domingo, 13 de junho de 2021

A divina comédia do esporte

 Foi assim que o talentoso Nilson Souza, a  quem pedi  ajuda, sugeriu como mote para a campanha dos 30 anos do Sala de Redação, em 1991. E, claro,  a sugestão foi adotada e  encimou todas as peças para homenagear os profissionais e empresas vinculadas, na época , a este programa icônico. Nilson se inspirou em Dante Alighieri e brincou com textos bíblicos para personalizar cada placa a ser entregue, entre elas a da foto, ao sr. Corá, diretor da Antártica, patrocinadora do programa. O Sérgio Cunha, diretor  comercial da rádio, acompanhado do Claudinho Pereira (pena, não aparecem na foto) foram elogiosos ao rápido discurso deste que vos fala, assim: “Essa é a homenagem do melhor programa de rádio do Rio Grande à melhor cerveja do Brasil”. Senti que o sr. Corá também gostou.

Como gerente de esportes da Rádio Gaúcha naquele período participei ativamente dos  festejos, que  culminaram com uma noitada no Le Club, principal casa noturna de então, tendo como atração musical um showzaço da Alcione e banda. Sim, o Paulo Sant’Anna subiu ao palco e cantou  alguns sucessos junto com a Marron. A ausência sentida  foi do Ibsen Pinheiro, que era o presidente da Câmara Federal e não conseguiu se ausentar de Brasília, participando  do evento por  meio de uma mensagem em áudio.

Lembro  desses detalhes agora que o icônico Sala de Redação celebra seus 50 anos.  Mas minha relação com o programa data de bem antes, remontando a minha primeira das três passagens pela Zero Hora, nos idos de 1972,  quando bisbilhotava pelo aquário do pequeno estúdio  instalado junto à redação, os debates comandados  pelo mestre Cândido Norberto. Se a memória não me trai os outros participantes eram o  Ibsen, o Oswaldo Rolla, e os repórteres Cláudio Britto e Valtair Santos. O Sala foi o embrião da equipe que mais tarde garantiu a volta da Rádio Gaúcha às transmissões esportivas.

Mesmo sob pena de cometer omissões quanto a nomes importantes que abrilhantaram o programa ao longo dos 50 anos, destaco que acompanhei mais de perto a formação clássica do que seria a segunda fase do Sala, já sem o Cândido, e com o Ruy Ostermann no comando, mais Sant’Anna, Lauro Quadros, Kenny Braga, Cláudio Cabral (legítimo sucessor do velho Cid Pinheiro  Cabral), Wianey Carlet e eventuais agregados, como o Renato Marsiglia.  O Belmonte também comandou o programa por um bom período.

Não foram poucas as vezes nos sete anos como gerente de esportes em que acompanhei  o grande Armindo Antônio Ranzolin, chefe da equipe e diretor  da Gaúcha, sendo obrigado a intervir  para harmonizar o pessoal do Sala, após uma discussão mais áspera, resultado do enfrentamento de teses antagônicas sobre as emocionais questões futebolísticas neste nosso Rio Grande grenalizado. Por cerca de 30 dias o ambiente ficava pacificado, mas em seguida voltavam as tensões.  Era assim o processo de então, inevitável num programa que sempre foi um encontro, ou melhor, um desencontro de grandes egos.

Hoje o programa está mais civilizado, mais  leve por assim dizer e rejuvenescido nos seus participantes, com mais teses esportivas e menos polêmicas. Há quem sinta saudades dos grandes enroscos do passado, como bem lembrava o Duda Garbi, em suas impagáveis imitações do Sant’Ana, o principal contendor das grandes “brigas” ocorridas ali entre  13h e 14 h nos estúdios da Gaúcha.

A verdade é que o  Sala de Redação não é e nunca foi apenas um espaço radiofônico de debates esportivos. O Sala é e sempre foi muito mais  do que isso. É um acontecimento diário de segunda a sexta-feira, é a pauta do cotidiano e não apenas na área esportiva, é embate acirrado e humor que ameniza, é longevidade que se renova, é descompromisso e certezas, é contrariedade e fidelidade do seu público, é tese de mestrado e assunto de boteco. O Sala  de Redação é múltiplo, mas é simplesmente O Sala, “uma entidade”, como bem definiu seu atual comandante,  o também múltiplo Pedro Ernesto Denardin,

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