Sou um obsessivo por horário. Chego sempre com antecedência nos eventos,
mesmo os familiares, razão pela qual sou criticado pelos de casa que deveriam,
contrariamente, louvar minha pontualidade e considerá-la uma qualidade
superior. Já ocorreu de chegarmos à casa de um familiar para um festivo almoço
dominical e estarem todos dormindo ainda. Era quase meio dia, portanto não
estávamos, eu e meus detratores caseiros, muito fora do horário estabelecido
para o convescote.
Até tolero uma pequena margem no descumprimento dos
horários, mas abomino aqueles que fazem do atraso uma atitude corriqueira, especialmente
em solenidades oficiais. Consta que o ex-presidente Lula costumava atrasar-se, às
vezes por mais de duas horas para os atos no Planalto. Alguns políticos acreditam
que o atraso lhes confere uma importância que carecem ter em seus mandatos. Não
é o caso de Lula, me apresso a afirmar, mas tanto o chá de banco que ele eventualmente
provocava, como os de outros agentes
públicos menos votados, são reprováveis desrespeitos com os que são obrigados
a esperar.
Já convivi com políticos que agem assim e com outros
que, como eu, se pautam pelo cumprimento dos horários e cito como exemplo o
prefeito José Fortunati que já flagrei chegando mais cedo do que eu em
determinadas agendas.
No meu caso, essa obsessão pelo rigor com os horários
certamente é herança dos tempos em que atuei em rádio e TV. Foi naquele período que aprendi uma regra
básica: programa que não está pronto no horário corre o risco de não ir ao ar.
Outra regra é que o programa deve terminar no horário previsto. Quem trabalha
com programação televisiva em rede sabe como funciona o esquema e ái daquele
que não entrega para a rede no horário.
Pois a obsessão que desenvolvi a partir da vivência na
mídia eletrônica me leva a cometer certos excessos, como chegar com muita
antecedência a determinados eventos, devido mais a uma desatenção atávica a
depor contra minha formação de repórter que um dia fui e que exigia checagem
das informações. Já me mandei para a estrada para participar de um
seminário em que deveria palestrar e encontrei fechado o local em cidade
relativamente distante de Porto Alegre. O evento estava marcado para o mesmo
sábado...na semana seguinte. Recentemente
cheguei 15 minutos atrasado para o lançamento de um livro que ocorreria uma
semana depois. Teria outros exemplos,
mas fico por aqui, porque quando cai a ficha do equívoco a sensação é de que a
goiabice está tomando conta.
Chegar cedo aos locais me permite, por outro lado,
praticar com nível de excelência a manobra de fugar dos eventos chatos ou
alongados, tática conhecida como saída à francesa. Funciona assim: circulo com
desenvoltura pelos espaços, cumprimento a todos os que devem ser cumprimentados
e um pouco mais, aceno aqui e ali e, concluído esse ritual, fico postado próximo
à saída. Quando começa a discurseira é a senha para ¨ir à casinha¨ e escapar da
chatice. Para quem pretende aderir a essa estratégia, recomendo sair do local
simulando atender uma ligação urgente no celular, caso seja flagrado por algum retardatário. Garanto que não falha nunca, mesmo para o sujeito
desatento como eu.
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