*Publicação nesta data em coletiva.net
- Cinco real. Aceito Pix.
Na sinaleira, o pedinte
mostra o número do Pix para receber a generosidade dos motoristas.
Na banca que vende água
mineral, refrigerantes e água de coco a plaquinha informa o número do Pix em
destaque.
Independente do valor e
da serventia da transferência, o Pix veio facilitar a vida de quem faz
transações financeiras diariamente. Os cartões de débito devem estar enciumados
com o crescente protagonismo pixiano. O pagamento instantâneo funciona de
maneira tão simples que atraiu
criminosos em busca de dinheiro fácil, obrigando as autoridades monetárias a
colocarem algumas travas de segurança no processo. Vale destacar que o Pix é
uma ferramenta brasileiríssima, gestada no Banco Central desde 2016 e lançado em novembro de 2020. Como está funcionando bem,
não falta gente para reivindicar a paternidade da invenção, que foi assumido
como realização do governo Bolsonaro, pelo próprio, na recentre campanha
eleitoral. Paternidade à parte, o Pix mostra em
cada transação que está na contramão de outros processos burocratizantes que infernizam nosso no dia a dia.
Entretanto, é
importante que se diga que a burocracia não é privilégio dos entes
públicos no Brasil. Não me faltam exemplos de serviços privados que se esmeram
em atazanar a vida de quem necessita deles. Já precisaram
providenciar documentação para o aluguel de um imóvel? É irritante para o
interessado pelo volume de documentos e constrangedor para o potencial fiador,
que precisa expor toda a sua situação econômico-financeira, muitas
vezes junto com os dados da esposa, dependendo do regime de casamento. Enfrentei
uma estressante situação dessas tempos atrás.
Igualmente fui massacrado por mil exigências para receber
parte do pagamento pela venda de um imóvel no litoral, valores que seriam repassados por
um consórcio com sede em Caxias do Sul.
Era o credor, mas fui tratado como se fosse um devedor inadimplente. Por
um erro do Financeiro do tal consórcio, o pagamento acabou antecipado,
o que motivou um telefonema da responsável pelo setor,
explicando, vê se pode, que, na real, só deveria receber 30
dias depois, mas que agora seriam gentis e não
estornariam os valores. Ou seja, burocráticos e atrapalhados.
Agora estou
envolvido em outra transação imobiliária,
novamente com participação de um
“conceituado” consórcio, com sede em Dois Irmão, e estou pagando os pecados – que nem são muitos
– com a papelada exigida e a morosidade para avaliar e decidir sobre cada
documento. A burocracia virou aliada da incompetência, pelos pedidos de reenvio
de documentos já protocolados, sem contar o atendimento precário no SAC. E
mais: nada escapa à exigência da autenticação em cartórios, essas caixa registradoras da
burocracia, com mais e mais taxas ou emolumentos – o nome pomposo para o
achaque. Cada carimbada não sai por menos de R$ 20,00 e as taxas, bem mais.
Daqui a pouco me irrito mais ainda, conto tudo e revelo nomes. Está tudo
documentado.
O setor financeiro do país, aliás, é rico em exemplos da
máxima “pra quê facilitar, se podemos complicar (?)” para
o cliente, embora opere e lucre - muito! - justamente com
a grana dos clientes. Novamente relato um caso pessoal de tratativas
com o gerente de um banco que tem sede no exterior que, depois de longa
peregrinação para abrir uma conta empresarial, demorou
mais seis meses para conseguir o segundo o cartão para o outro sócio
do empreendimento. Aí lembro que em 1994 abri uma conta no Bank of
Texas, em Dallas, em 20 minutos, mediante apenas a apresentação do passaporte.
Na mesma cidade, por conta das operações da Rádio Gaúcha na Copa do
Mundo dos EUA, contratei junto a uma operadora local oito
linhas telefônicas, precisando somente de uma ligação e o envio de um fax, com
o endereço para a cobrança dos serviços. Na época,
pré-privatizações, só com pistolão para se conseguir uma linha de
telefone automático no Brasil.
Volto aos cartórios porque são um capítulo à parte. Sem alongar muito o
papo, conto apenas que ao precisar de uma procuração (exigência do banco
já referido) o cartório demorou 30 dias para elaborar o documento,
uma folha frente e verso, adornada com uma capa de papel, ao custo de R$
120,00, incluindo uma infinidade de taxas.
Ainda sobre a burocracia privada já nem falo da proposital enrolação das
centrais de atendimento ao cliente quando acionadas para resolver algum
problema ou cancelar serviços. O objetivo não declarado, mas
evidente, é vencer o cliente no cansaço e nisso, reconheço, são
competentes.
Desculpem o textão e o desabafo, mas a
burocracia me dá urticária.
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