segunda-feira, 10 de março de 2025

Nossa histórica vocação para vice

*Publicado nesta data em Coletiva.net

Dentro de mais alguns meses começa pra valer a campanha eleitoral para os governos estaduais e a presidência da República. Antes mesmo da definição de nomes, se valer o histórico recente, já dá pra afirmar que não haverá gaúchos na primeira posição das chapas  presidenciais. A não ser que o postulante Eduardo Leite supere essa barreira, nossa vocação  para o poder, nas últimas décadas,  nos reserva apenas  o cargo de vice, nas candidaturas e nos governos. Período ditatorial à parte, a série começou com João Goulart, vice de JK e de Jânio, que acabou assumindo na renúncia do último. 

Mesmo nos governos militares, com três gaúchos na presidência, o general Adalberto Pereira dos Santos foi vice de outro riograndense, o general Ernesto Geisel. Era o tempo em que o colégio eleitoral passava pelos generais de quatro estrelas. 

Na redemocratização não faltaram candidatos gaúchos a vice em chapas à direita, à esquerda e ao centro. 

Luciana Genro foi exceção, disputando a presidência pelo PSOL em 2014. Ficou em quarto lugar. No mesmo ano, Beto Albuquerque foi escolhido para vice na chapa de Marina Silva  com a morte de Eduardo Campos. A dobradinha entrou em terceiro

Nada supera, porém, a eleição de 2018 na presença de vices gaúchos nas chapas à presidência. Das 13 candidaturas à época, cinco tinham vices daqui e um deles até foi bem sucedido, o Mourão, companheiro de chapa de Bolsonaro. Manuela, vice de Haddad, pelo menos foi para o segundo turno. Ficaram pelo caminho Ana Amélia, da chapa de Alckimin, Rigotto, de Meirelles e até o desconhecido Léo da Silva Alves, vice de João Goulart Filho, candidato à presidência por um certo PPL. Ah, teve o eterno José Maria Eymael, “um democrata cristão”, porto-alegrense, que foi candidato pela quinta vez à presidência. Pela insistência, fica o registro.

Dois outros registros importantes: em 2006, Rigotto tentou viabilizar sua candidatura presidencial pelo então PMDB, mas acabou perdendo a indicação para Garotinho, assim como Eduardo Leite foi preterido por João Doria na disputa pela cabeça de chapa do PSDB na eleição de 2022. Os dois casos vêm a confirmar que o teto dos políticos gaúchos não é a primeira posição.

Esse levantamento mostra, ainda, que não é de hoje que o Rio Grande vem perdendo espaço nos círculos de decisão do poder central. Atualmente, na Câmara e no Senado nenhum gaúcho preside comissões importantes, as presidências das casas nem pensar e o único ministro daqui, Paulo Pimenta, foi defenestrado por Lula, trocado por um Sidônio qualquer. Tudo isso mostra fundamentalmente que a maior crise que afeta o nosso estado é de lideranças, o que acaba impactando no desenvolvimento da região. Eis uma questão que certamente precisa ser mais aprofundada. Por ora, vale registrar a mais recente pesquisa da Genial/Quaest, que, mesmo apresentando o governo e o governador Leite como bem avaliados, aponta que apenas 32% dos gaúchos pesquisados dizem que o Estado está melhorando, contra 52% que avaliam que o Rio Grande está parado e 15% têm a percepção que está piorando. 

Resta torcer e trabalhar para que a próxima eleição seja o marco zero para a mudança que o Rio Grande amado tanto necessita.


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