* Publicado nesta data em coletiva.net
A fraude virou esporte
nacional, com vários agentes e muitas vítimas. Ninguém está livre de entrar no
rol dos vitimados e todos os dias pipocam mais e mais golpes, como destaquei na
coluna de 2 de abril, aqui na coletiva.net, ao tratar das séries de streaming
sobre golpistas internacionais.
A fraude não tem
preconceito de idade, gênero, classe social ou qualquer outro. A diarista aqui de casa, por exemplo, queria
abrir uma conta bancária para fazer um depósito e ter acesso a uma grana no exterior. Foi
contida a tempo. Médico conhecido da família,
profissional experiente, também foi
contido a tempo antes de fazer um depósito para os “sequestradores” da
sua filha. E foi impedido por acaso, justo pela “seqüestrada”, que viu ele
entrar na agencia bancária esbaforido e foi conferir o que estava
ocorrendo. Menos sorte teve outro amigo,
jornalista graduado, que perdeu todas as suas economias num investimento, que
se revelou depois era do tipo pirâmide financeira, que acabou ruindo com o
capital investido e o retorno prometido.
Todos os dias tem alguém alertando para o hackeamento de seu perfil nas
redes sociais e os pedidos de dinheiro emprestado para pagar uma conta urgente.
De novo, todos, todos
mesmo, somos potenciais vítimas de um golpe financeiro. Até mesmo um especialista em detectar
fraudes, como o pesquisador americano Stephen Greenspan, Phd em Psicologia pela
Universidade de Rochester, autor do livro que poderia ser traduzido por “Anais
da credulidade: por que somos enganados e como evitar isso”, que acabou
descobrindo que fora vítima de um dos maiores esquemas de fraude financeira da
história. O bom professor havia dado
suas economias nas mãos do operador financeiro Bernie Madoff, que administrava
um Esquema Ponzi, espécie de pirâmide financeira, como a que consumiu a grana
do jornalista referido antes. Quando o esquema foi descoberto, Madoff acabou preso e condenado a
150 anos de cadeia, depois do estrago que comprometeu as finanças de cerca de
37 mil pessoas, entre celebridades de Hollywood e pessoas comuns que haviam confiado
a ele suas economias de vida.
A questão é: por que
tanta gente, inclusive as mais esclarecidas e que conhecem os sinais, acabam
caindo em tantos golpes? Os especialistas em psicologia dos golpes apontam
algumas hipóteses: a dificuldade de perceber quando estamos sendo enganados,
associada ao medo de perder uma oportunidade que outras pessoas estão
aproveitando, ou seja, os golpistas anunciam, seus esquemas como algo singular,
extraordinário, que pouca gente descobriu até agora, mas que está prestes a estourar e aí pode ser tarde demais
para participar. Criam um senso de urgência e levam as pessoas a agir antes de
pensar. Tá pronto para o golpe.
Existem ainda outros
fatores que facilitam as fraudes, como ir ganhando a confiança da vítima aos
poucos, extraindo dados que depois serão usados contra ela, além da vergonha em
denunciar que caiu num golpe – estudos mostram que 40% das vítimas das fraudes
não contam o que aconteceu para ninguém.
E o que dizer dos
engodos oficializados, ou golpes estruturados para usar uma expressão da moda, mascarados
de benefícios, com os tais empréstimos consignados para os aposentados,
créditos a correntistas de baixa renda que ficarão impagáveis, serviços
contratados de operadoras de telefonia entregues pela metade ou nem isso, e
outros tantas sacanagens e tão banalizadas que a gente nem se dá conta?
Tais golpes,
institucionalizados ou não, tendem a se proliferar em tempos difíceis como os
de agora. Desemprego em alta, inflação abalando o poder aquisitivo, pandemia ainda
presente, são condições ideais para fraudadores, que “vendem” formas de
superação dessas adversidades.
O desconfiômetro deve
ser ligado sempre que algo parece ser bom demais para ser verdade, porque de
fato muitas vezes não é verdade. Parece
simples assim, mas não é, até porque realidade e ficção estão cada vez
mais embaralhadas, ou como adverte, na
abertura dos capítulos, a série Inventando Anna, sobre uma golpista
internacional: “Esta é uma história totalmente verídica, exceto pelas partes
que foram completamente inventadas”. Viva-se com uma incerteza dessas!
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