segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Tempo de Gauchão

 *Publicação nesta data em coletiva.net

Vem aí mais um Gauchão, que virou o patinho feio das competições de futebol que envolvem os dois principais clubes gaúchos. Mesmo assim, não ganhar o título regional acaba pesando na temporada de Grêmio e Inter, primeiro porque é o enfrentamento direto num ambiente grenalizado e depois porque a primeira imposição competitiva tem que ser no próprio quintal.

Lembro que quando o Grêmio foi campeão do mundo em 1983 (título até hoje contestado pelo Inter) os colorados valorizaram muito a conquista do Gauchão daquele ano. A hegemonia regional  remetia às histórias do personagem Asterix, que liderava os gauleses para impedir  que os invasores romanos, os donos do mundo de então,  tomassem a sua pequena aldeia. Essa analogia retirada das histórias em quadrinho poderia ser um bom contraponto ao “Cafezinho”, referência de desqualificação dada pelo saudoso presidente gremista Fábio Koff ao Campeonato Gaúcho, quando o tricolor se preparava para conquistar a Copa Libertadores da América de 1995. O detalhe é que o Grêmio venceu a Libertadores e o Gauchão e comemorou os dois títulos, claro que com mais euforia a competição continental.

Dá pra perceber que vivo uma fase saudosista e permito-me essas recordações do tempo em que militava na chamada crônica esportiva, quando o Gauchão era valorizado e ganhava os melhores espaços na mídia. Depois, pouco a pouco, Grêmio e Inter romperam as fronteiras, se impuseram nacionalmente a partir das conquistas do Inter de 1974 e 75 (sim, eu já tralhava na época) e depois na América com a primeira Libertadores do Grêmio em 1983, que levou à Tóquio e o resto da história já é conhecida.

O Gauchão perdeu importância, encolheu no calendário e, no máximo, ganhou status de “charmoso”, expressão criada pelo meu amigo Paulo Brito para valorizar as transmissões que fazia pela RBS TV.  Foi quando abriu-se espaço para Juventude, Caxias e Novo Hamburgo quebrarem a hegemonia Grenal em 1998, 2000 e 2017.

Este ano, o campeonato pode ficar mais do que charmoso e resgatar parte da sua relevância, uma vez que a direção do Inter coloca como objetivo a reconquista do título regional, há seis anos nas mãos do tradicional adversário. É a segunda prioridade dos Vermelhos, depois do Campeonato Nacional. O colorado está formando time para virar favorito e avançar mais ainda, enquanto o tricolor mira a Libertadores, mas busca o hepta regional pela segunda vez na sua história. Assim, a disputa vai esquentar e o regional passa a ser o primeiro ensaio para as aspirações maiores de Grêmio e Inter na temporada. Com o perdão pelo clichê, reina grande expectativa para o Gauchão 2024.

 

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