segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Minha sunga de tigrinho

 * Publicado nesta data em coletiva.net

Outrora tive uma sunga de banho com estampa de tigrinho. Faz tanto tempo que na época sunga era mais conhecida por calção de banho ou, o mais chique, como short. Tinha outro calção para revezar, mas a preferência era para a sunga de tigrinho, com a qual desfilava garbosamente pelas praias do litoral norte gaúcho. Acho até que cometi alguns mergulhos com ela em Copacabana, numa temporada carioca.

A sunga de tigrinho era uma atração por onde circulava o corpinho do atleta que um dia fui, sem a barriga proeminente de hoje.  Achava eu que estava agradando, sem dar ouvidos aos clamores da mulher e dos filhos, constrangidos com o triste espetáculo que, segundo eles, estava submetido o representante da família. Os olhares que atraia, soube depois, não eram de aprovação pelo conjunto homem-mais-traje-de-banho-vistoso, mas de admiração pelo cidadão, já com alguns cabelos brancos, se prestar a usar aquela vestimenta.   Mas o senso de ridículo nem sempre  está de acordo com as opiniões das pessoas próximas.  E a sunga de tigrinho sobrevivia veraneio a veraneio, sem desbotar e sem espichar muito o tecido, porém,  cada vez mais anacrônica diante das novas modas praianas. Por sorte, ou porque não existissem na época celulares com câmeras,  não sobreviveram fotos deste que vos fala com a sunga de tigrinho.

Sucede que num daqueles verões de antanho, antes de rumar para a morada de Curasal, procurei inutilmente pela minha sunga de tigrinho. Indaga daqui, indaga dali e nada da peça aparecer. Quase suspendi o veraneio porque a sunga de tigrinho era mais do que um traje de banho, era o talismã para uma boa temporada no  litoral. Devo ter sido vítima de um complô familiar porque nunca mais tive notícias da minha querida sunga de tigrinho e sempre que tocava no assunto caia um silêncio cumplice entre os circunstantes.

Reconheço que na fase final das nossas relações, a sunga de tigrinho já não era mais a mesma, o tecido se esgarçara, os fundilhos estavam caídos e a peça  não se amoldava bem ao corpo como antigamente. Mesmo que a minha atividade marítima fosse modesta,  meia dúzia de mergulhos diários a cada temporada, ela cobrava seu preço pelo tempo de uso. Ainda assim, não gostaria de me desfazer da sunga de tigrinho, até pensando em coloca-la em destaque no futuro Memorial Flávio Dutra.

Lembrei da inesquecível peça de banho  agora que se aproxima a temporada de escapadas à praia, mesmo desafiando a pandemia,  e porque me bate uma imensa saudade do tempo em que o máximo de vexame era quando a gente vestia uma sunga ridícula e podia sair desfilando por aí se achando “o” cara.

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