quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Que crise!*

* Baseado em fatos reais

A crise econômica que ameaça o Brasil já chegou às finanças de todos nós.  Era inevitável e nem falo dos preços do essencial e do supérfluo nos supermercados e mercadinhos.  A gasolina disparou, a energia elétrica nos dá choque a cada conta e, com isso, toda a cadeia produtiva está validada para aumentar os preços dos seus produtos e serviços. 

Tive um exemplo prosaico dia desses quando precisei do sujeito que corta a grama lá de casa e ele me avisou, respeitoso, mas cheio de razão: “ Doutor,  não saio de casa por menas de 150 real.”  Assim mesmo, no singular e atropelando a gramática, e 50% acima do que cobrava anteriormente. Marchei bonito, antes que o mato encobrisse a morada.

O pior desse  perverso processo antipovo  são outras situações que tenho testemunhado, situações de puro constrangimento a pessoas próximas, que  até então esbanjavam otimismo e muita grana.  Uma querida amiga, por exemplo,  foi interpelada no Centro Histórico por um morador de rua, 
estabelecendo-se o seguinte diálogo:

- Tia,  uma moeda pro almoço...

- Também quero, respondeu a moça, que de tia não tem nada.

O interpelante ficou muito contrariado e resmungou qualquer coisa sobre a insensibilidade humana. Mas a verdade é que a moça, antes frequentadora dos espaços gourmet mais festejados, agora tem que se contentar com os bufetes à quilo,  mais requisitados pelos seus baixos preços  e de preferência os que oferecem um suco grátis.

E tem o caso do titular de importante e demandada banca advocatícia que encontrei à entrada de um restaurante categoria pé sujo e que me confessou que aderira ao prato feito e a  à la minuta do referido estabelecimento. “ Sai mais em conta, sabe como é, a coisa não tá fácil “,  afirmou com convicção, mas logo escapuliu para não ser visto  por eventuais clientes num local pouco recomendável.

Outro parceiro, conhecido por afetar gostos refinados em relação às bebidas, foi surpreendido no BIG agarrado a um fardinho de Kaiser e a um tinto nacional.  Logo ele, que se dava ao luxo de escolher entre uma Duvel belga e uma Backer tcheca, e só aceitava servir vinhos e espumantes que custassem mais de 100 dólares, conforme recomendação que assistira num desses tantos programas de gastronomia da TV.  “Saudade dos churrascos com picanha e file mignon.  Hoje é na base do salsichão e da coxinha da asa”, confidenciou, ligeiramente desolado,  ao amigo que deu o flagra.

Mais um case: senhora de nossas relações só conseguiu agendar uma diarista depois de recorrer a uma amiga professora...que indicou outra professora que transferira seu turno na escola pública para a noite e faxinava durante o dia. “Ganho muito mais como diarista do que como professora, porque não estava dando pra sobreviver”, explicou, neste caso sem qualquer constrangimento.


Pensei  cá com meus zíperes em relação aos outros casos: ‘Esse pessoal perde status, mas não perde a pose, será que inventaram a chinelagem chique?’, mas logo revisei minha posição e me coloquei solidário com todos os que os que entraram para o time dos despossuídos, mesmo que momentaneamente. Foi aí que entendi a política governamental de encurtar a distância entre a base e o topo da pirâmide social brasileira.  Pensava que era promovendo  a ascensão das classes mais baixas, mas na prática é isso e mais o rebaixamento acelerado do chamado andar de cima. Só que crise é igual a inflação e recessão e  pega em cima e embaixo, e aí é salve-se quem puder. 

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