segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Tiro no pé e uma benesse

*Publicado nesta data em coletiva.net

Sou do tempo em que os governantes em início de mandato ganhavam 100 dias de isenção à críticas, depois dos quais tinham necessariamente de mostrar os primeiros resultados de sua administração. Desconheço qual o critério para estabelecer que uma centena de dias seja o prazo adequado para que os projetos comecem a sair do papel e virem programas e políticas de governo, mas, enfim, era a pauta obrigatória da mídia.

O que observo agora no governo que assume em Brasília que os tais 100 dias foram desrespeitados já no primeiro dia de gestão. Não teve lua de mel. É cobrança desde já, não é governo de continuidade, muito pelo contrário, e a polarização que vem marcando as disputas eleitorais e dividindo o país, se refletem na mobilização contrária, até mesmo com episódios radicais como o do domingo retrasado.

A grande mídia, viciada na crítica permanente durante o governo Bolsonaro – que contribuía para isso, sem dúvida – agora precisa satisfazer, por um lado, essa necessidade de cobrança, e, por outro, mostrar que é independente e exerce seu senso crítico, não importando quem são os poderosos do momento.  

O governo Lula padece nesta arrancada porque não consegue uma comunicação uniforme, nem integração imediata.  Com seus 37 ministros, representando 12 diferentes partidos, isso fica bem difícil. E o deus Mercado de olho, desconfiado. Haja reunião ministerial para alinhamento!

Aí os bolsonaristas radicais, bando de aloprados, decidem depredar os prédios dos Três Poderes, num simulacro de golpe e entregam ao governo o que ele não estava conseguindo: coesão interna e apoio externo. Um verdadeiro. tiro no pé para os vândalos.  Mesmo assim, o governo paga um preço pela benesse, pois ela tirou o foco do que estava para ser anunciado nos primeiros dias e trouxe desgaste pela repercussão das prisões em massa, inclusive de crianças e idosos, além do jogo de empurra sobre quem foi mais omisso.

Assim, o capital de boa vontade, tolerância e adesão conquistado, pode se esgotar rapidamente, se a ação governamental não colocar a máquina estatal a funcionar; se não cumprir, de alguma forma, as promessas de campanha, como, por exemplo, um salário mínimo ligeiramente turbinado. Caso contrário, vai precisar de mais de 100 dias para mostrar alguma coisa. E a data cabalística, ao invés de uma meta, passa a ser uma arapuca.

Deixo o aprofundamento da análise para os especialistas, sabendo que, na real, vamos apelar para o chamado distanciamento histórico, a fim de avaliar melhor o que significou, em toda a sua extensão, o 8 de janeiro com seus desdobramentos. Talvez em 100 dias se possa ter as devidas respostas.

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