* Publicado nesta data no coletiva.net
A facção que mais cresce
no Brasil é a dos Sem Noção, que passarei a tratar por SN. Começa pelo
presidente Bolsonaro, patrono da causa, que a cada semana, às vezes menos,
comete um ato digno de SN. Um dos mais
recentes, entre negar que tenha gente que passe fome no país e provocar os governadores nordestinos, foi cogitar o filho Eduardo para embaixador
nos EUA. Até bolsonaristas fervorosos,
mas não alinhados aos SN, ficaram com vergonha alheia do seu líder.
Outro que ganha relevo
entre os SN no governo é o ministro da Educação Abraham Weintraub e suas dancinhas. Mas engana-se quem
acha que o SN tem ideologia ou
partidarismo. Que nada! Atacam à
direita, à esquerda e ao centro. Aquelas
discurseiras da ex-presidenta Dilma nada mais são do que autênticas
manifestações de SN. E o que dizer da
deputada gaúcha que esbarrou de propósito num colega da Câmara e saiu acusando
ele de agressão? SN de raiz. Só faltou
esbravejar “mas o que é isso?” várias vezes.
A juíza que liberou os
traficantes presos em flagrante com quase cinco toneladas de drogas é um
exemplar incontestável de SN Jurídica. Algumas decisões dos egrégios
magistrados das cortes superiores flertam com atos de SN, assim como o pessoal
envolvido na Lava Jato que trocou mensagens sobre o que devem e o que não devem,
expondo operações e decisões pelas redes sociais. Aliás, as redes
sociais estão infestadas de SN. Pior é o pessoal da SN do crime que envolveu suas
mulheres e filhos numa fracassada e trágica operação na cidade de Cristal para
resgatar outro criminoso preso
Os SN invadiram com força
agora os eventos culturais e o caso mais recente foi o desconvite à jornalista
Miriam Leitão e seu marido, o sociólogo Sérgio
Abranches, para participarem da
Feira do Livro de Jaraguá do Sul (SC). A
alegação é de que o casal corria riscos porque foram registradas mensagens
agressivas nas redes sociais e uma petição
online com mais de 3,5 mil assinaturas de SN locais pedia que Miriam
Leitão fosse cortada da programação por não concordarem com as posições dela.
Vale lembrar que, anteriormente, ela
fora vítima agressões verbais num vôo doméstico por SN
identificados com o lulismo, confirmando novamente que a classe não tem
ideologia, ou tem todas. E aqui, novamente, surge uma opinião SN presidencial, com direito
a editorial da Globo em defesa da
jornalista.
Meu bom amigo Gustavo
Machado, jornalista e escritor de
muita noção, postou um oportuno comentário nas redes sociais, a propósito do episódio
ocorrido com a jornalista global e seu marido, creditando o ocorrido à uma
“jequice tenebrosa”. Num apelo pela tolerância, elenca outros exemplos que ele
entende como “jequice explicita”, principalmente na aldeia. (https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2309986082607406&set=a.1377807539158603&type=3&theater).
Me alinho ao arguto companheiro quanto à tolerância, mas me permito humildemente
discordar quanto a comparação com atitudes jecas. O jequismo brasileiro, que
teve sua origem no imortal personagem de Monteiro Lobato, o Jeca Tatu, é, na
verdade, a representação de um sujeito ingênuo, o caipira simplório, símbolo do
brasileiro que vive no campo. Aos que produziram os atos condenáveis descritos
pelo Gustavo Machado não concedo o benefício da ingenuidade. Ao contrário, são
conscientemente partidários dos SN e,
sim, o autor da postagem tem razão e assino embaixo na ideia de que o
retrocesso de civilidade constatado poderá
nos levar à perda de mínimos freios sociais a ponto de nos tornarmos um ambiente fértil para o surgimento
de seitas. A dos Sem Noção já está bem ativa e cresce cada vez mais.
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