* Reeditado a partir de original publicado em fevereiro de 2010, mas continua valendo.
Está aí o
Carnaval, que os antigos chamavam de Tríduo Momesco, e já me preparo para a
repetição das mesmas imagens, dos mesmos chavões, nas coberturas televisivas.
As telinhas serão invadidas por aqueles horrorosos bonecos gigantes de Olinda e
o repórter Francisco José, na sua aparição anual na TV, vai fazer os mesmos
comentários sobre a empolgação do Galo da Madrugada, a história do Homem da
Meia Noite e da Mulher do Dia, e por aí vai. O cabeça branca Francisco José já
deve ter decorado o texto, de tanto repetir as mesmas ladainhas sobre as mesmas
imagens.
No Rio e em São Paulo, o repeteco não é muito diferente. Os
enredos mudam e mostram novidades, mas a cobertura televisiva não apresenta
diferenciais. Ao contrário, evoluiu em tecnologia, mas falta aquela sacada, aquele
algo mais. Com um agravante: o naipe de comentaristas, gente da melhor estirpe,
não consegue emitir uma opinião conclusiva ou mais contundente, como se avaliar
criticamente o resultado do trabalho dos carnavalescos fosse um crime de lesa
cultura. E o que vemos é uma profusão de efeitos especiais para mascarar a
mesmice da transmissão burocrática, que não expressa a verdadeira dimensão da
grande festa popular.
Aqui, nosso Carnaval só evoluiu nos blocos de rua e parece
ter estacionado no passado nos desfiles das grandes escolas, tanto assim que
sobram ingressos para o Porto Seco. Além
disso, vou ser obrigado a conviver com duas pautas obrigatórias que se repetem
todos os anos. Uma é a do Rebanhão, aquele pessoal que prefere fazer retiro
durante o Carnaval e orar pela redenção dos pecadores e bota pecado nisso.
Parece que estou vendo o repórter fazendo seu boletim na igreja ali do Cristal,
tendo ao fundo os fiéis, mãos erguidas aos céus, entoando hinos sacros e muitas
rezas. A outra é o Carnaval no barro, de Santa Bárbara do Sul. Vocês já devem
ter visto as cenas do pessoal todo enlameado, por isso vou me abster de outras
considerações.
Diante deste quadro estou pensando em sugerir aos
pauteiros, chefes de reportagens e editores que poupem energia e recursos.
Busquem nos arquivos as imagens desses eventos em anos anteriores e coloquem no
ar, pode até repetir o texto, que vai dar na mesma.
De minha parte, já decidi: este ano vou me refugiar e
curtir minha rabugice em Curasal.
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