguagem inusitada, mais apropriada para uma mesa de boteco do que para quem é chamado de Santo Padre; e, certamente pela primeira vez, o Papa se obriga a um pedido de desculpas após um pronunciamento.

Outra polêmica envolvendo o Pontífice ocorreu em encontro fechado com jovens sacerdotes italianos. Em resposta a um questionamento da plateia, Francisco disse que “fofoca é algo para mulheres”, declaração devidamente gravada, sem que o Vaticano tenha se posicionado a respeito.

Nesses casos permitem-se três conclusões: existem muita bichice nos seminários católicos e no Vaticano; tem bispo traíra vazando as exortações do papa e tem muito padre fofoqueiro no clero romano.  Pelo menos duas conclusões se baseiam em declarações do chefe da Igreja, então devem ser verdadeiras, afinal o papa é infalível.

segunda-feira, 10 de junho de 2024

Não dá pra comparar com Simenon

*Publicado nesta data em coletiva.net

Minha jornada literária de 2024 deveria ter cumprido sua primeira etapa no dia 30 de abril, com o lançamento do livro Viva a Várzea! A inundação que flagelou Porto Alegre e a maioria das regiões do Estado, levou à decisão de transferir o evento para uma nova data que já foi definida: será amanhã , no mesmo Chalé da Praça 15, onde estava programado originalmente. Será uma maneira de prestigiar, na sua volta por cima, o tradicional estabelecimento, duramente atingido pela subida das águas.

Viva a Várzea! estará também na Feira do Livro – Reconstrói RS, promovida de sexta-feira à domingo no Instituto Ling. O objetivo é apoiar editoras e livreiros que pedem socorro pelas perdas na enchente.  Só a Livraria Cameron teve cerca de 100 mil livros que viraram uma montanha de lixo por conta da inundação em pontos de venda e no Centro de Distribuição. Os prejuízos se acumulam, sem distinção, entre pelo menos 26 empresas pequenas, médias e grandes dos ramos livreiro e editorial. Além das perdas pelo avanço das águas que inutilizaram livros, moveis e equipamentos, o setor sofreu também com a interrupção das vendas.

Os pacotes de livros com o Viva a Várzea! ficaram intactos no Chalé, porque foram acondicionados num local elevado. Pelo menos um motivo de tranquilidade para os outros 16 parceiros da coletânea, entre eles uma representante feminina. São os autores dos  textos que resgatam as memórias de cada um sobre as vivências no futebol varzeano, desde as  bicancas nas peladas de rua aos campos maltratados mas gloriosos, passando pela futsal e o futebol de praiano.

Já aprendi que sempre que se mexe com as lembranças do passado abre-se um cenário das melhores emoções, mesmo que os acontecimentos não tenham sido dos mais felizes. Só que aprendi também que os episódios negativos, na maioria dos casos, viram folclore quando relatados no presente. Junte-se a isso uma prática lúdica e competitiva como o futebol e temos aí um manancial de  histórias e personagens para transformar em crônicas que valem a pena ler e comentar.  Foi o que inspirou a ideia de produzir um livro sobre o futebol raiz, valorizando aqueles que mantém viva as celebrações, dentro e fora dos campos, como só a várzea pode proporcionar.

Participo este ano também da produção do segundo volume de Entre um Gole e Outro, reunindo conversas de boteco e até alguns textos mais densos, da confraria que se reúne todas as quintas-feiras, faça chuva ou faça sol, no bar do Alemão, também conhecido pelo nome oficial de Bar do Alexandre. Meus textos já foram entregues ao editor master Mário de Santi, que, entretanto, passa trabalho com outros parceiros, menos CDFs do que eu e que apelam para toda a sorte de desculpas para não cumprir os prazos. É corneta mesmo, caros, talentosos, mas dispersivos amigos. Está garantido, porém, que até o fim do ano teremos livro e vamos promover uma nova e  concorrida sessão de autógrafos.

Estou envolvido, ainda, em dois outros projetos, porém, sem assinar textos. Destaco a produção do segundo volume de Entrevistas Póstumas, que vai marcar a presença da Associação Riograndense de Imprensa, ARI,  na Feira do Livro de Porto Alegre. Os editores  Nilson Souza e Claudia Coutinho, com projeto gráfico de Luiz Adolfo Lino de Souza,  e mais de uma dezena de jornalistas convidados para as “entrevistas” com escritores gaúchos já falecidos,  garantem que esta edição vai repetir o sucesso da primeira.

Recebo também pedidos para prefaciar livros de amigos, o que tenho atendido prazerosamente e nos prazos determinados, além desta coluna semanal na Coletiva.net, a exigir comprometimento com os poucos mas fiéis leitores dela.

Com tantos envolvimentos acho que vou deixar para o próximo ano o livro solo pronto há dois anos, com o instigante título Kamadutra e outras histórias bobas.

Isso é nada, entretanto, comparado à formidável produção literária de Georges Simenon, que José Antônio Moraes de Oliveira publicou em sua coluna O escritor múltiplo (https://coletiva.net/colunas/o-escritor-multiplo,442133.jhtml) aqui em Coletiva.net, na semana passada. Simeon produzia de 60 a 80 páginas por dia; escreveu nada menos do que quinhentas obras, incluindo 192 romances e 158 novelas. Com Jules Maigret como protagonista, foram 85 romances e contos, além de cerca de 130 romances chamados “non-maigrets” e vendeu algo como 500 milhões de exemplares, mais do que Vitor Hugo, Émile Zola e Honoré de Balzac, conforme revela o colunista.

Entenderam a diferença entre o talentoso e o esforçado?

*Viva a Várzea! Histórias e personagens do futebol raiz tem a participação de Cláudio Furtado, Fernando Becker, Flávio Dutra, João Bosco Vaz, José Evaristo Villalobos, Júlio Sortica, Léo Iolovich, Liliane Correa, Mário Corso, Márcio Pinheiro, Marino Boeira, Óscar Fuchs, Paulo César Teixeira, Piero D’Alascio, Ricardo Stefanelli, Sérgio Kaminski e Vitor Bley de Moraes. O prefácio é de outro craque, o jornalista e cronista Nilson Souza. O projeto gráfico é de Antonio Luzzatto e a produção editorial da BaEditora, de Mariana Bertolucci. Lançamento a partir das 18 h até o último autógrafo.

segunda-feira, 3 de junho de 2024

De volta ao túnel do tempo

* Publicado nesta data em coletiva.net

Quem assina textos com regularidade, como é o meu caso em coletiva.net, surpreende-se, às vezes, com a reação de seus poucos mas fiéis leitores. Aquele texto denso, cheio de ideias inovadoras, com adjetivos e advérbios na medida, em que a gente coloca todas as fichas em termos de repercussão, acaba nos frustrando. Nenhuma interação é o resultado. Já a coluna despretensiosa, sem qualquer argumento que preste, acaba repercutindo muito mais, num misto de alegrias e decepção para o autor. Só que o problema não é a avaliação do leitor, mas a expectativa equivocada do autor.

Agora mesmo publiquei a crônica No túnel do tempo (https://coletiva.net/colunas/no-tunel-do-tempo,441703.jhtml), revelando que gostaria de voltar à época de Cristo e verificar até que ponto os evangelhos do Novo Testamento contaram a verdade sobre a vida e a obra do pregador líder dos apóstolos. Era para ser um texto com tratamento leve, sem qualquer motivação religiosa. Pelo menos essa foi a ideia do autor.  A repercussão ficou acima da esperada, teve até comentário elogioso do prestigiado escritor Liberato Vieira da Cunha.  Cometi, porém, uma incorreção e fui advertido em outro comentário. Coloquei os quatro evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João no primeiro time de apóstolos de Cristo. O leitor Carlos Roberto de Andrade Torres radicalizou ao afirmar que os quatro não eram apóstolos e que talvez os nomes nem fossem esses. A intervenção do caro leitor contém uma meia verdade, se considerarmos que os evangelistas realmente existiram. Tive formação cristã, estudei em colégios religiosos e deveria saber que apenas Mateus e João eram apóstolos, enquanto Lucas e Marcos eram discípulos dos apóstolos, ou seja, não eram integrantes da confraria original de pregadores. Mas acho que não fui um aluno muito aplicado nas aulas de Religião, pois deveria saber também, pelos relatos bíblicos, que os apóstolos foram testemunhas da pregação e dos milagres atribuídos a Cristo, enquanto os discípulos escreveram os seus evangelhos a partir de relatos de terceiros. Lucas, por exemplo, teria se valido das conversas com o convertido Paulo de Tarso, que era uma espécie de mentor dele.

A mais alegórica  e recente celebração aos quatro evangelistas, concluída em 2023, encontra-se na imponente  Basílica da Sagrada  Família, em Barcelona. Na concepção de Antonio Gaudi, são quatro torres, orientadas para os pontos cardeais: Lucas para o Norte, Mateus ao Sul, Marcos ao Oeste e João ao Leste. Internamente na basílica, os evangelistas estão representados como a tradição cristã os simboliza: João como águia, Lucas como touro, Marcos como leão e Mateus por um homem.

Claro que todos esses ensinamentos sobre a importância dos evangelistas para a fé católica não vieram das aulas de Religião nos colégios Santa Inês e Rosário, nem das pregações do padre Alfredo na Paróquia de São Sebastião, do bairro Petrópolis.  A internet está aí para ajudar os maus alunos e os cristãos desgarrados, com a vantagem de não se equivocar nas informações. Por fim, agradeço à interação do atento leitor que garantiu assunto para, pelo menos, mais uma coluna.

 

Vai passar

Republicação em 20/05/2024 do Texto publicado em março de 2020, no auge da epidemia de Covid, mas atual como nunca em tempo de desastre climático.

Os árabes são pródigos em lendas, contos e mil histórias sem fim, mas uma delas é clássica e muito apropriada para enfrentar as aflições destes tempos covidianos. É a lenda Iazul, que Malba Tahan, pseudônimo do matemático e escritor brasileiro Júlio Cezar de Melo e Souza (1895-1974), se encarregou de difundir entre nós, junto com variadas e coloridas histórias ambientadas no mundo árabe.

A lenda dá conta que um generoso e bravo príncipe da Pérsia (o Irã de hoje), certo dia, após as preces matinais, convoca urgente o sábio da corte, cuja nobre função (toda a adjetivação fica por conta de Malba Tahan) era orientar as decisões do monarca, além de esclarecer as dúvidas dele. O que preocupava o príncipe era o conteúdo de um pequeno cofre que acabara de receber: um anel de ouro, que pertencera a um potentado de Candahar.

Ao examinar o anel, o conselheiro desvendou o enigma da peça: no rico escudo em forma de tâmara, entre dois pequenos brilhantes, aparecia talhada a palavra Iazul. Entretanto, o Emir ainda se consumia em dúvidas diante da revelação, ao que o sábio se apressou  em explicar, como conta Malba Tahan:

Iazul é uma palavra mágica (...). Asseguro que é a palavra mais expressiva e eloquente entre todas as que figuram no riquíssimo vocabulário persa (...). Tem o dom de nos tornar alegres, quando estamos tristes, e de moderar as nossas alegrias, nos momentos de extrema felicidade e ventura.

E prosseguiu, desfazendo de vez o mistério, uma vez que o príncipe já estava 'p da cara', querendo saber logo o significado da palavra:

- Iazul significa, apenas? Isso passa! Ou ainda: Tudo passa! Quando o homem atravessa períodos de felicidade, de alegria cor-de-rosa, de sorte e tranquilidade, deve pensar no futuro e ser comedido em suas expansões, sóbrio em suas atividades. Convém que o afortunado não esqueça: Iazul! (Isso passa!). Há ocasiões, porém, em que nos sentimos anavalhados pelos sofrimentos, pelas enfermidades, feridos pelas desgraças, caminhando sob a nuvem da má sorte, da ruína e atingidos pelos golpes imprevistos do infortúnio. Para que o ânimo volte ao nosso espírito, proferimos, cheios de fé, fortalecidos de esperanças: Iazul! (Isso passa!).

E concluiu, após breve pausa dramática e para alívio do príncipe que não estava com muita paciência para a verborragia do conselheiro.

- Sim, tudo passa! Virão dias melhores, dias calmos, dias felizes; a prosperidade e a boa sorte voltarão a iluminar a nossa jornada; a saúde será reconquistada; a serenidade procurará pouso em nosso atribulado coração!

Claro que o talentoso e prolifico Malba Tahan conta as lendas e delas tira lições para a vida com uma maestria que este colunista bissexto não consegue alcançar.

Ao colunista só restar acrescentar, depois de abrir sua caixinha:

- Para os que se cuidaram e cuidaram dos outros, vai passar!

No túnel do tempo

* Publicado em coletiva.net em 27/05/2024

Permitam-me desviar o foco dos desdobramentos do desastre climático que ainda castiga Porto Alegre e grande parte do Estado, para tratar de um tema mais leve. Sucede que  a querida e competente editora Mari Bertolucci me enviou um questionário e entre as perguntas a serem respondidas para a revista digital Ba, apareceu uma inesperada: se pudesse participar de algum momento histórico, qual seria? Hoje pediria para voltar a maio de 1941 e conferir como Porto Alegre reagiu à grande enchente que assolou a cidade naquele ano, mas sem hesitar, respondi anteriormente que gostaria de ser levado no túnel do tempo para a época em que Cristo pregava na Judéia e na Galileia.

É preciso esclarecer que não me moveu nenhum sentimento religioso, mas a curiosidade jornalística para registrar o que realmente ocorreu naquele período e o destino do pregador que foi considerado filho de Deus e, com suas lições e seu posterior sacrifício, legou à humanidade uma corrente de fé que resiste há mais de dois mil anos.

Na incursão àquele tempo, buscaria respostas para várias indagações que persistem até hoje: Cristo realmente ressuscitou? E depois, como foi a ascensão ao Céu, se de fato ocorreu?  Como se organizaram os apóstolos após a partidas dele? O que fizeram com o traíra do Judas? E o que aconteceu com as Marias, a Nossa Senhora,  e a Maria Madalena? Claro que se pudesse arrancaria um depoimento exclusivo de Cristo, talvez ao final da Última Ceia, antes que os legionários o levassem para julgamento e crucificação. Aproveitaria para tentar saber se seria possível prever e prevenir todas as tragédias que a humanidade enfrentaria no futuro, entre elas as que vivenciamos agora.

É bem verdade que o Novo Testamento nos legou uma grande reportagem sobre a vida de Cristo, suas pregações e principais feitos. Sempre tive muita curiosidade, por exemplo, sobre a qualidade do vinho que resultou da água, no milagre das Bodas de Canaã. É bem verdade também que os quatro evangelistas – Mateus, Marcos, Lucas e João – não eram isentos, pois faziam parte do seleto grupo de apóstolos que seguiam o líder por toda a parte. Aliás, evangelista significa “aquele que proclama boas novas”, ou seja, relata apenas notícias positivas, como se fosse um competente assessor de imprensa nos dias atuais.

Na volta do passado, se o túnel do tempo não falhasse como ocorria no seriado com esse título dos anos 1960, aproveitaria para faturar prestígio e grana, vendendo a história para os canais de streaming produzirem, pelo menos, uma minissérie.  Seria entrevistado pelo Bial, Porchat me indagaria “Que história é essa?”, Boninho me convidaria para o BBB, os principais partidos disputariam meu passe para concorrer, quiçá, até a um cargo majoritário, o Vaticano me convocaria para avaliar milagres de santos em potencial e sairia mundo afora palestrando sobre o instigante tema ‘Eu falei com Cristo na Última Ceia”.  O cachê seria em dólar ou euros.

Vou encerrar por aqui antes que me acusem de sacrilégio e a ira divina me transporte para a era dos dinossauros e me mantenha lá até a chegada daquele meteoro. Ou, o que é pior, mande mais chuva para o Continente de São Pedro.