* Publicado hoje em Coletiva.net
Se viva fosse, a Varig
festejaria 92 anos no dia 7 de maio. A data provocou uma onda nostálgica e ainda mexe com os brios dos
gaúchos mais veteranos, que tinham na Pioneira motivos para se orgulhar de um tempo em que as nossas
façanhas serviam de modelo a boa parte de toda a terra. “Estrela brasileira em
céu azul” a “Varig, Varig, Varig”
chegou a voar com “pontualidade e competência” para 795 destinos internacionais
em associação com a Star Aliance. Era “a maneira elegante de voar”, como destacou o comercial
para TV que marcou seus 80 anos, justo em 2006 quando se acelerou a fase final
da companhia.
Consta que, além de sua
incompetência gerencial, a Varig foi vítima de uma manobra de José Dirceu,
então todo poderoso dos governos petistas, para favorecer a TAM, hoje Latam,
repetindo, aliás, o que na década de 60 o governo militar fez em relação à Panair
para beneficiar a Varig.
Mas essas são outras histórias.
Sou do time dos
veteranos, muito desfrutei das mordomias dos voos da Varig, mas não entro
nessa de culto ao passado pela voadora
aqui nascida. Foi-se o tempo em que “andar de avião” era um charme, precedido do
anúncio da nominata dos passageiros pelo serviço de som do aeroporto. Hoje as
viagens aéreas foram democratizadas e, diferente do desfile de trajes elegantes
de homens e mulheres nos voos em décadas passadas, hoje é comum encontrar passageiros
de bermuda e chinelo de dedo em roteiros
nacionais e internacionais. Acho uma
chinelagem esse figurino despojado, mas não faço cara feia quando as moças de
shortinho percorrem os apertados corredores dos aviões. Sinal dos tempos, assim
como o fato de que meu neto de 3 anos e
minhas netas de 7 e 9 têm hoje
muito mais milhas voadas do que eu aos 20 anos.
Nada a ver com a Varig,
mas tudo a ver com o resgate de alguns ícones do passado a ascenção do patinete
como nova modalidade de transporte individual.
Outro dia assisti a um senhor todo engravatado patineteando entre os carros na Borges de Medeiros que, como
sabemos, é uma movimentada avenida central de Porto Alegre. Em algumas cidades
- e logo vai ocorrer aqui - os patinetes elétricos tornaram-se verdadeiras
pragas ao competir pelos espaços nas calçadas e espaços públicos com os pedestres. Eis aí outra situação que não
contará com minha adesão. Não consigo me
ver, descordenado que sou, pilotando um patinete, ziguezagueando e colocando em
risco os circunstantes.
O que eu gostaria mesmo é de resgatar alguns
brinquedos do passado, como aquele carrinho de lomba em que, meus irmãos e eu, descíamos a
avenida Bagé, no bairro Petrópolis. Ou o
tabuleiro que de um lado era para o jogo de damas (ou xadrez) e no outro a configuração
para o ludo com seus peões de plástico.
Em algumas boas casas do ramo ainda se encontram esses tabuleiros e suas
peças. Já não posso garantir o mesmo em relação ao bilboquê. A afirmação está
baseada no ocorrido com um dileto amigo que, para atender pedido de sua lucida
mãe de 96 anos, saudosa do brinquedo da
sua infância, saiu à procura de um bilboquê.
Na loja de brinquedos, a moça sorridente
foi surpreendida com o pedido:
- Por acaso vocês tem aí bilboquê?
- Bil o quê? -, rimou e
trocadilhou a moça.
- É tipo uma coisa onde
um pauzinho a gente sacode para entrar num buraquinho -, tentou explicar meu
amigo.
É evidente que ele foi mal interpretado.
- Me respeita, seu safado, semvergonha. Pauzinho,
buraquinho... Vou te denunciar por assédio -, reagiu a moça diante do perplexo interlocutor.
Posso assegurar que meu dileto amigo é pessoa de ilibadíssima
conduta, mas por via das dúvidas e evitar novos mal entendidos ele suspendeu a
procura do bilboquê.
Apelar para a nostalgia
pode ser perigoso às vezes. Pior
que isso só a misturança de assuntos reunida neste texto...
Eis o bilboquê
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