segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Nós, os Nomofóbicos

* Publicado nesta data em coletiva.net

O quê foi responsável pela “morte” da TV, do rádio, do computador, da câmera fotográfica? O quê acabou com o jornal, a revista e os livros? O quê substituiu a lanterna, o espelho, o calendário de mesa? O quê aposentou a carteira, o cartão do banco e o videogame? Copiei os  questionamentos de um vídeo que viralizou no Whats e que segue na dramatização dos efeitos deste que seria o inimigo público  número 1, com mais perguntas: o quê terminou com muitos casamentos e junto terminou com muitas famílias e aos poucos está prejudicando nossos olhos, nossa coluna cervical, nossa saúde mental e tentando acabar com a próxima geração? Pela introdução já deu pra perceber que estamos falando do telefone celular, com suas múltiplas aplicações, aqui apresentadas em suas consequências negativas, sem falar na invasividade e no quanto serve para a aplicação de golpes nos incautos.

Lembro que na Copa de 1994 nos EUA, o repórter da Rádio Record na sede de Dallas exibia orgulhoso um celular, de primeiríssima geração para a época, explicando que aquele aparelho era de uso pessoal de  ninguém menos do que o bispo Edir Macedo, o  todo poderoso da Igreja Universal e da Rede Record. A telefonia móvel recém engatinhava e os pesados equipamentos eram uma preciosidade. Quatro anos depois participei em Las Vegas da NAB Show (evento da National Association of Broadcasters), a principal feira de produtos e serviços para a radiodifusão. O tema-conceito do evento era Convergência Digital, prenunciando que toda a parafernália de equipamentos e processos eletrônicos migraria para um único sistema. Na ocasião, minha formação analógica custou a entender que esse sistema seria conectado ao telefone celular, que até então disponibilizava apenas duas ou três funções.  

Passadas quase três décadas desde o empréstimo do telefone do bispo Macedo ao repórter, eis que o celular assume um protagonismo jamais imaginado em nossas vidas. Um  diabólico protagonista, a cancelar tudo aquilo que fazia parte do nosso cotidiano e ainda ameaçando nossa saúde e o nosso futuro? Na real, um protagonismo em expansão, que garante aos brasileiros lugar no podium dos que mais gastam seu tempo diariamente manuseando o celular: 9 horas e 32 minutos por dia. Perdemos apenas para a África do Sul, com média de 9 horas e 38 minutos, enquanto a média mundial fica em 6,378. Dados de 2021, revelam que os brasileiros gastaram mais de 193 bilhões de horas em frente ao celular, conforme pesquisa do site Eletronics Hub.

Os números indicam  que é mais do que tempo gasto, virou dependência. O distúrbio tem até nome: Nomofobia, palavra derivada da expressão inglesa "no mobile phone phobia". Os principais sintomas deste apego psicológico ao smartphone são medo de ficar incomunicável, ansiedade, tremores e taquicardia.

 

Ao pesquisar sobre este tema da hora cheguei à conclusão de que devo ser um Nomofóbico. Não me afligem tremores nem taquicardia, aí já é um exagero, mas tenho a sensação permanente que se não atender logo o telefone estou perdendo algo urgente, uma mensagem que exige pronta resposta, alguém que precisa de ajuda está clamando por mim. Em compensação, já consegui me livrar das consultas ao celular no carro, limitei a apenas uma vez nas refeições e desisti de olhar durante o banho. Assim, pelo menos por enquanto, não preciso aderir aos NA, Namofóbicos Anônimos.

Agora me dão licença porque já estou há cinco minutos sem consultar o celular. Preciso urgentemente verificar minhas mensagens.

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