*Publicado nesta data em Coletiva.net
*Baseado numa história real
O homem ficou intrigado com o que viu nas gondolas de bebidas alcoólicas do supermercado. A senhorinha, aparentando seus 90 anos, escolheu, sem muita hesitação, uma garrafa de cachaça, acrescentando ao carrinho junto à barra de chocolate e aos dois pãezinhos. Curioso com o desdobramento da ação, ele acompanhou a veterana até a caixa. Lá chegando, a atendente passou os produtos pelo sistema, mas o valor excedia às notas amarrotadas que ela retirou da velha bolsinha. Em seguida, sem demonstrar contrariedade, a nonagenária pediu à moça:
- Então pode retirar o chocolate.
Foi aí que o homem decidiu intervir e, generosamente, se dispôs a integralizar o que faltava em dinheiro no pequeno rancho, o que nem era uma grande quantia.
- Receba como um presente de Natal meu, - completou.
A senhorinha agradeceu – “brigado, meu filho” - e deixou o homem faceiro pela boa ação, mas com uma dúvida pertinente, que a guria da caixa não conseguiu esclarecer:
- Ela vem todas as semanas, escolhe sempre a mesma marca de cachaça, fico louca de vontade de perguntar o que ele faz com a bebida, mas não tenho coragem,- esquivou-se a atendente.
O homem, que não era propriamente um consumidor de destilados, mas conhecia o teor alcoólico das bebidas, calculou que o produto adquirido por sua beneficiária deveria ter, no mínimo, uma graduação de 40%.
Isso só aumentou a curiosidade dele. Qual destino a senhorinha daria aquela cachaça? Seria para consumo próprio? Ele procurou afastar mentalmente essa hipótese. “Um absurdo”, pensou. Ou estaria atendendo ao pedido de seu companheiro, ele sim um contumaz apreciador de cachaça, talvez mais do que deveria? Quem sabe era item indispensável em alguma receita culinária da simpática senhora? Ou, ainda, a bebida poderia fazer parte de algum ritual religioso?
Consumido em dúvidas, o homem teve, entretanto, um momento de intima alegria, ao se dar conta que, de alguma forma, contribuíra para a felicidade da velha senhora. Afinal, era tempo de Natal e o pequeno gesto dele pode ter feito uma grande diferença para ela, mesmo presenteando com uma garrafa de cachaça, que ele torceu para que fosse usada para fazer a felicidade de mais gente, de preferência em saborosos quitutes para a ceia natalina.