segunda-feira, 18 de abril de 2022

Golpistas em ação - II

 * Publicado nesta data em coletiva.net

A fraude virou esporte nacional, com vários agentes e muitas vítimas. Ninguém está livre de entrar no rol dos vitimados e todos os dias pipocam mais e mais golpes, como destaquei na coluna de 2 de abril, aqui na coletiva.net, ao tratar das séries de streaming sobre golpistas internacionais.

A fraude não tem preconceito de idade, gênero, classe social ou qualquer outro.  A diarista aqui de casa, por exemplo, queria abrir uma conta bancária para fazer um depósito e  ter acesso a uma grana no exterior. Foi contida a tempo.  Médico conhecido da família, profissional experiente, também foi  contido a tempo antes de fazer um depósito para os “sequestradores” da sua filha. E foi impedido por acaso, justo pela “seqüestrada”, que viu ele entrar na agencia bancária esbaforido e foi conferir o que estava ocorrendo.  Menos sorte teve outro amigo, jornalista graduado, que perdeu todas as suas economias num investimento, que se revelou depois era do tipo pirâmide financeira, que acabou ruindo com o capital investido e o retorno prometido.  Todos os dias tem alguém alertando para o hackeamento de seu perfil nas redes sociais e os pedidos de dinheiro emprestado para pagar uma conta urgente.  

De novo, todos, todos mesmo, somos potenciais vítimas de um golpe financeiro.  Até mesmo um especialista em detectar fraudes, como o pesquisador americano Stephen Greenspan, Phd em Psicologia pela Universidade de Rochester, autor do livro que poderia ser traduzido por “Anais da credulidade: por que somos enganados e como evitar isso”, que acabou descobrindo que fora vítima de um dos maiores esquemas de fraude financeira da história.  O bom professor havia dado suas economias nas mãos do operador financeiro Bernie Madoff, que administrava um Esquema Ponzi, espécie de pirâmide financeira, como a que consumiu a grana do jornalista referido antes. Quando o esquema foi  descoberto, Madoff acabou preso e condenado a 150 anos de cadeia, depois do estrago que comprometeu as finanças de cerca de 37 mil pessoas, entre celebridades de Hollywood e pessoas comuns que haviam confiado a ele suas economias de vida.

A questão é: por que tanta gente, inclusive as mais esclarecidas e que conhecem os sinais, acabam caindo em tantos golpes? Os especialistas em psicologia dos golpes apontam algumas hipóteses: a dificuldade de perceber quando estamos sendo enganados, associada ao medo de perder uma oportunidade que outras pessoas estão aproveitando, ou seja, os golpistas anunciam, seus esquemas como algo singular, extraordinário, que pouca gente descobriu até agora, mas que está  prestes a estourar e aí pode ser tarde demais para participar. Criam um senso de urgência e levam as pessoas a agir antes de pensar. Tá pronto para o golpe.

Existem ainda outros fatores que facilitam as fraudes, como ir ganhando a confiança da vítima aos poucos, extraindo dados que depois serão usados contra ela, além da vergonha em denunciar que caiu num golpe – estudos mostram que 40% das vítimas das fraudes não contam o que aconteceu para ninguém.

E o que dizer dos engodos oficializados, ou golpes estruturados para usar uma expressão da moda, mascarados de benefícios, com os tais empréstimos consignados para os aposentados, créditos a correntistas de baixa renda que ficarão impagáveis, serviços contratados de operadoras de telefonia entregues pela metade ou nem isso, e outros tantas sacanagens e tão banalizadas que a gente nem se dá conta?

Tais golpes, institucionalizados ou não, tendem a se proliferar em tempos difíceis como os de agora. Desemprego em alta, inflação abalando o poder aquisitivo, pandemia ainda presente, são condições ideais para fraudadores, que “vendem” formas de superação dessas adversidades. 

O desconfiômetro deve ser ligado sempre que algo parece ser bom demais para ser verdade, porque de fato muitas vezes não é verdade.  Parece simples assim, mas não é, até porque realidade e ficção estão cada vez mais  embaralhadas, ou como adverte, na abertura dos capítulos, a série Inventando Anna, sobre uma golpista internacional: “Esta é uma história totalmente verídica, exceto pelas partes que foram completamente inventadas”. Viva-se com uma incerteza dessas!

 

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