* Publicado em 15/07/2019 na coletiva.net
Meus sensíveis
ouvidos doem quando ouço os
repórteres e apresentadores gaúchos
sapecarem nas perguntas aos
entrevistados um “como quê é” ou um “qual
quê é”. Acredito que seja um legado do
paulistês, importado e aculturado via
programas de TV. Pior ainda quando vem com aquele “onde quê” ou o similar
“aonde quê”, usados para situações
em que o
advérbio que indica lugar não se aplica,
ainda mais com apêndice do quê.
Observo também outro
vício oral (nada a ver com aquilo!) dos
nossos mais dedicados repórteres e
qualificados âncoras: um “aí” como muleta nos finais de frase, em textos de improviso. Neste caso nem me dói tanto,
embora considere que esse vício pode ser corrigido facilmente. Basta o profissional
ficar atento ao que vai falar e se policiar quando for para o ar, recomendam os
especialistas.
Não me tomem por um
intransigente corretor da linguagem. Sem formação para isso, admito que cometo
meus pecados gramaticais com mais frequência do que gostaria. Faço, porém, um
esforço danado para contrariar aquele amigo que me acusa, o maledicente,
de ter faltado às aulas de virgulas e crases e, ainda, diz que está
sendo generoso na avaliação.
Porém, isso que chamo de vícios, de tanto serem repetidos, acabam se incorporando à língua falada,
empobrecendo o nosso já maltratado idioma. A mídia reverbera, dá expressão e alcance aos
tais vícios.
Um exemplo de pobreza
vocabular que ganhou relevância na mídia eletrônica é o “por conta de”, que
veio a substituir o “a nível de”. Pelo
menos não está errado, mas nem por isso precisa ser repetido à exaustão para
explicar o acidente no trânsito, a falta d’agua, a sinaleira que não funciona,
as mudanças no clima e outras tantas incidências do dia a dia.
Ao mesmo tempo “um
conjunto de” (expressão que já esteve mais na moda) palavras não usuais foi
incorporado às discurseiras das fontes nas mídias e fazem a festa dos que se
consideram moderninhos. É distopia pra cá,
disruptivo pra lá, mais a concertação, o
ressignificar, o pertencimento, sem contar os importados coaching, digital
influencer e o campeoníssimo spoiler. Coisas do Internetês. E, em
qualquer circunstância, se faltar vocabulário, tacam-lhe um “fascista” que
sempre se encaixa.
Já o “empoderamento”
feminino elevou ao podium um trio de respeito: feminicídio, misógino e sororidade!
Reconheço que são palavras atraentes pela sonoridade, que nada tem a ver a
sororidade aí de cima. O trágico episódio de Brumadinho colocou na
moda por um tempo o “descomissionamento” referente a barragens desativadas e
não aos funcionários exonerados dos cargos
em comissão no serviço público. O termo inundou as matérias dos
repórteres na cobertura do acidente, sem que explicassem do que se tratava. Diferente dos debatedores esportivos que se
esmeram, para sustentar suas teses, em dar vazão a chavões do tipo “copo meio cheio, meio vazio”, “medido pela régua...”,
“fora da curva”, “a banca paga e recebe” e a maior obviedade de todas, a
consagrada “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.
O pior dos
cenários é quando os que não sabem o que estão falando se entregam aos modismos,
empregando fora de seu contexto palavras e expressões novas. Isso bem que
mereceria outra crônica. Mas chega de aspas e quês. De minha parte, sou pela
simplicidade e por tudo o que facilite a comunicação. É a minha “expertise”,
com o perdão pela contradição.
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