* Publicado nesta data em coletiva.net
Resgatei um
texto já publicado, mas muito atual, como forma de enfatizar minha saudade dos
festivos encontros que dezembro sempre proporciona, exceto agora em 2020
dominado por esta maldita pandemia.
Fim de ano é um período infernal para frequentar
restaurantes. Nos almoços, nos jantares ou num simples happy, é inevitável
enfrentar nas mesas ao lado alguma confraternização de fim de ano da turma da
firma ou a própria festa da firma. Observador atento que sou, sei
distinguir logo a confraternização da turma, um ritual mais ligeiro do que
seria a festa da firma, que exige uma produção mais requintada. Tanto assim,
que na festa as moças se apresentam invariavelmente em seus pretinhos básicos
ou nas modernosas roupinhas com estampas da moda. Todas de banho tomado,
maquiagem e cabelos caprichados, olhar do tipo "é hoje!" e sobraçando
o embrulho com o presente do amigo secreto. Sim, porque festa de firma que se
preze tem que ter amigo secreto, com cerimônias de entrega plenas de algazarras
- um mico para os mais austeros, entre os quais me incluo.
E segue a fuzarca, em alguns casos interrompida
pelo discurso do "Homem", o chefão que banca a festa e vai agradecer
aos "nossos colaboradores pela dedicação e a superação dos desafios".
A frase é tão previsível quanto o sujeito inconveniente de fim de festa, que
tomou umas a mais, acha que é o gostosão do pedaço e passa a tirotear em todas
as colegas. Como sou dos antigos, já vi de tudo nessas ocasiões.
A propósito de rodado, no último episódio do qual
fui testemunha da série "festa da firma" o tema recorrente entre as
moçoilas, predominantes no encontro, era sobre um texto publicado tempos atrás na Folha de
São Paulo com o sugestivo título "Você é uma mulher rodada?".
Confesso que fiquei enrubescido com o pouco que pude ouvir das quase senhoras,
que eu arriscaria dizer, de conduta ilibada.
Pelo que entendi, tratava-se de um questionário,
resposta irônica e bem humorada ao machismo, com indagações do tipo "Já
fez sexo no primeiro encontro?", "Já fez sexo no primeiro encontro
mais de uma vez?", "Não sabe quantos parceiros teve na vida?",
"Na verdade, nunca contou?". Essas, eu diria, eram as questões mais
civilizadas. Não resisti, agucei o ouvido e me arrependi, porque as moças,
quase senhoras, começaram a pegar pesado nos questionamentos que caracterizam a
mulher rodada. Coisas do tipo: "Transou com estrangeiros na Copa?",
"Transou com colegas de trabalho na festa da firma?" "Já fez
canguru perneta?", além de uma que me deixou chocado - "Transou com
anão?" - e outra muito intrigadíssimo - "Já teve (ou tem) um PA e
recomenda?".
PA? O que indicaria a sigla? Quase abandonei minha
posição de ouvidor passivo e fui perguntar às ocupantes da mesa ao lado, mas
recuei, eis que sou um tanto desprovido no quesito altura e minha presença
poderia ser interpretada como o tal anão da transa, um anão oferecido que, se
utilizado, resultaria em pontos extras rumo à mulher rodada.
Ao deixar o restaurante e a algaravia das moças,
saí angustiado com o desconhecimento que persiste quanto ao significado de
PA. Não me arriscaria a dar qualquer outro significado a não ser o
verdadeiro, e talvez seja condenado a ficar eternamente com essa dúvida,
castigo para deixar de ser abelhudo. E aí, veio a surpresa final, quando uma
das moças, quase senhora, disparou em alto e bom som:
- Tirando transar com anão, me enquadro em todas as
outras questões!
Apressei o passo para me afastar logo do local. Vamos que a moça
estivesse interessada em completar a série, convocando um anão...
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