sábado, 26 de dezembro de 2015

Histórias Curtas do ViaDutra: Vilmar, o atrevido

Vilmar é baixinho, feio, despossuído  financeiramente, não tem carro, nem veste roupas de grife, mas circula com as mais belas mulheres do pedaço, todas bem mais altas do que ele. Quem contou as aventuras do Vilmar num encontro na mesa ao lado foi seu primo Geneton que, como todos à mesa, também se surpreendeu com a sorte do rapaz.

- Sorte que nada! Para ter sucesso neste caso é preciso dedicação, determinação e coragem - ensina Vilmar, por intermédio do primo porta-voz.

O método de abordagem dele é simples e direto.  Nas festas  mapeia as mulheres mais caldáveis  e, como um artesão meticuloso e atrevido, encara uma a uma, numa tarefa que ele define como “tijolada”,  o que diz bem das intenções e do modo de agir do moço.  Se leva um fora da primeira, vai na segunda, se não der certo, tenta a terceira e assim por diante. Se nenhuma ceder aos seus parcos encantos, muda de festa,  recomeça as “tijoladas” e invariavelmente sai acompanhado, dirigindo o carro da nova parceira.  Jamais, porém, baixa de nível.

- As feias que me perdoem, mas para mim beleza é fundamental -  sustenta ele, apropriando-se de um verso de Vinicius de Moraes, em “Receita de Mulher”.

Vinicius é seu modelo pelas semelhanças físicas e sucesso com o naipe feminino, se bem que Vilmar leva vantagem na comparação porque não canta nem compõe,  as contas bancárias de ambos não guardariam qualquer relação de equidade e ainda assim  ostenta um portfólio de conquistas de dar inveja a muito poetinha.

Vilmar não revela o que fala para suas escolhidas, alegando,  um tanto blasé, que isso é de “somenos importância”, porque o que vale mesmo no momento da abordagem é a atitude.  “E mulher sabe reconhecer um homem de atitude”, completa, agora ostentando ligeira soberba.

O grupo que ouvia o relato reproduzido pelo Geneton chegou, entretanto, a uma conclusão:  Vilmar é bem sucedido porque não se abate com a rejeição, ao contrário, faz disso sua energia para novos enfrentamentos. 

Um dos parceiros da mesa aproveitou o exemplo para exercitar filosofia de boteco,  defendendo que assim pode ser na vida - cada percalço deve nos impelir  para o desafio seguinte.  A assertiva não teve a repercussão esperada entre os confrades, mais invejosos das vitórias do Vilmar e de sua autoestima imbatível  do que atentos à filosofada regada a cerveja.


É que também nos demos conta de que o sucesso de Vilmar  estava  igualmente relacionado à escalada de suas abordagens. Quanto mais tentativas, mais chances de pelo menos uma dar certo.  Simples assim, mas quem se arrisca?

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