sábado, 21 de maio de 2016

Sobre pontualidade e fuga

Sou um obsessivo por horário.  Chego sempre com antecedência nos eventos, mesmo os familiares, razão pela qual sou criticado pelos de casa que deveriam, contrariamente, louvar minha pontualidade e considerá-la uma qualidade superior. Já ocorreu de chegarmos à casa de um familiar para um festivo almoço dominical e estarem todos dormindo ainda. Era quase meio dia, portanto não estávamos, eu e meus detratores caseiros, muito fora do horário estabelecido para o convescote.

Até tolero uma pequena margem no descumprimento dos horários, mas abomino aqueles que fazem do atraso uma atitude corriqueira, especialmente em solenidades oficiais. Consta que o ex-presidente Lula costumava atrasar-se, às vezes por mais de duas horas para os atos no Planalto. Alguns políticos acreditam que o atraso lhes confere uma importância que carecem ter em seus mandatos. Não é o caso de Lula, me apresso a afirmar, mas tanto o chá de banco que ele eventualmente provocava,  como os de outros agentes públicos menos votados, são reprováveis desrespeitos com os que são obrigados a esperar.

Já convivi com políticos que agem assim e com outros que, como eu, se pautam pelo cumprimento dos horários e cito como exemplo o prefeito José Fortunati que já flagrei chegando mais cedo do que eu em determinadas agendas.

No meu caso, essa obsessão pelo rigor com os horários certamente é herança dos tempos em que atuei em rádio e TV.  Foi naquele período que aprendi uma regra básica: programa que não está pronto no horário corre o risco de não ir ao ar. Outra regra é que o programa deve terminar no horário previsto. Quem trabalha com programação televisiva em rede sabe como funciona o esquema e ái daquele que não entrega para a rede no horário.

Pois a obsessão que desenvolvi a partir da vivência na mídia eletrônica me leva a cometer certos excessos, como chegar com muita antecedência a determinados eventos, devido mais a uma desatenção atávica a depor contra minha formação de repórter que um dia fui e que exigia checagem das informações. Já me mandei para a estrada para participar de um seminário em que deveria palestrar e encontrei fechado o local em cidade relativamente distante de Porto Alegre. O evento estava marcado para o mesmo sábado...na semana seguinte.  Recentemente cheguei 15 minutos atrasado para o lançamento de um livro que ocorreria uma semana depois.  Teria outros exemplos, mas fico por aqui, porque quando cai a ficha do equívoco a sensação é de que a goiabice está tomando conta.


Chegar cedo aos locais me permite, por outro lado, praticar com nível de excelência a manobra de fugar dos eventos chatos ou alongados, tática conhecida como saída à francesa. Funciona assim: circulo com desenvoltura pelos espaços, cumprimento a todos os que devem ser cumprimentados e um pouco mais, aceno aqui e ali e, concluído esse ritual, fico postado próximo à saída. Quando começa a discurseira é a senha para ¨ir à casinha¨ e escapar da chatice. Para quem pretende aderir a essa estratégia, recomendo sair do local simulando atender uma ligação urgente no celular, caso seja flagrado  por algum retardatário.  Garanto que não falha nunca, mesmo para o sujeito desatento como eu. 

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